GLOSANDO ANTÓNIO DE SOUSA III
NUVEM
Lá longe, aonde a vida me começa
- sorria por engano um sol de Inverno -
Não sei que deus me fez sua promessa
E fui outro menino, ávido e terno.
Mas a infância passou, nua e depressa
- subira o Sol como um clarão de inferno -
E fiquei-me neste ar de quem ingressa;
Grotesco, trivial, falso e moderno.
- Número sete, um passo em frente! - Pronto!
(A voz que me chamava, certa e calma,
Não viu que eu avançava cego e tonto...)
Achou-me assim, o tal que me perdeu!
- Ó nuvem! - tarde triste da minh`alma,
Quem por seus sonhos sofre como eu?
António de Sousa
In "Livro de Bordo" (2ª edição) Editorial Inquérito
PÓDIO
"Lá longe, aonde a vida me começa",
O Tempo é bem mais lento do que eu sou;
Corro, passo-lhe à frente a toda a pressa,
Sou quem ao próprio Tempo ultrapassou!
"Mas a infância passou, nua e depressa"
E a vida, quando os passos me travou,
Provou-me que, vivendo, se tropeça
Onde jamais o Tempo tropeçou...
"- Número sete, um passo em frente! - Pronto!"
Eis-me que mal avanço... o Tempo, esse,
Nunca envelhece, nem me dá desconto;
"Achou-me assim, o tal que me perdeu!"
(Mas como não esperar que me perdesse,
Se quis roubar-lhe o seu maior troféu?)
Maria João Brito de Sousa - 19.11.2016 - 21.36h