ROSA ENJEITADA - Helena Fragoso, Maria João Brito de Sousa, Helena Teresa Ruas Reis e Lourdes Mourinho
ROSA ENJEITADA...
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Coroa de Sonetos
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Helena Fragoso, Maria João Brito de Sousa, Helena Teresa Ruas Reis e Lourdes Mourinho Henriques.
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1.
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Sinto dentro de mim sempre latente
Tudo o que fui vivendo nesta estrada
Foram altos e baixos e silente
Foi toda essa minha caminhada...
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Fui rocha, fui pilar, também carente,
Fui a rosa bravia desprezada…
Fui o apoio real de muita gente…
Que nunca o viu assim...nunca viu nada…
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Serei talvez vulcão,serei semente,
Serei água que escorre lentamente,
Seguindo para a foz já bem cansada…
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Serei poesia viva que se sente
Desenhada na dor sempre presente…
De me sentir assim...Rosa enjeitada!!!
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Helena Fragoso
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2.
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"De me sentir assim... Rosa enjeitada(!!!)"
Já estive também eu, em tempos idos,
Tão farta que mudei o rumo à estrada
E rumei por atalhos não escolhidos.
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Da vida pouco quis... um quase nada
Que garantisse à mente e aos sentidos
Alguma dignidade; a conquistada
Por trabalhos a custo conseguidos.
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Ou tenho muito azar... ou muita sorte;
Quatro vezes tentou levar-me a morte
E as mesmas quatro vezes lhe escapei.
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"Vaso ruim não quebra facilmente"...
Talvez eu seja vaso em vez de gente
Porque, até ao momento, não quebrei!
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Maria João Brito de Sousa - 19.06.2021 - 19.56h
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3.
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“Porque, até ao momento, não quebrei!"
Inda que ruim vaso possa ser,
Onde uma velha planta me tornei
Em vez de bela rosa e sem o qu’rer.
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Também não desejei ser ‘special
Ter “fundos” ou ter “mundos” não almejo
E parecer, sem ser, é-me banal.
Apenas ir vivendo é meu desejo.
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Na infância, desterrada de meus pais
Regresso ao lar… com ânsias demais,
Sarei longe de irmãos que sempre amei.
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Adolescente fui. Depois, sem mãe,
Quis Deus me apaixonasse por alguém
E… mais vezes sozinha me encontrei.
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Helena Teresa Ruas Reis - 19/06/2021
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4.
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“E… mais vezes sozinha me encontrei”,
Após longo caminho percorrido
Ao lado do amor que sempre amei
Quando a morte o levou: o meu marido.
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Sozinha, continuei o meu trilho
Sem nunca me sentir “Rosa Enjeitada”,
Mas eis que a vida me roubou um filho…
Fiquei então de vez amargurada.
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Sinto a vida virada do avesso
E às vezes, nem eu própria me conheço…
Eu, que sempre vivi intensamente.
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Sinto que sou uma sombra do passado,
Vivo de coração amargurado
Mas continuo p’la ‘strada… olhando em frente!
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Lourdes Mourinho Henriques
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5.
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"Mas continuo p’la ‘strada… olhando em frente(!)"
sem ter algum carinho, algum alento?
pensei até um dia de repente
que não teria fim esse tormento...
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Um dia em que tudo isso se consente...
E foi exatamente no momento
em que a poesia em mim se tornou gente
fez-me ganhar um novo sentimento...
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Com ela, consegui, mudei a mente,
e a ternura minha é a nascente
que deu à minha alma um novo alento...
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Serei rosa enjeitada, aqui presente...
Mas no meu peito vive bem latente
O amor que tenho e espalho pelo vento....
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Helena Fragoso
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6.
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"O amor que tenho e espalho pelo vento"
É tão intenso quão peculiar;
Pode abarcar milénios num momento,
Ou pode num só sopro terminar...
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Por vezes manso, noutras turbulento
E sem qualquer tendência pr`abrandar,
Faz o que quer sem ter consentimento
E nem eu mesma o posso comandar.
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É rebelde, mas lúcido e clemente,
Pode às vezes calar-se, mas não mente
E sabe-se imperfeito, porque humano.
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Rosa selvagem, sou, mas... enjeitada?
Fosse eu burguesa, fútil e enfeitada...
Mas fútil nunca fui, não vos engano!
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Maria João Brito de Sousa - 20.06.2021 - 20.26h
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7.
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“Mas fútil nunca fui, não vos engano!”
Tudo o que faço, creio, é necessário,
Aceito paciente, “mano a mano”,
O qu’ outros acharão ser perdulário.
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Assim, que sou levada à exaustão
De achar que faço mais do que prometo,
Mas se me encontro assim em negação
É por não medir bem no que me meto…
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Receio que eu me torne uma enjeitada,
Já muito gasta, triste, amargurada,
E só a mim dever tais conclusões.
