GALOPE
GALOPE
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(Soneto em verso alexandrino)
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Nem sempre é transparente o verso em que me embalo
E nem sempre vos falo assim tão claramente,
Que a força da corrente é tanta que me calo
E só no intervalo oiço o que tinha em mente.
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O poema é prepotente, exalta-se e, num estalo,
Açula-me o cavalo em que cavalgo sempre
Que o verso emerge urgente, abrindo-se num halo
De assombro, ainda ralo, ainda incoerente,
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Ainda tão somente em vias de pensar
E até de se explicar, arfante e tão espantado
Que nem concebe errado expor-se a galopar
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Sem antes descansar, sem mesmo ter parado,
Sem sequer ter-se olhado: as ventas a soprar
E esse sopro a deixar o poema embaciado.
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Maria João Brito de Sousa - 30.06.2020 - 14.28h
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Imagem retirada daqui