SONETO BÁRBARO
SONETO BÁRBARO
Pedem tónicas na sétima? Cá vão elas, cá vão elas,
A dançar, deselegantes, como bandos de elefantes
Que às doze não chegarão, nem estarão perto de tê-las,
Mas vale a pena tentar, mesmo que em versos gigantes
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Solfejando um “dó-de-mim” sobre umas linhas singelas,
Construir algumas delas que nos soem mais cantantes,
Sabendo que não serão, nem de longe, coisas belas,
Antes são, em vez de estrelas, versos muito dissonantes.
*
A musiqueta, essa, foi-se desta pauta putativa
Que, para manter-se viva, dá por cada verso, um coice
E - juro! - a gente condói-se, se de harmonia se priva!
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Eis a música cativa, já sem martelo e sem foice,
Dando coice atrás de coice na pobre da comitiva
Que jamais foi punitiva! Mas o soneto constrói-se!
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Maria João Brito de Sousa – 09.11.2017 – 10.00h
NOTA – Chama-se BÁRBARO a todo o soneto composto por versos de mais de doze sílabas métricas. Este é composto, na sua totalidade, por dois hemistíquios (metades de um verso) de sete sílabas métricas, o que, como poderão verificar, nem sempre resulta num verso de catorze sílabas métricas, dadas as palavras proparoxítonas (esdrúxulas) utilizadas na sua construção, bem como à dificuldade em criar um ponto neutro (átono) entre os dois hemistíquios de cada verso.