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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
09
Jan24

SERVIDO AO POSTIGO- Mª João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Servido ao postigo (1).jpg

Imagem cedida por Jay Wallace Mota

*

SERVIDO AO POSTIGO

*
Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa (Oeiras, Portugal) e Jay Wallace Mota (Belém, Brasil)
***
1
*

Trago um soneto servido ao postigo;

Vá prá fila senhor concidadão

Tal qual como se fosse comprar pão

Ou tomar um café... sem um amigo.
*


Adquira um verso ou qualquer outro artigo

Pois passa o meu postigo a ser balcão

De um boteco de esquina sem patrão,

Sem tecto, sem cadeiras, nem abrigo...
*


Vou servir-lho no copo descartável

De um protesto que sei incoerente,

Mas que se vai tornando inevitável
*


Pois já não sei se sei s`inda sou gente

Se apenas sou mais uma variável

De uma curva ascendente ou descendente...
*


Maria João Brito de Sousa - 12.03.2021 - 11.21h
*

(em co-autoria com a minha irreverentíssima Musa)
***

2.
*

De uma curva ascendente ou descendente,

Depende o mundo todo, a cada dia,

Pra ver a evolução da pandemia

E decidir os passos para frente.
*

 

Mostrados em escala contundente,

Os gráficos revelam uma fria

Maneira de medir essa agonia

Porque só mostram números, não gente!
*

Mas o que posso ver pelo postigo

Pelo qual te proteges num abrigo,

Em um modo de agir tão consciente,
*

Que mesmo eficaz, frente a bruma turva,

Pouco importa a tendência da tal curva,

Tu serás variável dependente!
*

 

Belém, 14 de março de 2020.

Jay Wallace Mota
***

3.
*

"Tu serás variável dependente"

De uma resiliência natural

Hoje bem burilada por um mal

Que caiu sobre ti e toda a gente
*


E hás-de conseguir ser paciente

Pois verás que o convívio virtual

Embora bem mais pobre que o real,

É também fuga ao medo deprimente.
*


Se ao postigo me serves os teus versos

Nestes tempos tão duros, tão adversos,

Espero que, um dia, mos sirvas em mão...
*


Terá de haver um fim para a clausura

Ou morreremos todos desta cura

Porque também nos mata a solidão.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 11.32h
***

4.
*

Porque também nos mata a solidão,

Ao nos trancar qual fôssemos cativos

Que, a falta de melhor definição,

Nos torna verdadeiros mortos-vivos!
*

 

Não que me contraponha à solução,

Que nos impõe limites restritivos,

Os quais aceito, até sem coerção,

Pois vejo os resultados positivos.
*

Porém, o que de fato já me assusta

É perceber a forma, sempre injusta,

Que não distingue os fortes dos mais fracos;
*


Quando se impõe iguais obrigações

Aos poucos que se isolam em mansões

E a tantos que se juntam em barracos!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

5.
*

"E a tantos que se juntam em barracos"

Insalubres, tão pobres que um só pão

Se divide por cinco, à refeição

Que foi servida em louça feita em cacos.
*


Dormem no chão embrulhados em sacos,

Que muitos del`s não têm nem colchão

E, por mais que procurem solução,

Não conseguem tapar tantos buracos.
*


Do outro lado, em casas luxuosas,

Parece essa clausura um mar de rosas

Entre edredões de penas e o regalo
*


Das refeições servidas em bandejas;

Lagosta, caviar e, enfim, cerejas

Pr` acompanhar um Porto*, dos "de estalo"!**
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 17.31h
*

* Vinho do Porto


***

6.
*

“P’ra acompanhar um Porto, dos de estalo”,

Para valorizar a refeição,

Que come sem sequer dar atenção

Aos números que assiste sem abalo!
*

 

Ignora que chegou-se ao gargalo

De um sistema em completa lotação,

Gerido por um louco fanfarrão,

Com quem ele costuma ir no embalo;
*

 

Bradando sempre contra o isolamento,

Pois só pensa em seu próprio rendimento;

Crítica os exageros sem motivos!
*

 

E enquanto toma um vinho envelhecido,

Vê seu trabalhador, todo espremido,

Exposto nos transportes coletivos!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

7.
*

"Exposto nos transportes colectivos"

Como se fosse carne pra canhão,

Não gente com família e coração

E que é suporte dos que inda estão vivos.
*


Esses que afinal são os mais activos

Dos alicerces vivos da nação,

Vão sendo destratados sem razão

E sem medicação nem lenitivos
*


Vão tombando às dezenas, aos milhares,

Nas valas que os civis e militares

Vão abrindo e fechando sem parar.
*


Será que são deveras descartáveis

As vidas desses pobres miseráveis

Que sufocam assim, sem pinga de ar?
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021- 20.03h
***

8.
*

 

“Que sufocam assim, sem pinga de ar”

E passam a sentir dentro do peito

O tempo que se torna mais estreito

Que o tempo que dispõe pra procurar
*

 

Sem nada e sem ninguém com quem contar

Procuram encontrar de qualquer jeito

Nos hospitais lotados algum leito

Até morrer nas filas sem achar!
*

 

E justo quando já se tem vacina

O moribundo chora, se lastima

E luta pra ficar firme na raia...
*

 

Mas sem quem possa ouvir seu choro rouco,

Ele vai se entregando pouco a pouco,

C’a sensação de quem morre na praia!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.(18:37h).

