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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
29
Jun21

NÃO SEI - Custódio Montes, Maria João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis

Maria João Brito de Sousa

NÃO SEI.jpg

NÃO SEI
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes, Maria João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis
***


1.
*
Não sei o que fazer…. o que farei ?

Divago lentamente ao som da avena

Escrevo o que sair da minha pena

E aquilo que escrever logo verei
*


Avanço linha a linha mas não sei

Se a peça que vier, trazida à cena

Será grande essa obra ou pequena

Para me envergonhar perante a grei
*


Não sei não sei não sei…vou escrever

E tu leitor amigo vais dizer

Depois de ver e ler com atenção
*


Se merece um aplauso este poema

Se só merece encomio pelo tema

Ou se nem vale dar opinião
*

Custódio Montes

27.6.2021
***


2.
*

"Ou se nem vale dar opinião",

Pergunta-me o poeta companheiro

Do verso que criado a tempo inteiro,

Traz no celeiro do seu coração.
*


E está pronto a glosar, que em profusão

Se vai multiplicando, bem ligeiro,

Épico às vezes, noutras mais brejeiro,

Mas jamais sem sentido e nunca em vão!
*


Não sente o tal "bichinho-carpinteiro"

Que sempre exige um verso e, feiticeiro,

Faz renascer o espanto e a paixão?
*


Estou certa de que o sente vir, certeiro,

Pedir verso que nasça do primeiro

E outro e mais outro... até à exaustão!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021- 13.42h
***

3.
*

"E outro e mais outro... Até à exaustão!"

Porém, a exaustão não chega aqui.

Se há um que mal vê ou dói-lhe a mão,

Há outro que aparece qual escanção...
*


E saboreia assim o melhor bago,

Depois de já maduro para o dente.

Poeta só degusta, num afago,

Palavras que se escapam do que sente.
*


Na mesa de um café pus-me a teclar

Sorvi o dito cujo sem dar conta

Mas sei que o que paguei foi pouca monta.
*


Antes que uma razão me possa achar

Agora, sem rever o que escrevi,

Receio ver-me já sair daqui.
*

Helena Teresa Ruas Reis - 15.20h
***

4.
*

“Receio ver-me já sair daqui”

Não fuja amiga Ruas que é bem-vinda

Porque se eu não sabia bem ainda

O que ia escrever, agora vi
*


Porque este belo encontro tido aqui

É conjugar poesia bela e linda

E pôr os três autores na berlinda

E nela aqui estou, já a senti
*


Poema é mesmo assim, como cereja

Seguindo-se um ao outro em peleja

Combate sim mas só de amizade
*


Discute-se a palavra com certeza

Mas sendo alinhada com beleza

Com graça e também simplicidade
*

Custódio Montes

27.6.2021
***

5.
*

"Com graça e também simplicidade"

Não faltando o tempero do talento,

Os versos voam mais que o próprio vento

Que hoje açoita os telhados da cidade.
*


Em cada verso, um gesto de amizade

Vem galgar a distância, sempre atento,

Não vá algum de vós perder alento,

Ou eu, a habitual temeridade...
*


Um verso chama o outro que, ao ouvi-lo,

Corre para o soneto e faz aquilo

Que um verso melhor faz, quando liberto;
*


Se achar lugar no peito de um irmão,

Logo o abraçará num gesto são

Deixando, para os mais, um espaço aberto.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 19.05h
***

6.
*

“Deixando, para os mais, um espaço aberto”

Onde o talento possa prorromper

Sem nunca se cansar ou se perder,

Mesmo tendo passado pelo deserto.
*


Que há mãos e pensares na amizade

Para te retirar à inacção,

Levando a construir, na emoção,

Por laços fraternais e de vontade.

*

Um verso atento a outro e a outros chama.

A muda e calma voz que assim proclama

Só ouves no bater do coração…

*

Sonoro, dentro em ti porque palpita,

É vida, e se procria, Deus permita

Que seja sempre eterna a criação.

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

7.
*

“Que seja sempre eterna criação”

E há-de ser pois nele há liberdade

E diz o que quiser e à vontade

Pois não tem o poema um travão
*


Diz o que quer e sempre com razão

Imagina e descreve a realidade

Escreve sobre o campo e a cidade

E cria um mundo novo em construção
*


E a gente lê o texto que se cria

Todo o seu conteúdo e fantasia

E acha graça e fica-se contente
*


E nesta criação e a inovar

O mundo ganha forma e outro andar

Com isso ganha muito toda a gente
*

Custódio Montes

27.6.2921
***

8.
*

"Com isso ganha muito toda a gente"

Porquanto esta arte a todos nos eleva

E não será apenas a quem escreva,

Pois quem o ler alegra-se igualmente
*


E aprende a sentir... pois quem não sente

Aquilo que um poema a ninguém nega?

