NAUFRÁGIO DE POBRE
Catraia e cacilheiro do Tejo, séc. XIX
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NAUFRÁGIO DE POBRE
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Naufraga, a dourada, na areia da praia
Se avança a catraia na água encrespada
Pela vergastada de um vento que ensaia
Um uivo, uma vaia que ao mar é lançada
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Naufraga, arpoada, uma enorme arraia
De rodada saia de branco pintada
E ao longe, quebrada, uma vaga desmaia
Enquanto se espraia em alvura rendada...
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Por tudo e por nada e sem sino que dobre,
Se um naufrágio ocorre ao largo da costa
E o náufrago arrosta quanto mar lhe sobre
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Ninguém o socorre, nem Deus nele aposta
Que é chaga sem crosta do assombro em que morre:
De morto e de pobre quem espera resposta?
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Mª João Brito de Sousa
21.04.2023 - 12.30h
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Nota - Soneto hendecassilábico com rima encadeada (dupla)
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Arraia ou raia pintada