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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
09
Mar22

SÓ MAIS UM MOMENTO, QUE TUDO É TÃO BELO!

Maria João Brito de Sousa

Fotografia de meu pai.jpg

Fotografia de António Pedro Brito de Sousa, 1952

*

SÓ MAIS UM MOMENTO, QUE TUDO É TÃO BELO!
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Maria João Brito de Sousa

1.
*

Ó tempo amigo que vais a fugir

Não vás tão depressa que quero olhar

O sol cristalino que está a brilhar

Ali sobre o monte já todo a florir
*


E aquela avezinha com asas a abrir

Que leva sustento para alimentar

O seu filho amado no ninho a piar

Pára um instante, deixa-me sorrir

*

Fica aqui comigo que ao longe o poente

Vai iluminado a encantar a gente

Com o mar ao fundo, não estás a vê-lo?

*

Apressado tempo, uns segundos mais

Que o que vejo agora não vejo jamais

Só mais um momento que é tudo tão belo!
*

Custódio Montes

7.3..2022
***

2.
*
"Só mais um momento que tudo é tão belo"

Aos humanos olhos e aos da Poesia

Que tudo contempla, que tudo (re)cria,

Que tudo interpretra pra poder escrevê-lo...
*


Dá-nos tempo, Tempo, pra melhor vivê-lo;

Cada tarde quente, cada noite fria,

Cada madrugada será fonte e guia

De grande alegria, de um cantar singelo
*


Se o meu coração fraco e remendado

Sugerir que é tempo de parar... cuidado!,

Estando avariado, nem sabe o que diz,
*


E eu inda que esteja fraca e consumida,

Tropeço mas peço um pouco mais de vida;

Por pouco que seja, far-me-ás feliz!
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 12.45h
***

3.
*

“Por pouco que seja, far-me-á feliz”

Que o tempo alegra, prende o coração

A gente olha o tempo, presta-lhe atenção

Em toda a idade, já desde petiz
*


Vem a tempestade, verga-se a cerviz

Recolhe-se a casa para protecção

Mas vai-se à janela e vê-se o trovão

O tempo ensina e é-se aprendiz
*


Se chove por vezes, também nos agrada

Ao sentir-se o cheiro a terra molhada

O sol que nos cobre, as flores a abrir
*

O mar ondeando e a bater na areia

À volta a andorinha, a voar passeia

Crianças que saltam contentes a rir
*


Custodio Montes

7.3.2022
***

4.
*

"Crianças que saltam contentes a rir"

Fomos noutros tempos que não voltam mais

Que avós nos tornámos - duas vezes pais...-

De crianças, outras, que hoje são porvir
*


Pois é sempre tempo de substituir

Plantas já esgotadas, velhos animais...

Mas abranda, Tempo, não corras demais,

Dá-me mais um tempo pra te usufruir!
*


Não te peço nada que dar-me não possas

Sem quebrar a sina destas vidas nossas;

Vivi muitos anos, vou para os setenta,
*


Mas se um poucochinho lhes acrescentares,

Não me zango - juro! - quando mos cobrares;

Em versos tos pago, se o seu preço aumenta!
*

 


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 15.40h
***

5.
*

“Em versos tos pago, se o seu preço aumenta!”

Anda, sê bonzinho mas mais devagar

Ao me dares tempo para eu sonhar

O sonho ao vir o poema acalenta
*


Se a vida for longa mesmo aos oitenta

O verso melhora, tem de melhorar

Com experiência a forma de amar

É muito mais rica e mais suculenta
*


Rodeia-se o campo, andando ao redor

Enfeita-se o prato, com graça e amor

Com tudo o que vemos vem-nos o poema
*


O tempo que passa, vai sempre a correr

E devagar indo melhora-se o ver

Assim se encontrando bem melhor o tema
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

6.
*

"Assim se encontrando bem melhor o tema",

Que o vate envelhece tal qual o bom vinho

Que encorpa e que adoça nas pipas de pinho

Ao longo dos anos e ao som de um poema...
*


Dá-nos mais um tempo! Vês nisso um problema?

Desprezas-nos tanto que num minutinho

Vejas um milénio? Vá, vem de mansinho

Dar-nos, Tempo infindo, essa graça suprema!
*


Enquanto decides se sim ou se não,

Nós aproveitamos, dessa hesitação,

Segundos que sejam... Tudo se aproveita
*


Se o tempo que temos promete ser escasso,

Um verso sem Tempo transforma-se em Espaço

No qual se semeia, fecunda, a colheita
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 17.30h
***

7.
*

“No qual se semeia, fecunda, a colheita”

Para dar bom fruto tão apetitoso

Que ao comê-lo a gente fica mais guloso

E, saboreando-o, mais satisfeita
*


À vista, o poema é que nos deleita

Ao ver-lhe os detalhes e o porte pomposo

O tempo o eterniza e torna famoso

E o leitor ao lê-lo todo se deleita
*

Para isso o tempo é o principal

Que às vezes sem tempo conjuga-se mal

Estão as palavras, o verso aparece
*


Sem os ornamentos que merece ter

Com sobejo tempo melhor se há-de ver

E o próprio poema até envaidece
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

