OS MEUS OLHOS
OS MEUS OLHOS
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Já viram, estes olhos, tanta dor,
Tanto espanto, tristeza e alegria,
Que, agora, me condenam ao torpor
De ver dez vezes menos do que via.
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Minh`alma ousa sair da letargia,
Eriça cada espinho, abre-se em flor.
Debalde o faz. Demora, a cirurgia,
Muito mais do que alguém possa supor.
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Vou despir-me da flor, tornar à pedra,
Essa, na qual a flor só nasce e medra
Quando tiver razões pra florescer.
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As pedras nada vêem, nunca mentem,
São tão impenetráveis que não sentem,
Tão cruas que não querem nem saber.
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Maria João Brito de Sousa – 23.01.2020 – 13.12h
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Lembrando o poema METAMORFOSE, por mim escrito em 1990/91
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Tenho alma de papoila;
Mal se toca, mal se agita,
Caem-lhe as pétalas todas
E fica morta, despida.
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Outras vezes, a papoila,
Só por força do dever,
Transforma-se em rocha dura,
Resiste à dor, à tortura,
Nada a pode demover.
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Mas rocha bruta ou papoila,
No palco fica a mulher;
Eu, metamorfoseada
Em anjo ou alma penada,
Ora papoila, ora fraga,
Conforme vos convier.
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Maria João Brito de Sousa – 1990/91 (?)
Imagem - Eu, fotografada por Carlos Ricardo