RETORNO
RETORNO
*
Nesta mesa de pinho onde o tampo encerado
É mapa remendado, esgaçado e já velhinho,
Quem encontra o caminho outrora caminhado
Ou o rasto deixado, assim, asinho, asinho?
*
Reencontra-se o ninho ou passa-se-lhe ao lado?
Se o nó foi desatado ou arrancado um espinho,
Onde o espanto? O carinho? O suor derramado?
Onde o chão que é pisado e se abre em flor sozinho?
*
Mas muito de mansinho, antes de o sol se pôr,
Vendo-lhe a nova a cor, renasce o espanto em mim!
Afinal é assim, tal qual se faz amor,
*
Que o verbo redentor retorna ao seu jardim
Como a flor de alecrim que a qualquer outro odor
Excede em graça e vigor sempre que adia o fim.
*
Maria João Brito de Sousa - 15.09.2021
*
(Soneto em verso alexandrino com rima interna/encadeada)