O HOMEM NÃO PENSA NO MEIO AMBIENTE - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
O HOMEM NÃO PENSA NO MEIO AMBIENTE
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Coroa de Sonetos
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
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1.
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O homem não pensa no meio ambiente
Anda tresloucado vive a vida a sós
Não faz como outrora, como seus avós
Que no seu conjunto era diferente
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Cuidavam dos corgos da água corrente
Que corria calma depressa ou veloz
Sem poluição até chegar à foz
Clara e cristalina a brotar da nascente
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No solo havia plantas a crescer
Nas suas entranhas lesmas, minerais
Lobos e doninhas cobras a correr
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A ecologia flores animais
O homem vivia sem os ofender
Que os actos de agora sejam tais e quais
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Custódio Montes
5.6.2023
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2.
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"Que os actos de agora sejam tais e quais"
Mas como se agora se apela ao consumo
E se é impossível mudarmos de rumo
Porque todos qu`remos ter mais, mais e mais?
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Se nesta "aventura", sendo racionais,
Da Terra bebemos o sangue e o sumo
Esquecendo, o sistema, que vamos a prumo
Mordendo o anzol, porque somos mortais...
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No fundo, no fundo, toda esta armadilha
Nos vai enredando de uma tal maneira
Que só vamos vendo uma estrela que brilha
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E onde se acendeu uma imensa fogueira
Julgamos estar vendo uma tal maravilha
Que, cegos, marchamos pra morte certeira.
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Mª João Brito de Sousa
06.06.2023- 12.15h
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3.
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“Que, cegos, marchamos pra morte certeira”
Sem pensar na vida no bem, no futuro
A ficar o tempo muito mais escuro
Tudo ao desnorte sem eira nem beira
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São maus os políticos pois usam viseira
Só pensam na massa sem fruto maduro
E com a ganância e o gesto impuro
Só nos seus boys pensam de toda a maneira
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O mel, as abelhas e a apicultura
Precisam do monte da serra do ar
Eles no dinheiro e só na usura
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Rebentam as serras, sem nunca pensar
No nosso futuro, sem ter água pura
Sossego, alegria e sem bem-estar
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Custódio Montes
6.6.2023
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4.
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"Sossego, alegria e sem bem estar"
Iremos ficar, que já se adivinha,
Seremos tratados como erva daninha
Quando a nossa terra quisermos salvar
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Unidos na causa e sem recuar
Um passo que seja dessa nossa linha
A serra, que é vida, não estará sozinha
Enfrentando os muitos que a querem esventrar
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As mais perigosas, as grandes empresas
Que nunca mediram as consequências
Daquilo que fazem, fazem-se surpresas
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Quando os bons serranos vendo inconsistências
Nos projectos feitos, se erguem quais represas
Diante da serra, gerando insurgências
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Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 16.50h
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5.
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“Diante da serra, gerando insurgências”
Que a nossa revolta tem toda a razão
Contra o metediço que é como um ladrão
Bem acompanhado pelas “excelências”
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Que pensam no lucro e suas apetências
Maltratando o povo sem ter atenção
Toda esta ruína e poluição
E todos bem sabem as consequências
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Corja de políticos e associados
Só pensam no bolso não no ambiente
Permitem que os montes sejam esventrados
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Por aventureiros e gente indecente
E metem aos bolsos imensos trocados
Desprezam o povo e a vida da gente
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Custódio Montes
6.6.2023
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6.
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"Desprezam o povo e a vida da gente",
Só o lucro importa, não olham a meios
Pr`atingir os fins e nem medem receios,
Fundados embora, de quem lhes faz frente
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Para defender esse meio ambiente
Que vão destruindo por estarem alheios
À voz revoltada do povo em anseios,
Que tem voz, o povo, e não fica indif`rente!
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E a serena serra coberta de vida,
Imensa, impassível, não sonha sequer
Que possa, a ganância, sonhá-la rendida
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Esventrada, estuprada qual pobre mulher
Que ao ser atacada morresse esvaída
Num charco do lítio que dizem conter...
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Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 21.00h
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7.
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“Num charco do lítio que dizem conter…”
Charco esse que é feito na sua lavagem
A montanha enorme fica sem imagem
E o lítio é lavado na água a correr
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Mina a céu aberto dinamite a arder
Tudo isso metido dentro da barragem
O monte e a água sempre em desvantagem
Água inquinada que é para beber
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Património agrícola que a FAO distinguiu
Para que a defesa do ecossistema
Fosse preservado e nunca se viu
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Haver responsáveis que tenham por lema
Destruir a serra e que o mundo sentiu
Que ao se fazer isso é um grande problema
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Custódio Montes
6.6.2023
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8.
