SENTO-ME À JANELA - Coroa de Sonetos
SENTO-ME À JANELA
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Coroa de Sonetos
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Custódio Montes, Lourdes Mourinho Henriques e Mª João Brito de Sousa
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1.
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Sento-me à janela e olho para a porta
Atento escuto o bater do ferrolho
Abro as tuas cartas delas uma escolho
O amor nelas leio só isso me importa
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Vejo linha a linha que tudo me exorta
Voa o pensamento, lágrima no olho
Do tempo passado a imagem recolho
Espero, espero e nada me aporta
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Mas daqui não saio e o teu olhar terno
Aqui o espero por tempo eterno
Por noites e dias, o tempo que for
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De volta te sinto numa caravela
Daqui eu não saio da minha janela
Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor
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Custódio Montes
2.11.2021
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2.
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“Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor”!
Com mágoa e saudade o amigo Custódio
Vertendo uma lágrima recorda, com dor,
Ao ler uma carta de amor e não ódio.
Mas eis que o passado ficou lá p’ra trás
E as cartas apenas são recordações…
Momentos vividos cheios de emoções
Que o tempo sem tempo nunca mais desfaz!
Ainda que seja ao ler uma carta
Lembrando um amor que nunca mais se aparta
Do seu coração, é assim a vida!
Recordar é viver, sentir o carinho,
Trilhando por vezes o mesmo caminho…
Ao ler uma carta que não foi esquecida!
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Lourdes Mourinho Henrirques
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3.
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"Ao ler uma carta que não foi esquecida"
O passado ganha a dimensão presente
E o que era saudade passou, de repente,
A ser coisa viva, palpável, sentida...
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A leitura é chama que, reacendida,
Ilumina a vida e a alma da gente;
Sabe-o quem o escreve e sabe-o quem o sente
No corpo inocente e na alma rendida.
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O tempo não pára mas essa janela
Não vive no tempo, vive só pra ela
E para o momento em que ela há-de voltar
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Está escuro lá fora, mas brilham-lhe os olhos;
Vê estrelas brilhando em vez de ver escolhos
No papel da carta que abrira a chorar...
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Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 18.30h
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4.
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“No papel da carta que abrira a chorar..”
Relembrou uns olhos duma claridade
Que ainda os recorda com tanta saudade
Que ao entrar na porta os quer de novo olhar
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Mas andam tão longe que tardam voltar
E eram tão lindos: era a mocidade
A força, a alegria, o carinho, a vontade
De lhe querer tanto, de tanto os amar
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Sento-me à janela fico à sua espera
Que quem muito ama nunca desespera
Mesmo que a espera se torne ilusão
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Mas relendo as cartas lembra-se o calor
Dos beijos ardentes e plenos de amor
E fica-se preso, freme o coração
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Custódio Montes
2.11.2021
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5 .
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“E fica-se preso, freme o coração”
Como se o passado voltasse outra vez…
E serão as cartas, quem sabe, talvez
Alvo de alguns beijos cheios de emoção!
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São o testemunho de um amor feliz
Que um dia partiu e nunca mais voltou,
As boas lembranças foi o que deixou,
Também a tristeza, a vida assim quis.
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Mas ficar à espera é pura ilusão,
Enquanto se espera, sofre o coração
A mágoa contida sem remédio ter.
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E as cartas velhinhas aqui recordadas
São tudo o que resta, ficarão guardadas
Com muito carinho p’ra não as perder.
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Lourdes Mourinho Henriques
02.11.2021
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6.
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"Com muito carinho pra não as perder"
Guarda-as na gaveta do seu coração
Junto das saudades e do medalhão
Contendo o retrato dela, da mulher...
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Sentado à janela, já nem quer esquecer,
Já só disso vive, da recordação
Do que recebera de amor, de paixão,
Desse tanto querê-la que foi mais que qu`rer...
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E agora relendo, mais próximo está
Dessa que em palavras toda se lhe dá
Como se lhe dera nos tempos distantes
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Não fecha a janela muito embora o vento
Sopre através dela louco e turbulento
Como fora em tempos, como ele era dantes...
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Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 21.30h
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7.
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“Como noutros tempos, como ele era dantes”
Mas forte que fosse eu ia junto dela
Não havia rosa que fosse mais bela
E bastava vê-la por poucos instantes
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E ao ler a carta há imagens distantes
De caminho andado por rua ou viela
É essa lembrança que por mim apela
A paixão sentida que une os amantes
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Ponho-me à janela quero relembrar
Voltando ao passado, voltamos a amar
Estendem-se os braços e lançam-se ao vento
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Voamos no espaço, estendemos as asas
A paixão regressa pisamos as brasas
E sobre elas voa nosso pensamento
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Custódio Montes
2.11.2021
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8.
