Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

poetaporkedeusker

poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
18
Abr21

ESTA VELHA MENINA - Coroa de Sonetos - Maria João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota

Maria João Brito de Sousa

WIN_20200714_15_56_07_Pro.jpg

ESTA VELHA MENINA

*

(Desgaste)
*


Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota


*

1.
*

Esta menina, velha quanto baste,

Exibe uma grisalha cabeleira

E muito embora brinque, inda faceira,

Já dos anos acusa um bom desgaste.
*


Sorriu quando menina lhe chamaste,

Mas já percorre a rampa derradeira

Que a reconduz à última fronteira

E se aproxima, por mais que ela a afaste.
*


Menina que o não é mas já o foi

E que já deve um tempo à sepultura,

Sabe bem quanto custa e quanto dói
*


Contrariar um mal que não tem cura

E a chaga que desgasta e que corrói

O fio/pavio da chama que a segura.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 12.04.2021 - 16.24h
*

Ao Gil

***
2.
*

O fio/pavio da chama que a segura
Já desafia a própria medicina!
E a morte, que já torce pela cura,
Parou pra ouvir os versos da menina!
*
E vê-se que a trevosa criatura
Se curva mais e mais a cada rima,
Mas logo então corrige tal postura,
Num gesto de respeito a uma obra prima!
*
E de repente tomba de joelhos,
Abre seus olhos frios e sem celhos,
Voltando o negro rosto para cima!
*
E num murmúrio, rouco e gutural,
A morte, numa prece surreal,
Suplica pela vida da menina!
*

Belém, 13 de abril de 2021.
Jay Wallace Mota.
***

3.
*

"Suplica pela vida da menina(!)"

Aquela a quem cabia terminá-la

Pois, vendo que a menina se não cala,

Quer aprender as coisas que ela ensina.
*


A Morte que, sem culpa, é assassina,

Ao lado da menina então se instala

E, sendo surda e muda, agora fala

Na voz de cada verso que germina!
*


Mal se sinta, a menina, mais cansada,

Coberta de mazelas e dorida,

Logo virá a Morte transmutada
*


Em curandeira, prolongar-lhe a vida;

"Vá, escreve um pouco mais! Como me agrada

Saber-te por mim mesma protegida!"
*

 


Maria João Brito de Sousa - 13.04.2021 - 15.36h
***

4.
*

 

“Saber-te por mim mesma protegida!”

Exclama a própria Morte seu dilema!

Assim, entre matar ou dar a vida,

Lisonjeada, optou por um poema!
*

 

Sabendo que abrir mão da própria lida

Encerra sua escolha mais extrema,

Porém estava mesmo convencida

Que a tal postergação valia a pena!
*

 

Assim, ora enfermeira, ora aprendiz,

A Morte, a cada verso, mais feliz,

Concede, por mais tempo, um novo aval,
*

E assim, fazendo versos à cada hora,

A poetisa dribla a Morte agora

E a poesia ganha uma imortal!
*

 

Jay Wallace Mota.

Belém, 13/04/2021, às 15:12h.
***

5.
*

"E a poesia ganha uma imortal"

Que apenas o será enquanto viva...

Mas, sim, parece a Morte estar cativa

Dos sonetos que eu escreva, bem ou mal,
*


E, agora, não a tenho por rival

Que se tornou, a Morte, criativa;

Viu-se, talvez, sob uma perspectiva

Que lhe não era nada habitual...
*


Eu, como Xerazade, vou criando,

Soneto após soneto, sem parar,

E, por cada soneto, conquistando
*


Direito a mais um dia sem expirar;

Não posso é garantir-vos até quando

Vou conseguir a Morte fascinar...
*

 


Maria João Brito de Sousa - 13.04.2021 - 20.0
***

6.
*

 

“Vou conseguir a Morte fascinar!”

Arguis, com a modéstia costumeira,

Pois ante o teu talento singular,

Subestimas o gosto da parceira!
*

 

Que já mostrou saber apreciar

Os teus poemas, duma tal maneira,

A ponto de por eles adiar

Tua morte, fazendo-se videira!
*

 

Mas se acaso o cansaço te vencer,

Antes que a Morte possa perceber,

E pense, finalmente, em te ceifar,
*


Propõe, com um dos teus fechos perfeitos,

Fazer uma coroa de sonetos

E a Morte nunca mais vai te matar!

 

Jay Wallace Mota.

 

Belém, 13 de abril de 2021, às 17:55h.
***

7.
*
"E a Morte nunca mais te vai matar(!)",

Dizes-me tu que estás bem longe dela,

Mas eu, que a sei de cor, que estou com ela

Plasmada nalgum céu por inventar,
*


Não sei que mais fazer para a acalmar...

Sou a pálida chama de uma vela

E nem o brilho imenso de uma estrela

Conseguiria a Morte iluminar!
*


Não desisto, porém! Se sou poeta

Aquilo que me move é muito forte

E mendigar-lhe tempo é coisa infecta!
*


Muito diversa é esta minha sorte

Que em espanto e rebeldia se completa;

Escrevo prá Vida, desafio a Morte!
*


Maria João Brito de Sousa - 14.04.2021 - 11.00h

8.
*

“Escrevo pra Vida, desafio a Morte!”
Se o desafio vão te agrada, insiste!
Tens munição pra luta de tal porte...
Quando de alguma briga desististe?

*

Mas quando te faltar algum suporte,
Só peço não te deixes ficar triste;
Não há o que temer por tua sorte!
Pois, afinal, a Morte nem existe!

