GLOSANDO FLORBELA ESPANCA (8)
AS MINHAS ILUSÕES
Hora sagrada dum entardecer
D’Outono, à beira-mar, cor de safira.
Soa no ar uma invisível lira...
O sol é um doente a enlanguescer...
A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu... e veste luto o mar...
E eu vejo a urna d’oiro, a baloiçar,
À flor das ondas, num lençol d’espuma.
As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna d’oiro,
No mar da Vida, assim... uma por uma...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
... E AS MINHAS...
"Hora sagrada dum anoitecer"
A que a nuvem se esquece que aspergira
Com a bênção da chuva e que suspira
Por ver o dia assim, quase a morrer...
"A vaga estende os braços a suster"
As mil desilusões que já sentira,
Pr`a que a força dos braços lhe sugira
Que, amanhã, há-de o dia amanhecer...
"O sol morreu... e veste luto o mar..."...
De nada serve à vaga sustentar
As razões por que escreve, ou por que fuma...
"As minhas Ilusões, doce tesoiro,"
Quais bolas de sabão, vão ´dando o estoiro`,
Nenhuma tem mais peso que uma pluma...
Maria João Brito de Sousa - 30.01.2016 -21.41h