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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
01
Mar21

QUEM NÃO TEM CÃO... - Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

O GATO.jpg

QUEM NÃO TEM CÃO...
*

COROA DE SONETOS
*

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes
*
1.
*

Erato não serei, poeta amigo,

Que para tal não tenho engenho e graça,

Mas posso garantir-lhe garra e raça

Sempre que aceite que escreva consigo.
*


Não ostento os cabelos de oiro ou trigo

Que enfeitam qualquer deusa quando caça,

Mas meu arco-de-versos tem a traça

Do que não tem idade, sendo antigo.
*

Se errar "humanum est", eu errarei,

Mas pode crer que lhe não faltarei,

Se Erato me ceder a sua vez...
*

Porque "quem não tem cão, caça com gato",

Sempre que o ignorar a bela Erato,

Conte c`oa minha humana pequenez!
*


Maria João Brito de Sousa - 22.02.2021 - 18.37h
***


(Soneto escrito em resposta ao soneto ERATO do poeta Custódio Montes.)
***


2.
*

“Conte c’oa minha humana pequenez”

Isso digo eu, digo, digo e digo

Tenho muito prazer de a ter comigo

Nas rimas que oferece cada vez
*

Pequenino sou eu com escassez

De presente e passado em que me abrigo

E recorro à musa e prossigo

Humilde, a esconder a timidez
*

A Erato imagino para mim

Mas quando a refiro tenho um fim

Provocar quem me inspire a poetar
*

Andar sempre a aprender isso é-me imposto

E quase sempre encontro quem eu gosto

Como agora que acabo de encontrar
*

Custódio Montes

(22.2.2021)

***

3.
*
"Como agora que acabo de encontrar"

Voz gémea que, em perfeita sintonia,

Vá compondo, na pauta, a sinfonia

Que ambos nos preparamos pra criar.
*

Das notas que tangemos sem parar

Entre a realidade e a magia,

Nasce este não-sei-quê que desafia

A própria Erato a vir-nos escutar.
*

Ah, se a cada improviso mais se aprende,

Erato sobre nós o manto estende

E os versos nunca param de nascer...
*

Soberbos frutos desta humana sede,

São os versos que Erato nos concede

Quando desce até nós, para nos ver.
*


Maria João Brito de Sousa - 25.02.2021 - 12.29h
***

4.
*

“Quando desce até nós para nos ver”

A si sim, vê-a sempre e a mim não

Eu bem clamo por ela mas em vão

E nunca a vejo aqui aparecer
*

Aquilo que eu escrevo pode ser

Um verso semelhante, um verso irmão

Que segue o irmão mais velho....imitação

No falar, no brincar e no dizer
*

Mas a irmã mais velha é quem comanda

Eu sou irmão mais novo que atrás anda

Que a musa não me dá um grande trato
*

Respondo como posso atrás de si

Compondo como vejo ao vir aqui

Porque quem não tem cão caça com gato
*

Custódio Montes


(26.2.2021)
***

5.
*

"Porque quem não tem cão caça com gato",

Se assim cria sonetos tão sem par,

Creio bem que se quer menorizar

Ao dizer que é a mim que fica grato...

*

Também sou aprendiza dessa Erato

Que aqui estamos os dois a partilhar;

Nenhum de nós lhe chega ao calcanhar,

Ninguém, como ela, sabe o ponto exacto
*


Da perfeita harmonia a que aspiramos

Na profusão de versos que engendramos

Dando sempre o melhor que houver em nós.
*


Humildes aprendizes vamos sendo,

E criativos sempre que escrevendo

Ao som da sua doce e clara voz.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 12.24h
***

6.
*

“Ao som da sua doce e clara voz.”

Também concordo, amiga, que aprendiz

É todo o ser que avança e é feliz

Que quem não aprender não chega à foz
*

Mantém-se emaranhado e fica a sós

Não sabe progredir nem o que diz

A áurea sempre em baixo e a cerviz

E raro chega ao cais ou é veloz
*

E se além da Erato e seu engenho

Tivermos uma amiga como eu tenho

Então voa-nos alto o pensamento
*

Alcançam-se horizontes alargados

Poemas de excelência e afamados

Com engenho e arte em casamento
*

Custódio Montes

(26.2.2021)
***

7.
*

"Com engenho e arte em casamento"

De que Erato se digne ser madrinha,

Nasce esta força que nos encaminha

E nos concede a graça do talento.
*


A si, que me alimenta, eu alimento,

Que a reciprocidade se adivinha

Em cada estrofe ou mesmo em cada linha

Do que aqui transformamos em sustento.
*


Por vezes é lirismo, o que nos move,

Noutras é a revolta, quando chove

Sobre este humano mundo o preconceito...
*


Erato, tolerante, não condena

A autonomia desta nossa pena,

Desde que o verso nos brote do peito.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 15.40h

***

8.
*

“Desde que o verso nos brote do peito.”