*

E mesmo conhecendo tuas infensas
A tudo que pra ti pareçam crenças,
Existe uma verdade definida,

*

Que reina independente do que pensas
E ainda que dela nunca te convenças,
Poeta, existe vida além da vida!
*

 

Jay Wallace Mota.

Mosqueiro, 14 de abril de 2021, às 15:40h.
*

9.
*

"Poeta, existe vida além da vida(!)"

E, de feliz por ti, vou-te dizer

Que é essa a vida que estou a viver

Enquanto a morte aguarda, distraída,
*


Que eu vá abrir-lhe a porta de saída;

Falta-me tempo para a receber

E tenho tantos versos pra escrever

Antes da hora incerta da partida...
*


A vida além da vida é uma só

E é por isso que tento prolongá-la

Enquanto me não vou desfeita em pó
*


Juntar-me a essa morte que me cala;

A morte é neutra e nunca terá dó

De quem, com versos, tente enfeitiçá-la...
*


Maria João Brito de Sousa - 15.04.2021 - 10.30h

***

10.
*

 

“De quem, com versos, tente enfeitiçá-la,”
No intento de enganar quem te intimida!
Mas acho um desperdício fazer sala
A uma figura tão controvertida...
*

Melhor fazer teus versos sem dar pala,
De maneira a passar despercebida,
Mostrando que a megera não te abala,
Ainda que vivas mesmo uma só vida!
*

Justo porque crês nisso, realmente,
E eu tendo este soneto tão somente,
Não posso me perder em teoria...
*

Pra mim, já és eterna, entre outras divas,
Entretanto, é preciso que tu vivas,
Pois viva dás mais vida à poesia!
*


Jay Wallace Mota.

Mosqueiro, 15/04/2021, às 15:30h.
***

11.
*

"Pois viva dás mais vida à poesia(!)"

E respondo, a sorrir, que bem o sei,

Que faço por viver e viverei

Até sentir-me de versos vazia
*


Assim me faça a Vida a cortesia

De conceder-me os versos que sonhei

E toda em versos me transformarei

Até um dia, amigo, até um dia...
*

Ah, sim, respiro ainda, ainda sonho

Com um mundo mais justo e mais fraterno,

Mais verde, mais sereno e mais risonho
*

Porque este que hoje encaro é puro inferno;

Desigual, violento e tão bisonho

Que mais parece um monstro em desgoverno.
*


Maria João Brito de Sousa - 15.04.2021 - 20.21h
***

12.
*

 

“Que mais parece um monstro em desgoverno.”

Com o homem e o ambiente em agonia,

Há muito que o planeta sofre, enfermo,

Vítima da mais burra vilania!
*

 

Porquanto, é preciso por um termo

A tudo que nos traz desarmonia,

Antes que o mundo vire um lugar ermo,

Levando a Morte, enfim, a epifania...


*

 

E contra forças tão coercitivas,

Mais uma vez importa que tu vivas!

Pois, do pouco que resta de ilusões,
*

Se não dá pra contar com governantes,

Quem sabe são teus versos instigantes

Que vão mobilizar os corações!
*

 

Jay Wallace Mota

Belém, 15/04/2021, às 21:35 h.

***

13.
*

"Que vão mobilizar os corações"...

E talvez isso venha a acontecer,

Pois também eu passei a vida a ler

Para consolidar-me em convicções
*


Enquanto equilibrava as frustrações

Pra melhor conjugar o verbo ser...

Bem sei que um dia terei de morrer,

Mas vivo ainda... e versos são paixões!
*

Que venha a morte quando o entender;

Estou pronta a recebê-la com canções

Que talvez a consigam convencer
*


A ponderar as suas decisões;

É isso mesmo o que eu irei fazer

Pois, pra viver, sobejam-me razões!
*


Maria João Brito de Sousa - 16.04.2021 - 10.37h
***

14.
*

 

“Pois, pra viver, sobejam-me razões!

O que sobressai claro em teus poemas;

Mesmo quando tu fazes alusões

A dores, a mazelas ou problemas!
*

 

Nasceste pra grafar inspirações,

Teus versos dão mais vida a quaisquer cenas

E tocam as mais frias atenções,

Mesmo quando alma e Morte são pequenas
*

 

Para ti o verbo ser tem só presente
E como uma menina irreverente
Vais entreter a Morte, com tal arte,
*

Que pra a ela, por teu gosto de viver,
Nada mais restará, senão fazer,
Esta menina, velha quanto baste!
*

 

Jay Wallace Mota.

Belém, 16/04/2021, às 12:52h.
***

 

10 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em livro

DICIONÁRIO DE RIMAS

DICIONÁRIO DE RIMAS

Links

O MEU SEBO LITERÁRIO - Portal CEN

OS MEUS OUTROS BLOGS

SONETÁRIO

OUTROS POETAS

AVSPE

OUTROS POETAS II

AJUDAR O FÁBIO

OUTROS POETAS III

GALERIA DE TELAS

QUINTA DO SOL

COISAS DOCES...

AO SERVIÇO DA PAZ E DA ÉTICA, PELO PLANETA

ANIMAL

PRENDINHAS

EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS

ESCULTURA

CENTRO PAROQUIAL

NOVA ÁGUIA

CENTRO SOCIAL PAROQUIAL

SABER +

CEM PALAVRAS

TEOLOGIZAR

TEATRO

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D

FÁBRICA DE HISTÓRIAS

Autores Editora

A AUTORA DESTE BLOG NÃO ACEITA, NEM ACEITARÁ NUNCA, O AO90

AO 90? Não, nem obrigada!