06
Fev17
SILÈNCIO(S)
Maria João Brito de Sousa
Neste silêncio triste embalo os mortos
Entre asas fracas, flácidas, pendentes,
E sobre este regaço, os mesmos hortos
De onde ervas emanavam, persistentes,
Cobrem-se já de caules secos, tortos,
Negros, mirrados, quase transparentes,
Quais longos mastros nos distantes portos
Da rota imaginária dos ausentes...
É outra, no entanto, a minha rota,
E se hoje reavivo a estranha frota,
Razões bem fortes tenho pr`a fazê-lo,
Pois muito se assemelha ao que descrevo
A angústia de não ter para o que devo,
Embora eu mude o esboço a cada apelo.
Maria João Brito de Sousa - 06.02.2017 - 13.23h