SONETO III - Lviz Vaz de Camões
Ilustração de Norman Rockwell
enviada para o meu endereço electrónico por Pinterest
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SONETO III
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Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
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É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.
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Estando em terra, chego ao Céu voando,
nũ’ hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar ũ' hora.
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Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
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Luís de Camões
in Rimas
Texto estabelecido, revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994
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SONETO III
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Alínea M
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"Tanto de vosso estado me acho incerta"
que acautelada fico e desconfio
de quanto me dizeis. Se vos sorrio,
de gentileza, apenas, faço oferta...
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Não sei, Senhor, se me tomais por certa,
nem se há verdade em vosso desvario,
mas sei que em caso algum eu desafio
suspeição que me instigue a estar alerta...
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Mantende os pés na terra e não cuideis
de ao Céu chegar por mor de haverdes visto
meu vulto na janela debruçado;
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Meus predicados, não os conheceis
e, na verdade, nem me sois benquisto
que a outro eu hei, Senhor, por mais amado.
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Mª João Brito de Sousa
31.01.2021 - 00.10h
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