GLOSANDO ANTÓNIO DE SOUSA IV
FOLHETIM
Jogou-se à vida o meigo desvairado
- em sete vezes sete cabriolas -
Com os nervos timbrados como violas
E uma pureza feita de pecado.
Tão cedo que chegou... e já deitado
O mundo todo - farto de violas!
Foi seu triste comer o pão de esmolas
De uns velhos astros, de um luar cansado.
Trazia um sonho e nenhum sonho o mede!
Só - como o vento em naves de pinhais -
O seu destino é uma paisagem morta;
Ninguém acode ao cheiro de quem pede
Sem moeda de compra, menos-mais...
Nem a Deus, nem ao Demo se abre a porta.
António de Sousa
In "Livro de Bordo", 2ª edição
Editorial Inquérito
INCÓGNITA
"Jogou-se à vida o/a meigo/a desvairado/a"
Nos seus tempos dourados de abastança
- que eram de sol, seus dias de criança -,
Que a vida recebeu por convidada.
"Tão cedo que chegou... e já deitado/a"
Às sortes de um pretérito em mudança,
Que havia de mudar-lhe a negra trança
Em cabelos de cinza desgrenhada...
"Trazia um sonho e nenhum sonho o/a mede!"
Não há metro que alcance o infinito,
Nem cálculo, ou perfeita dedução;
"Ninguém acode ao cheiro de quem pede",
Ou decifra a linguagem do seu grito,
Pois de imprevistos tece a solução.
Maria João Brito de Sousa - 24.12.2016 - 1.53h