Do fundo, bem do fundo lá da alma

Depois ninguém nos vence e leva a palma

A forma de dizer, também o jeito
*

A ideia às vezes vem quando me deito

E surge então a musa muito calma

Segreda-me ao ouvido e assim me espalma

Um tema e um caminho a preceito
*

Não sei se é Erato, a musa bela,

Mas não identifico o nome dela

Por isso é que a chamo dia a dia
*

Mas sei que é uma musa muito fina

Que manda e encarrega quem me ensina

O que me inspira e dá muita alegria
*

Custódio Montes

(26.2.2021)
***

9.
*

"O que me inspira e dá muita alegria"

É conversar consigo em verso e rima

Deixando que o soneto me redima

Desta insalubre e chã monotonia...
*


"Caça" com gata, sim, mas não vadia,

E sim com a que acolhe quanto exprima

Como quem saboreia uma obra-prima

E que, a partir dessa obra, também cria.
*


Destas nossas conversas musicais

Nascem-nos versos nem sempre banais

E outros que são banais, mas criativos.
*


Podem-se dar abraços desta forma,

Sem que nos multem por fugir à norma

Imposta a todos nós, que estamos vivos.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 21.23h

***

10.
*

“Imposta a todos nós, que estamos vivos”

A norma vale pouco se é mal feita,

Ou rebuscada e prenhe de maleita

Importa é antes sermos criativos
*

E também na palavra interventivos

Não basta ser a rima só perfeita

Mas ter um conteúdo que deleita

E sensações e gostos chamativos
*

Por vezes uma norma não tem rosto

E, mesmo tendo, há coisas que não gosto

Mal feitas, perigosas muito mais
*

Poema, para nós, é como um filho

Tem alma, dá prazer, ostenta brilho

E trocam-se “conversas musicais”
*

Custódio Montes

(27.2.2021)

***

11.
*

"E trocam-se "conversas musicais"";

Se as horas passam movidas a jacto

Sempre que nos visita a bela Erato

Esquecida de que somos só mortais...
*


E lá vamos nas asas pontuais

Do versejar lançado ao desbarato

Numa coroa, sem espinhos, nem recato,

Que se vai alongando mais e mais...
*


Musa, porém, não sou, nem nunca fui;

Sou obreira do verso que em mim flui

Como o sangue que as veias me percorre.
*


Podemos ser mortais, poeta amigo,

Mas o poema é algo muito antigo

E a Poesia, essa, nunca morre!
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 12.39h

***

12.
*

“E a Poesia, essa, nunca morre!”

Também penso assim, é evidente,

Poeta é só quem poesia sente

E anda em seu caminho e o percorre
*

E poema a poema ergue uma torre

Que seja bem visível, saliente

Amada e sentida pela gente

Que a admira, a vê e a ela acorre
*

A musa anda aqui e anda ali

Não se vê, foge, foge, eu nunca a vi

Mas sente-se com muita precisão
*

Poema trás poema logo atrás

Então cada um vê que é capaz

E a musa é mesmo isso inspiração.
*

Custódio Montes

(27.2.2021)
***

13.
*

"E a musa é mesmo isso, inspiração",

Um quase intraduzível não-sei-quê,

Algo que nos habita e nem se vê

Mas que sempre deduzo ser paixão.
*


Chamem-lhe Erato, chama ou vocação,

A força que nos move é o que é...

Que importa se é ateia ou se tem fé,

Se se reparte em pura comunhão?
*

Quando nasci, trazia já comigo

A raiz desta graça... ou é castigo?,

Que nos impõe criar para viver...
*


Se é certo que brinquei, estudei, cresci,

Mais certo é que, de quanto já vivi,

Se escolha houvesse, isto iria escolher.
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021- 15.14h
***

14.
*

“Se escolha houvesse, isto iria escolher.”

Escolha não precisa, é natural

Nasceu num ambiente cultural

Que a inundou e assim a fez crescer
*

Eu andei pelo campo e a aprender

Olhei as andorinhas, bem e mal

O nascer e o crescer dum animal

E andei pelas encostas a correr
*

Se for condicional o que me afirma

Eu acredito ainda, o que confirma

Que Erato se parece bem consigo
*

Só assim compreendo toda a ênfase

Começando a coroa com a frase:

“Erato não serei, poeta amigo”
*

Custódio Montes

(27.2.2021)

***

 

 

 

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