MEMÓRIA(S) DO NÁUFRAGO-PERFEITO
(Soneto em verso hendecassilábico)
Do vento que sopra, da proa que afunda,
Do mastro partido, do leme encravado,
De ouvir os gemidos do velho costado
Da barca que oscila, bojuda, rotunda,
Na crista da onda, no mar em que abunda
Escolho traiçoeiro que espreita, aguçado,
Escondido na espuma, submerso, acoitado
Em zona que a Barca julgava profunda...
De tudo me lembro, se bem que já esteja,
No tempo passado, submerso também
E seja esta imagem longínqua o que eu veja
Da Barca que afunda nos sonhos de alguém,
Apenas a sombra que passa e festeja
Não ser verdadeira, nem ser de ninguém.
Maria João Brito de Sousa - 11.01.2017 - 10.52h
Ao meu avô poeta, António de Sousa