MOIRA(S) - Coroa de Sonetos
MOIRA(S)
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(Mitologia Grega)
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Não são parcas, as Moiras, no seu zelo;
Fiam, tecem e cortam noite e dia
Sem se cansarem da monotonia,
Sem se esquecerem de nenhum novelo
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Desponta o fio e logo irão tecê-lo
Com mão que sabiamente doba e fia,
Senhoras da tristeza e da alegria
Dos dias mais magoados e mais belos.
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No fim, uma das Moiras corta o fio
Das luas e dos sóis de cada vida;
Só essa determina o fim de um rio,
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Só essa indica a hora da partida;
Ela é quem sela o poderoso trio
Ante o qual Zeus recolhe a espada erguida.
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Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 12.00h
`***
2
Ante o qual Zeus recolhe a espada erguida.
E as mouras poderosas com seu tino
Dispunham do humano e seu destino
Cada uma com seu poder ungido
*
Três irmãs poderosas, sem ruído
Decidiam a vida e o sentido
Do futuro por elas escolhido
Ou mal ou bem conforme o preferido
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Eram más, eram feias, rancorosas
Sem dizer investiam poderosas
Para o bem mas mais vezes para o mal
*
O homem e a mulher eram usados
Pelas Mouras. E todos dominados
Que nem Zeus intervinha em seu final
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Custódio Montes
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3.
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"Que nem Zeus intervinha em seu final"
Pois sendo ao seu mau-génio invulneráveis,
Olhavam-no do alto, as respeitáveis
E altivas tecelãs de Bem e Mal
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Que um e outro teciam por igual,
Já que um do outro não são separáveis...
Não as concebo feias e execráveis,
Mas construtoras de algo que é fatal*
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Já que eram elas quem assegurava
Que a vida por aqui continuava
A nascer, a crescer e a morrer...
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E Zeus, que era tirano, bem sabia
Que sem Moiras nem ele existiria,
Pois mesmo um deus precisa de viver...
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Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021- 18.22h
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*Fatal, do latim Fatum = fado/destino
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4.
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“Pois mesmo um deus precisa de viver...”
E tinha que se pôr bem à tabela
Que podiam armar-lhe uma esparrela
Impotente, ele, Zeus, nada fazer.
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Que elas, combinadas, com poder,
Dominam a andar na passarela
E lançam para a frente a que é mais bela
E ele langoroso fica a ver
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As Moiras fazem truques fabulosos
Os fracos sem poder e os poderosos
São todos dominados de seguida
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São elas que comandam, congeminam
Só elas mais ninguém é que dominam
São elas que comandam toda a vida
*
Custódio Montes
(27.2.2021)
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5.
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"São elas que comandam toda a vida"
Sem terem a noção de mal ou bem;
A morte vem porque à vida convém
Que se renove a coisa envelhecida.
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É apenas humana, a dor sentida
Quando da vida se despede alguém,
Mas não sabem, as Moiras, quem lá vem,
Nem conhecem quem esteja de partida...
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São neutras e limitam-se a cumprir
O que a si próprias terão de exigir
Já que nem Zeus as pode controlar
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E são a pura essência do destino
Que, com a inocência de um menino,
Cria um brinquedo só para o quebrar.
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Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 23.00h
(a estas horas, não sei como consegui, mas consegui!!!)
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6.
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“Cria um brinquedo só para o quebrar”
E dobra e redobra como quer
A vida e sorte de homem e mulher
Nas penumbras que passam pelo ar
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E de repente mudam seu olhar
Alternam como querem seu poder
E levam a fortuna ou o perder
A quem era feliz e vai penar
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As longas unhas duma vão ferir
O cerne dum humano que ao sentir
O tudo que antes tinha fica em nada
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Os grandes dentes doutra comem tudo
A terceira de gorda e bojuda
Completa a grande força irmanada
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Custódio Montes
(28.2.2921)
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7.
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"Completa a grande força irmanada"
Que inconsciente de fazer sofrer,
Nos confere a certeza de, ao nascer,
A espécie humana ser perpetuada.
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Assim os gregos davam por explicada
Esta estranha aventura de viver,
Que as Moiras, muito mais do que PODER,
Simbolizam a VIDA renovada.
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Uma pega num fio, vai-o fiando,
A outra mais não faz que i-lo dobando
E a outra vem cortá-lo, sem maldade,
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Porque esse corte à vida é necessário...
