23
Jan21
A SANGUE FRIO
Maria João Brito de Sousa
A SANGUE-FRIO
*
Longos, longos dias de cinza vestidos
São tão mais compridos quão mais são vazias
As horas tardias dos tempos perdidos
Sem versos corridos e sem melodias.
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Sem fugas, sem vias, nem novos sentidos,
Alastram sofridos tédios, agonias,
Neutras sinfonias de sons repetidos
Tão só pressentidos, se acaso os ouvias.
*
Eis as pandemias tiranas e cruas
Que invadem as ruas, as casas, os quartos...
Medrosos mas fartos, lançamos-lhes puas,
*
Compramos gazuas, sonhamos com partos,
Sofremos enfartos gemendo em cafuas;
Ó almas já nuas, seremos lagartos?
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Maria João Brito de Sousa - 23.01.2021 - 11.50h