JANGADA III
JANGADA III
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Teimosamente eleva o frágil mastro
E mais teimosamente segue em frente
A poética jangada, a transparente
Insurreição do poeta contra o astro.
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De pouco se sustenta e, por arrasto,
Transporta o verso. Os poemas, em semente,
Ora tombam no mar, ora na gente,
Mas não perde a jangada força ou lastro.
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Não busca mais um cais, que o cais que traz
É já porto e destino derradeiro
De coisa que a si própria se refaz
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Depois de ter cruzado o mundo inteiro
Sempre a sonhar um dia ser capaz
De vir a naufragar qual marinheiro.
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Maria João Brito de Sousa - 27.10.2020 - 12.08h
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Ao meu avô, António de Sousa
Gravura de capa da autoria de Alice Brito de Sousa, minha avó