Quem poderá dizer que isto é contrário
Ao que se passa na realidade?
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Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 12.57h
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8.
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“Ao que se passa na realidade?”
Sim, porque o povo grego bem sabia
Que a vida era terrena dia a dia
E as Moiras traduziam a verdade
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Que elas é que teciam em irmandade
Cortavam e mantinham com mestria
O fio condutor, paz e alegria
Que em si constituía a sociedade
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Se o fio condutor era cortado
O sopro duma vida era apagado
E nisso as Moiras tinham opção
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Noutras continuavam a tecer
E davam mais um tempo ao viver
Como é toda a nossa condição
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Custódio Montes
(28.2.2021)
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9.
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"Como é toda a nossa condição"
De humanos imperfeitos e mortais
E, tal qual como os outros animais,
Produto de uma mesma evolução.
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Ascendendo à consciencialização,
Que a nós nos coube e a todos os demais
Humanos (mais ou menos...) racionais,
Cabe-nos entender que essa Razão
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Que rege os predicados naturais,
Se a solo, produz coisas maquinais;
Exequível não é, sem Emoção!
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Tecem as Moiras as vidas actuais,
E as de todos os nossos ancestrais,
Segundo o Mito Grego, sem paixão...
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Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 16.11h
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10.
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“Segundo o Mito Grego, sem paixão...”
Mas isso era dantes porque agora
Sendo o mesmo processo que vigora
Já não subsiste o Mito como então
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O Mito deu lugar à precisão
E temos cientistas mundo fora
Que estudam estas coisas hora a hora
Firmando-se o saber da evolução
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Para nós esse Mito ainda serve
Para ver o poder que a Moira teve
E dar o fundamento à poesia
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Aos deuses nós dizemo-lhes adeus
Às Moiras e ao seu colega Zeus
Ao seu saber e à sua fantasia
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Custódio Montes
(28.2.2021)
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11.
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"Ao seu saber e à sua fantasia"
Rendo-me toda inteira quando penso
Quanto este velho mito tem de imenso
Conquanto seja só simbologia...
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A própria Ciência reconheceria
Que o que o mito revela, por extenso,
É algo bem real, nada pretenso,
Que corresponde ao nosso dia a dia.
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Claro está que nos vem da antiguidade
E, se levado à letra, é inverdade,
Mas a mensagem nunca caducou;
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Somos fio que desponta e que é dobado
Pra ser, logo a seguir, recambiado
Lá para o "não-sei-quê" de onde brotou...
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Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 19.23h
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12.
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“Lá para o "não-sei-quê" de onde brotou...”
Eu nunca neguei tal filosofia
Nem o que as Moiras tinham de mestria
Apenas que o Mito já passou
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E que a ciência foi ao que encontrou
Investigar a luz que esclarecia
O que o Mito então já conhecia
E que com tal saber se avançou
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O saberes que os gregos nos deixaram
Ainda se mantêm e lá ficaram
Para evoluir todo o saber
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E criaram ainda eles o Mito
As Moiras, também Zeus, ficando escrito
O que a ciência foi lá depois ler
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Custódio Montes
(28.2.2021)
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13.
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"O que a ciência foi lá depois saber"
Indicia que o mito é o começo
Daquilo que na ciência reconheço
Como caminho certo a percorrer.
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Ressuscitei o mito, sem esconder
Que é sempre pela ciência que me meço
E as Moiras foram simples adereço
Com que esta Coroa se quis guarnecer...
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Contudo, há teses de doutoramento
Que exigem estudos e discernimento,
Sobre o Mito que eu trouxe à colação
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Por culpa de uma musa inexistente
Que me falou das Moiras num presente
Que fez dos mitos fósseis da razão...
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Maria João Brito de Sousa - 01.03.2021 - 09.28h
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14.
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“Que fez dos mitos fósseis da razão”
E talvez eu pecasse ao vir trazer
À colação ciência e meter
Esta conversa a pôr tanto travão
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A esta oportuna discussão
Sobre o valor das Moiras e sem ver
A enorme importância e o saber
Que deram à ciência e ainda dão
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E para terminar faço justiça
Para dizer e assim trazer à liça
O trabalho das Moiras e dizê-lo
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Passo a passo, com força criativa,
Mostrando-nos a luz da morte e vida,
“Não são parcas, as Moiras, no seu zelo”
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Custodio Montes
(1.3.2021)
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Imagem retirada daqui