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"Que ao se fazer isso é um grande problema"
Para o ser humano e pra todo o planeta
É um erro crasso, uma asneira completa,
Destruir, da serra, o ecossistema
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Se o lucro comanda, será esse o lema
De quem quer, da serra, fazer a colecta
E a gente da "massa", de forma incorrecta,
Irá pô-la em risco sem que a ninguém tema...
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Vós sois os que tendes de lhe resistir,
Passando a mensagem, formando barreiras,
Que unidos fareis a ganância ruir
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Livrando essa serra das bestas matreiras
Que tudo farão para, enfim, conseguir
Conspurcar as águas de aldeias inteiras.
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Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 23.00h
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9.
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“Conspurcar as águas de aldeias inteiras”
Mas não só de aldeias também de cidades
Esse é o problema. Muitas entidades
Sabem que as notícias são bem verdadeiras
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E mesmo assim dizem ser brincadeiras
Escondem do povo as promiscuidades
Que têm à volta e as cumplicidades
Nesta corrupção de todas as maneiras
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Diz-se cá na terra que lá de Lisboa
Se servem de nós e pró interior
Não mandam riqueza nem vem coisa boa
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Levam a riqueza, o que há de melhor
Quando chega o barco levam tudo à proa
Depois de deixarem o que há de pior
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Custódio Montes
6.6.2023
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10.
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"Depois de deixarem o que há de pior"?
Se cá por Lisboa de mau fica tanto
Já não sei se o levam lá pró vosso canto
Se o guardam por cá para pôr e dispor,
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Sempre que der jeito, de seja quem for
Que pregue a maldade vestido de santo,
Pois passa o corrupto, coberto c`o manto,
A fazer figura de grande senhor...
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Bem sei que é por cá que o poder tem assento,
Mas vós, os nortenhos, julgais-vos cordeiros?
Eu tenho a certeza a cinquenta por cento
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De que entre vós há e haverá caloteiros
E sem citar nomes, que à sorte eu não tento,
De norte a sul brotam discursos matreiros...
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Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 11.40h
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11.
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“De norte a sul brotam discursos matreiros…”
E quem é corrupto junta-se ao falar
No norte, no centro, no sul a bradar
Com os manda chuvas, com os caloteiros
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Mas lá por Lisboa, no mando os primeiros
São os reis da máfia e do seu altar
Olham para os montes que vão assaltar
E com os autóctones, seus companheiros
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Invadem baldios, esburacam montes
Poluem a água e com ar maldoso
Retiram do solo suas limpas fontes
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Tiram a beleza ao monte formoso
Que fica sem vida, tolhem horizontes
Vai-se o património, degradam Barroso
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Custódio Montes
7.6.2023
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12.
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" Vai-se o património, degradam Barroso"
Que, sim, tem razão em querer defender
Por ser essa a terra que viu ao nascer,
Seu berço primeiro, chão farto e viçoso
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Que ao ficar na mira do que é poderoso
Será, tarde ou cedo, deitado a perder...
Não sei, meu amigo, que mais lhe dizer,
Nem que mais pensar desse gesto odioso
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Mas cá por Oeiras, ou melhor, Cascais
Também está em risco um pequeno pinhal
Que irão derrubar para construir mais
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E do meu pequeno pulmão florestal
Nada sobrará senão restos mortais,
Quando vitimado pelo mesmo mal...
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Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 14.30h
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13.
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“Quando vitimado pelo mesmo mal…”
Temos que lutar todos irmãmente
Para defendermos o meio ambiente
Conservar o monte a floresta o pinhal
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Se o não fizermos temos a final
A terra queimada tudo à volta quente
Morrem as abelhas as aves a gente
E em todo o lado perigo mortal
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Vivamos à moda dos nossos avós
Mantendo as fontes e toda a beleza
Com graça aprazível à volta de nós
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Conservando o campo e a nossa devesa
Para que não fujam de modo veloz
E demos os braços pela natureza
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Custódio Montes
7.7.2023
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14.
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"E demos os braços pela natureza"
Que há-de ser possível salvá-la conquanto
Parar o progresso condene o meu canto
Que eu não viveria sem el`, de certeza!
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E agora lhe digo, com toda a franqueza,
Não ser o progresso que mata o encanto
Mas sim a vileza de quem pode tanto
Que só pensa em si e na sua riqueza!
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Bem certo é que o rico1) bem pouco se importa
C`o mal que provoca. Não pensa na gente,
Destrói quanto entende e só nos suporta
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Porque inda precisa do "pobre contente"
Que por quase nada lhe cuida da horta:
"O homem não pensa no meio ambiente"!
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Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 17.11h
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1) Falo, como julgo ser óbvio, do homem obscenamente rico e das grandes empresas internacionais