Ah, todos nós sentimos esta entrega

Que o verso faz brotar, como semente.
*


Assim se multiplica a poesia

Como se uma infindável sinfonia

Fosse, de geração em geração,
*


Galvanizando toda a humanidade;

Reparem bem no verso que se evade,

Que voa e vem pousar nesta canção!
*


Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 22.07h
***


9.
*

“Que voa e vem pousar nesta canção”

Qual pássaro nos ramos do arvoredo,

Que esconde, no seu ninho, mais segredo

Que aquele que fez esta construção.

*

E as penas pequeninas a forrá-lo

De conforto e de amor bem maternal,

A terra feita em barro filial

Como argamassa forte a preservá-lo,

*

Nada são, comparand’ à fantasia

Que surge como nova melodia

Nas palavras que irrompem em registo.

*

Ficará sempre mais do que se escreve

Do que a frase ou o verso quase breve,

Riscos, rimas saídas de um rabisco.

*

Helena Teresa Ruas Reis - 28/06/2021
***
10.
*


“Riscos, rimas saídas de um rabisco”

Mas feito com a arte e a mestria

De quem olhando as coisas vê e cria

Como construção feita em obelisco
*


Palavra ornamentada posta em disco

Canção que integrada em sinfonia

Enche e engrandece a alma de alegria

E sabe tão bem como um petisco
*


Poemas que umas vezes divertidos

São outras bem mais sérios e sentidos

Com arte com destreza com glamor
*


Tem tudo a poesia é ingente

Tem graça, sentimento anima a gente

E é também ternura paz e amor
*

Custódio Montes

28.6.2021
***

11.
*

"E é também ternura paz e amor"

Isto que os nossos dedos vão criando

Enquanto os vamos, nós, (des)comandando,

Já que ninguém comanda um verso em flor
*


Que voa como o vento e, ao seu sabor,

Pode ser ora forte, ora tão brando

Quanto o que a poesia for ditando

E conseguirmos, nós, depois compor...
*


Então, por um momento, o tempo pára

Para dar tempo ao verso que dispara

Como uma flecha rumo ao ponto exacto
*


Em que outro verso o espera e, sem saber,

Sabe contudo como o preencher,

Concretizando o que antes fora abstracto.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 14.08h
***

12.

*

“Concretizando o que antes fora abstracto”,

Há coisas que a poesia nos ensina

Por vezes, não fosse ela feminina,

Tem um sexto sentido imenso e lato.

*

E vem assim amena, p’la tardinha

Na hora de uma sesta disfarçada

Em sonho bem real, duma assentada,

Trar-te-á a cor-de-rosa numa linha.

*

Tal linha contornada a ponto flor

Borda tudo a seu jeito e com amor

Remata esse bordado à perfeição.

*

Artífices dos bilros, finas rendas,

Desejo de um artista é que aprendas

E que nunca se canse a tua mão!

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***
13.
*

“E que nunca se canse a tua mão”

Mão sem género não só feminina

Masculino o poema e que rima

Da poesia gémeo e seu irmão
*


Macho e fêmea a mesma condição

O poeta é assim que nos ensina

E não temos que sair dessa doutrina

Que une e agiganta o coração
*


Mas mais “não sei” agora o que dizer

O pensamento está-me a esmorecer

E vou deixar que outrem esclareça
*


Talvez eu já não veja ao redor

E quem venha a seguir veja melhor

Dando a opinião que lhe pareça
*

Custódio Montes

28.6.2021
***

14.
*

"Dando a opinião que lhe pareça"

Mais própria deste tema e do momento,

Chega o próximo verso muito atento

(que um verso sempre cumpre uma promessa!)
*


Isto vos comunica e vos confessa

O verso - ora em sorriso, ora em lamento -

Que ainda que fervilhe em sentimento,

É fiel à harmonia que professa.
*


E agora que está quase a terminar

O soneto que assim o fez cantar

Bem mais alto e melhor do que eu sonhei,
*


Não pára o verso de me pressionar

E a cada instante vem-me perguntar;

"Não sei o que fazer... o que farei?"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 18.42h
***

 

(Reservados os Direitos de Autor)

 

 

 

 

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