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“E sobre elas voa nosso pensamento”…
E tal como outrora o amor acontece,
Momentos vividos que nunca se esquece
Que são recordados, momento a momento!
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E a vida ao passar é por vezes tormento,
Mas deixa alegrias para recordar,
Momentos de vida do tempo de amar
Que ‘oje são saudade, da alma alimento!
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E nessa janela que tanto lhe diz
O amigo Custódio vai sendo feliz,
Saudoso recorda todo o seu passado.
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Que assim continue, com boa lembrança
Mesmo que a sonhar, não perca a esperança
E guarde a cartinha com muito cuidado.
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Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021
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9.
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"E guarde a cartinha com muito cuidado",
No bolso do peito onde pode ir buscá-la
A qualquer momento. Se a carta lhe fala
Ganhou-lhe o presente, vencendo o passado
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No instante preciso, à janela sentado,
No quarto de cama, na copa ou na sala,
Falará a carta, que amor não se cala
Se, em tempos vivido, ora for recordado.
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Que a velha cadeira em que agora se senta
Seja a testemunha que os versos sustenta
No pinho ou nogueira em que alguém a talhou.
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Que todos os dias a todas as horas
Lhe fale essa carta de amor e de amoras,
Dos beijos e abraços com que o cativou!
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Mª João Brito de Sousa
03.11.2021 - 14.25h
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10.
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“Dos beijos e abraços com que o cativou”
Mas não têm cartas como eu recebidas
De amores de outrora, pessoas queridas
Ou de amores perdidos apenas eu sou ?
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Ao que tenho ouvido e alguém me informou
Também as amigas andaram perdidas
E foram amadas em tochas ardidas
Por muito amor que de certo as queimou
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Contemos a história que não a negamos
Recordamos tempos, todos nós amamos
Todos nós tivemos o nosso desejo
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Quem não teve cartas que agora não lê
Teve bem mais sorte, teve o amor ao pé
E pôde de certo enchê-lo de beijos
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Custódio Montes
3.11.2021
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11.
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“E pôde de certo enchê-lo de beijos”
Mas ficou mais pobre de recordações,
Nem todas as cartas são desilusões,
São troca de amor confessando os desejos.
E são essas cartas que há quem não as tenha,
Que dão o conforto, que dão a ilusão
De sentir agora a mesma paixão
Um dia sentida e que hoje a retenha.
Os altos e baixos que nos dá a vida
São provas de fogo que logo à partida
Nos vão ensinando a escolher o caminho.
Bem cedo encontrei o meu no passado
Guardei-o com ‘sprança, até que ao meu lado
Surgiu o amor que esperei, com carinho.
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Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021
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12.
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"Surgiu o amor que esperei com carinho"
Bem cedo, tão cedo que ainda que aponte
Os dias e as noites, não há quem os conte
Entre as muitas gentes que achar no caminho
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E eu que escrevia sobre pergaminho,
Que pintava as linhas de um novo horizonte
Por dentro de um rio ou atrás de uma fonte,
De amor nunca tive nem um postalzinho.
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De amor estive perto e de amores me perdi
Num tempo em que a sorte de amar descobri...
Para quê escrevê-lo se assim tão de perto
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Podia vivê-lo? Passaram-se os dias,
Os meses, os anos... surgiram magias;
Perdi-me das cartas neste desconcerto...
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Mª João Brito de Sousa
03.11.2021 - 19.00h
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13.
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“Perdi-me das cartas neste desconcerto”
Mas encontrei uma entre todas elas
Abri-a e li-a era das mais belas
Devagar olhei-a cada vez mais perto
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E fiquei contente de a ter aberto
Havia passagens lindas e singelas
Que me deslumbraram como luz de estrelas
Ao ler linha a linha um e outro excerto
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E tinha nos olhos a mesma esperança
Dos dias passados, agora lembrança,
Que tanto queria tornar a rever
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Recordei seus olhos e os seus cabelos
Momentos vividos tão lindos tão belos
Recuei no tempo, parei para os ter
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Custódio Montes
3.11.2021
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14.
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“Recuei no tempo, parei para os ter”
E tal como outrora vivi os momentos
Como se hoje fosse, tantos sentimentos,
Paixão e carinho que nos fez viver.
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Vivemos um amor que não é p’ra esquecer
Ambos percorremos um longo caminho,
Com altos e baixos, mas muito carinho
E que hoje num sonho voltei a rever.
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E junto à janela eu vejo, sem fim,
Uma longa ‘strada onde esperas por mim
Quando um dia partir, quando? Pouco importa!
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Só sei que acordei desta minha apatia
Que a ti me juntou… mas já vai longe o dia…
“Sento-me à janela e olho para a porta”.
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Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021
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