30
Out20
FAGULHA
Maria João Brito de Sousa
FAGULHA
*
Concentro-me no verso. O corpo inteiro
Impõe-me a desistência pois reclama
Essa concentração que, feita chama,
O transforma em poeta aventureiro.
*
Desta vez, vence o corpo, o carcereiro
Que dorido, infectado, cai na cama;
Venceu porque cedeu. Sem barro ou lama
Nem um verso floresce no canteiro.
*
Porém, das suas cinzas apagadas
Solta-se a derradeira rebeldia
De uma fagulha dessas mais ousadas
*
Que se evola do corpo que dormia
E se apressa a juntar-se às mais ramadas
Da árvore em que nasce a poesia.
*
Maria joão Brito de Sousa - 30.10.2020 - 13.57h
Imagem - "Sick Woman" de Jan Havickszoon Steen, retirada daqui