GLOSANDO FLORBELA ESPANCA (13)
OUTONAL
Caem as folhas mortas sobre o lago;
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio... Olha, anoitece!
– Brumas longínquas do País do Vago...
Veludos a ondear... Mistério mago...
Encantamento... A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago...
Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
– Vestes a terra inteira de esplendor!
Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites voluptuosas
Em que eu soluço a delirar de amor...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
OUTONAL E URBANO
"Caem as folhas mortas sobre o lago;"
Ao céu que empalidece mais e mais
Fazendo voar folhas de jornais,
Vem um ventinho frio dar-lhe um afago...
"Veludos a ondear... Mistério mago..."
O Inverno faz sentir os seus sinais
E lavra, a chuva, líquidos canais
Que aumentam de caudal causando estrago...
"Outono dos crepúsculos dourados",
Dos homens e mulheres bem abafados
Por casacões pesados e sem cor,
"Outono das tardinhas silenciosas",
Das noites frias, longas, pesarosas
Por terem já perdido o seu calor...
Maria João Brito de Sousa - 04.02.2016 - 09.49h