... ME APAGO, SE ACESA...
… ME APAGO, SE ACESA...
O crime das horas, nestas horas minhas,
É, quais libelinhas, quais aves canoras,
Serem sedutoras, mas também daninhas,
Não para estas linhas dardejando auroras,
Mas para as penhoras dos reis, das rainhas
Que deixam sozinhas as mãos produtoras,
Essas, sim, senhoras dos trigos, das vinhas,
Das frutas fresquinhas sempre tentadoras...
Deixando-me ilesa, correm muito lestas,
Passam pelas frestas, sopram sobre a mesa,
Levam de surpresa rascunhos, palestras...
São vivas arestas às quais fico presa;
Fundem-me à certeza de etéreas orquestras,
Estas horas. Nestas, me apago, se acesa.
Maria João Brito de Sousa – 19.06.2018 – 19.42h
Soneto dedicado ao poema O CRIME DAS HORAS, de António Codeço.