8.
*

"E o próprio poema até envaidece"

Se o tempo lhe sobra em vez de em corrida

Fazer seu cantante percurso de vida

Até que no fim se cala e fenece
*

Mas este poema correndo se tece

Temendo que o Tempo lhe pregue a partida

De o parar a meio da estrofe tecida,

Que às manhas do Tempo, nem ele as conhece...
*


Ou será a Musa, essa aventureira,

Que o vai empurrando de qualquer maneira,

Sem deixar que cuide da sua aparência?
*


Não sei quem comanda este absurdo galope

Que nada respeita - nem sinais de "STOP"-

Como se um poema fosse uma emergência!
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 19.25h
***

9.
*

“Como se um poema fosse uma emergência”

Atrás de corrida sempre sem parar

Sem seu condimento para alimentar

A beleza à volta como numa urgência
*


Para que o poema tenha competência

Ao ser burilado deve contemplar

O que o rodeia e depois brilhar

Para ser amado na sua envolvência
*


Tudo tem um tempo para se tecer

E a dobadoira sempre em seu correr

O fio envolvendo para o seu destino
*


Sempre, sempre a jeito com muita alegria

Mostrando na forma toda a harmonia

E no conteúdo gosto genuíno
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

10.
*

"E no conteúdo gosto genuíno"

De que seda ou linho não vão prescindir

No momento exacto de o ver, de o sentir,

De lê-lo em silêncio, de cantá-lo em hino,
*


Quem sabe "a capella", ao toque do sino,

Sem hora marcada, mas pronto a servir

Quem souber ouvi-lo sem lhe resistir,

Tal qual fosse débil choro de menino...
*


E é desta surpresa que alimento o verso,

Que o tomo nos braços, que o deito no berço,

Que o vejo partir e que lhe digo adeus
*


Porque os versos partem, seguem seu caminho

E logo outros vêm muito de mansinho

Deitar-se nos berços que tomam por seus
*

 

Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 22.10h
***
11
*

“Deitar-se nos berços que tomam por seus”

Mas ao se deitarem sem ver o colchão

Coitados dos versos como se verão

Sem cama nem tecto à chuva dos céus
*


E acorrentados presos como réus

Assim espalhados deitados ao chão

Tão abandonados sem muita atenção

Lá se vão embora, dizem-nos adeus
*


Eu quero que fiquem enramalhetados

Presos uns aos outros como enamorados

Todos misturados e engrandecidos
*


Não os quero soltos e ao deus-dará

Antes em poemas como um bom maná

Muito apreciados quando forem lidos
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

12.
*

"Muito apreciados quando forem lidos",

Vão fintando o Tempo enquanto se espraiam

Na tela ou na folha, conforme nos saiam

Nervosos dos dedos por vezes doridos
*


E quando na tela formam coloridos

Padrões tentadores e sons que desmaiam

Ou sobem crescendo até que enfim caiam

Ficando gravados nos nossos sentidos...
*


Que tempo nos resta antes que Morfeu

Tente vir impor-nos um tempo que é seu

E estes nossos olhos se cerrem cansados?
*


Hei-de resistir-lhe não sei até quando

Embora, confesso, vão já hesitando

Os versos que há pouco corriam estouvados
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 23.50h
***

13.
*

“Os versos que há pouco corriam ‘stouvados”

Mas agora o tempo já está a findar

Começou a noite e é melhor sonhar

E parar os versos que andam cansados
*


Ao vir a manhã com eles acordados

Damos outra volta pra recomeçar

Uns atrás dos outros ou a par e par

Muito bem compostos, bem emalhetados
*


Mas tudo sem pressa como um passatempo

E bem divertidos dando tempo ao tempo

Burilando o verso a dar graça ao poema
*

Que o poeta encante e faça divertir

Teça bem a teia, fazendo sorrir

Que a palavra encante como é seu lema
*

Custodio Montes

8.3.2022 (mesmo a começar…)
*

14.
*

"Que a palavra encante como é seu lema",

Que nos apaixone e nos abra horizontes

Jorrando graciosa de todas as fontes,

Gotinha a gotinha, fonema a fonema,
*


Até transformar-se num belo poema

Que derrube muros, que construa pontes,

Que atravesse rios, campinas e montes

E os demais percalços que o verso não tema
*


Hesito, dormito, que o sono já pesa

Até sobre a Musa que jaz sobre a mesa

Exausta, rendida, deitada a dormir...
*


Vês o que me arranjas só porque te peço

Mais um tempo, um nada que em momentos meço,

"Ó Tempo amigo que vais a fugir"?
*


Mª João Brito de Sousa

08.03.2022 - 01.25h
***

 

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