GLOSANDO MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE XLVII (?)
FANTASIA DE NUVEM
Sou irmã dessa nuvem que chovia
Na tarde entristecida dum poeta
Escura e negra sem alma nem poesia
Escorrendo pelo bico da caneta
E quando o dia é escuro a noite fria
O luar é um fogo que inquieta
Fere-me os olhos, tira a fantasia
Eu viajo na cauda dum cometa
Pelas crateras negras desta vida
Em jeito duma névoa atrevida
Que tapa até a luz da lua cheia
E pela madrugada escorrem versos
Nos chuviscos que caem bem dispersos
Por entre velhas casas duma aldeia
MEA
5/07/2017
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HÁ-DE PASSAR...
“Sou irmã dessa nuvem que chovia”
Sobre um chão sequioso e tão crestado
Que nem uma só planta ali nascia
Porque cada raiz tinha murchado
“E quando o dia é escuro, a noite fria”
E mesmo o céu parece ter secado,
Nem uma só semente brotaria
Se não fosse esse chão dessedentado...
“Pelas crateras negras desta vida”,
Tarde ou cedo, uma nuvem, comovida,
Há-de passar chorando, há-de passar,
“E pela madrugada escorrem versos”
Sobre os torrões inférteis que, submersos,
Desatam a florir, sem hesitar.
Maria João Brito de Sousa – 08.07.2017 – 09.55h