GLOSANDO LUIZ VAZ DE CAMÕES III
JURANDO DE NÃO MAIS EM OUTRA VER-ME
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Como quando do mar tempestuoso
O marinheiro todo trabalhado,
De um naufrágio cruel saindo a nado,
Só de ouvir falar nele está medroso,
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Firme, jura que o vê-lo bonançoso
Do seu lar o não tire sossegado;
Mas esquecido já do horror passado,
Dele a fiar se torna cobiçoso,
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Assi, Senhora, eu que da tormenta
De vossa vista fujo, por salvar-me,
Jurando de não mais em outra ver-me;
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Com alma que de vós nunca se ausenta,
Me torno, por cobiça de ganhar-me,
Onde estive tão perto de perder-me.
Luís Vaz de Camões
In "Sonetos"
***
BRAVATA(S)
"Como quando do mar tempestuoso"
Que engole inteiro o velho galeão,
Emerge o grande vate e traz na mão
Quanto lhe fora em vida mais precioso,
*
"Firme, jura que vê-lo bonançoso"
Chegar às mãos de D. Sebastião,
Lhe justificará toda a aflição
Da luta contra um mar fero e raivoso
*
"Assi, Senhora, eu que da tormenta"
Medo não tenho e vibro de ousadia,
O mesmo irado mar enfrentaria
*
"Com alma que de vós nunca se ausenta";
Que tempestade, a mim, me afogaria,
Se aquilo que respiro é Poesia?
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Maria João Brito de Sousa -17.09.2016 - 21.11h