FEITIÇO
FEITIÇO
(em verso alexandrino)
*
Bebendo o meu café, lembrei teu chimarrão
E deitada no chão vi-te ficar de pé
Soprando um oboé nas cordas do violão
Que à costa dera em vão num espasmo da maré.
*
Ao largo, uma galé afunda um galeão
Enquanto um furacão avança em marcha-à-ré;
Se o que o olhar não vê nem sempre é ilusão,
Eu dou-lhe a dimensão daquilo que não é
*
E digo o que não crê nem o meu coração,
Que assim reza a canção que invento pra você
À sombra de um ipê, sob o sol do sertão.
*
E nesta minha mão de crente sem ter fé
Na qual guardo o rapé e a vara de condão,
Trago um verso pagão pra dançar candomblé.
*
Maria João Brito de Sousa - 16.02.2021 - 08.37h
*
Soneto em verso alexandrino e rima encadeada criado para a Antologia Luso Brasileira "Tanto Mar Entre Nós"