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“Mas hei-de virar flor, rosa serei,
E com zelo e vigor me cuidarei!”
Estou pensando já “com meus botões”.
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Helena Teresa Ruas Reis - 20/06/2021 - 23:49h
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8.
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“Estou pensando já “com meus botões”
Que a vida nunca é como sonhamos,
Há que agarrar bem as ocasiões,
Os momentos que às vezes desprezamos.
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Viver é um vendaval de emoções,
Nem sempre sabemos como lidar,
Por vezes renegamos sensações
E fechamos a porta ao verbo Amar.
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Hoje, resiliente, vou lutando,
Mesmo que às vezes triste e chorando
Continuo a seguir p’la minha estrada.
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Sou uma rosa selvagem, com espinho,
Quando um dia picar o meu destino
Aí… serei então “Rosa Enjeitada”.
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Lourdes Mourinho Henriques
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9.
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Aí… serei então “Rosa Enjeitada”.
mas mesmo assim irei saber quem sou
aquela que sofreu e que magoada,
na vida não vergou, sempre lutou...
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Andei, sim, com a tristeza de mão dada,
e nesta solidão a que me dou...
ainda sigo a vida, sigo a estrada.
sabendo de onde vim e onde vou...
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e nesta vida minha desenhada
apesar de já estar muito cansada
ainda sou eu mesma, sei quem sou...
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Sou a que terá sido mal amada
a que hoje talvez já não tenha nada,
a quem só a saudade lhe restou...
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Helena Fragoso
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10.
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"A quem só a saudade lhe restou(...)"
Irei pedir que, em si, procure bem
Já que garanto que bem mais ficou;
Esqueceu, talvez, o tanto qu`inda tem,
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Mas repare na força que a sustém
E nos mais belos versos que criou,
Tão suaves que os não cria mais ninguém,
Mais doces do que o mel que alguém sonhou...
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Muitos serão plo mundo mal amados,
Os sedentos de amor, os desprezados
E os que vão maldizendo a própria vida,
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Mas muito poucos são abençoados
Com os talentos que trazes guardados
Dentro do peito, companheira querida!
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Maria João Brito de Sousa -21.06.2021 - 22.19h
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11.
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“Dentro do peito, companheira querida,”
Mal sabe o coração como resiste
A tanta pouca sorte nessa vida
Que teima em te deixar ainda triste.
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Não sonhes poder ter vida mais bela,
Não penses outra forma de lutar.
Nem há realidade mais singela
Que seres sempre o que és e te aceitar,
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Conforta-me a poesia que em ti leio,
Aquela com que arrancas do teu seio
Palavras de doçura dolorosa.
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Ah, vem querida amiga, a este pasto
E lança-me a esperança por arrasto,
Pois não és “enjeitada” mas só rosa!
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Helena Teresa Ruas Reis - 21/06/2021 - 23,25h
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12.
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“Pois não és “enjeitada”, mas só Rosa”
Que espalhas p‘lo jardim o teu perfume,
Deixando tua poesia mimosa
Seja em versos de amor ou de ciúme.
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Jamais serás assim “Rosa enjeitada”
Teus versos ficarão p’ra te lembrar,
E um dia, ao partires, deixas legada
Poesia, que outros irão desfrutar.
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Não te sintas assim, amiga querida,
És uma “Rosa Linda”, não vencida,
Continua teu caminho olhando em frente!
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Este é o nosso caminho da verdade…
Não podemos fugir, e uma saudade
Invade a minha alma eternamente.
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Lourdes Mourinho Henriques
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13.
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"Invade a minha alma eternamente..."
Invade este meu ser, mas com magia...
A força de escrever e ser presente
A força que me vem da poesia
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Serei Rosa Enjeitada, mas valente,
nas lutas que ainda travo dia a dia...
Mesmo quando o amor se faz ausente..
Mesmo quando eu vivo o que não queria...
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E tudo o que vivi está tão latente
Embora em tom menor, e bem silente...
Às vezes nem sei bem o que faria...
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Se a Poesia em mim estivesse ausente,
se não brotasse assim esta nascente
que vibra na minh' alma, esta alquimia...
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Helena Fragoso
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14.
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"Que vibra na minh`alma, esta alquimia (...)",
Este sereno e afável desespero
Que se transforma em bússola e me guia,
Hoje e sempre inda além de quanto quero
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E este "eu" que de avaria em avaria
Se ergue do nada quando chega ao zero...
Que absurda Morte a si se contraria
Ou se arrepende de algum gesto fero?
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Foi nesse dia que ousei confrontá-la
E ao vê-la olhar-me dum canto da sala,
Chamei-lhe tola, louca... incoerente!
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Numa voz perfurante como bala,
Fez soar uma estranha e curta fala:
"- Sinto dentro de mim sempre latente"...
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Maria João Brito de Sousa - 22.06.2021 - 21.13h
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(RESERVADOS OS DIREITOS DE AUTOR)