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Fev21
O SONETO POSSÍVEL NUM DIA COMO O DE HOJE
Maria João Brito de Sousa
O SONETO POSSÍVEL
NUM DIA COMO O DE HOJE
***
... e pouco a pouco vamos definhando,
Pouco nos sobra, somos só estilhaços,
Sombras furtivas dos humanos traços
Que este presente foi desfigurando.
*
Sobrevivemos sem sabermos quando
Se nos refazem os humanos laços,
Ou se cerram, de vez, os olhos baços
Que muitos - tantos... - foram já cerrando.
*
Tudo está longe mesmo estando perto
E o mundo transmutou-se num deserto
Que gela à noite e, de dia, sufoca
*
Quem se atreva a adentrá-lo a descoberto;
Nada há de certo neste tempo incerto,
Excepto a mordaça que nos tapa a boca.
*
Maria João Brito de Sousa - 21.02.2021 - 12.40h