LIVRO(S) DE MÁGOAS
ESTE LIVRO
Este livro é de mágoas. Desgraçados,
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode talvez senti-lo... e compreendê-lo.
Este livro é pr`a vós. Abençoados
Os que o sentirem, sem ser bom, nem belo!
Bíblia de tristes, ó Desventurados,
Que a vossa imensa dor se acabe ao vê-lo!
Livro de Mágoas... Dores... Ansiedades!
Livro de Sombras, Névoas e Saudades!
Vai pelo mundo... (trouxe-o no meu seio...)
Irmãos na dor, os olhos rasos de água,
Chorai comigo a minha imensa mágoa,
Lendo o meu livro só de mágoas cheio!
Florbela Espanca
In "Livro de Mágoas"
ALMAS GÉMEAS
Destes sonetos meus, que ousei escrever,
Também brotaram mágoas - porque não? -,
Mas muito além da mágoa, vi nascer
Uma mesma incomum comum paixão
E da mesma paixão nos vi morrer...
Entendo-te a precoce rendição,
Irmã dos mil sonetos que eu tecer
Pr`além dos que me nascem sem razão,
Mas como condenar-ta, se entender
Que a dor que te matou teve a função
De engendrar teus sonetos? Que fazer,
Se te bendigo a própria maldição?
Florbela, eu que te sei, sem te saber,
Como glosar-te, assim? Sonhei-te, então?
Maria João Brito de Sousa - 07.11.2016 - 13.58h
(Inédito, respondendo ao soneto "Este Livro", de Florbela Espanca)