Jay Wallace Mota.
***

9.
*

"C`a sensação de quem morre na praia"

Junto com a revolta que brotava

Do peito imóvel que antes ofegava

Como potro selvagem preso à baia.
*

 

Na contra-mão da vida, a morte ensaia

Uma dança letal que ninguém trava;

Já não respira alguém que respirava

E a espécie humana torna-se a cobaia
*

 

Da procura imp`riosa duma cura

Que ninguém sabe se será segura,

Ou se pode trazer um novo p`rigo
*


E enquanto o "jogo" assim se desenrola,

Eu, que não passo de uma velha tola,

Componho uns versos pra venda ao postigo...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 22.39h
***
10.
*

“Componho uns versos pra venda ao postigo...”

É sempre o que me dizes quando assunto,

Ou se indiscretamente te pergunto

Por que te isolas dentro deste abrigo!
*


Parece até que vives de castigo!

Ou será que não queres ninguém junto?

Que possa intrometer-se no conjunto;

Aquele que a tal musa faz contigo!
*


Não penso mexer nessa sintonia,

Mas quando terminar a pandemia,

E todos nos livrarmos desse medo,
*

Prometo, e vou cumprir tudo que digo,

Depois de escancarar esse postigo,

Vou ver, além da porta, o teu segredo!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

11.
*

"Vou ver, além da porta, o teu segredo"

Que não é mais do que uma minudência

Pr`aliviar o Estado de Emergência

Que fechara o comércio. E, que degredo!,
*


Só ao postigo é que, de manhã cedo,

Algumas lojas servem, com prudência,

Aquilo que esta nossa impaciência

Exigia normal, esquecendo o medo...
*


Esta medida, muito discutida,

Foi depois pelos "media" difundida...

Julguei que se soubesse, por aí,
*


Que os postigos, aqui em Portugal,

São os reis deste novo não-normal...

(sirvo, ao postigo, aquilo que escrevi)
*

 

Maria João Brito de Sousa - 16.03.2021 - 10.59h

***

12.
*

 

“(sirvo, ao postigo, aquilo que escrevi)”

O que parece ser o não normal

Neste momento triste em Portugal,

Eu te asseguro ser normal aqui!
*

 

Não só pelas razões que tens aí,

Em decorrência desse tal lockdown!

Além deste, há por cá um outro mal

Que, de banal, eu quase me esqueci!
*

 

Aqui, nossos receios, sobressaltos

Decorrem da frequência dos assaltos

Seja à porta de casa ou da oficina!
*

 

O que vai nos minando a resistência

Porque quando a doença é violência,

Nem se tem a esperança da vacina!
*

 

Mosqueiro, 16 de março de 2021, (14:38h).

Jay Wallace Mota
***

13.
*

"Nem se tem a esperança da vacina"

Na qual não tenho assim tanta confiança;

Este vírus sofreu tanta mudança

Que ressurgiu mais forte em cada esquina
*


Porém, antes ter esperança pequenina

Do que, de todo em todo, não ter esp`rança

Que eu bem me lembro da cruel matança

Da Pneumónica, a trágica assassina...
*


No caso da violência, Portugal,

É bem mais moderado. Essoutro mal

Não nos aflige tanto quanto a vós.
*

 

Neste "jardim à beira-mar plantado"

Toda a gente prefere ouvir um fado

A cometer um qualquer crime atroz.*
*

 

Maria João Brito de Sousa - 16.03.2021 - 18.30h

***

14.
*


“A cometer um qualquer crime atroz”

E assim levar alguém à fria cova,

Prefiro reviver a Bossa Nova,

Ouvindo João Gilberto a baixa voz!
*

 

C’alguém com quem pudesse estar a sós!

E viver meu momento Casanova,

Cantando meu amor; loas em trova!

Sem me importar com contras e nem prós!
*

 

Porém, devido à louca pandemia,

Não posso ter nenhuma companhia,

Quer seja como amante ou como amigo!

 

Porquanto, sem querer ser insensato,

Privado de estreitar qualquer contato,

“Trago um soneto servido ao postigo.”
*

 

Belém, 16 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

 

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