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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
12
Out20

DIZEM QUE O SONETO JÁ MORREU - Coroa de Sonetos II

Maria João Brito de Sousa

Gestação Floral - 1999 (fotografado por Vítor M

COROA DE SONETOS 

*

Custódio Montes e Maria João Brito de Sousa

 

1

*

Não acho e penso até que está bem vivo

Difícil bem difícil e, por isso,

Ele anda escondido e anda omisso

Em quem se diz poeta criativo
*


Lançam-se palavras para um crivo

Abanam-se aos montões como feitiço

Lançado aos incréus por um caniço

E só esse poema faz sentido
*

Mas num soneto a gente tem a ideia

Elabora o projecto e a descrição

Com palavras floridas o semeia
*


Também com sentimento e coração

A ideia avança e forma-se e enleia

Descreve-se e conclui com precisão
*

Custódio Montes

*

2
*

"Descreve-se e conclui com precisão"

Quanto lhe vai na alma. O corpo freme

Qual barca que dependa só do leme

Quando no mar confronte um furacão
*

 

Destruídas as velas e o porão,

Não sobrando sequer alguém que reme,

Há-de inda erguer-se como quem não teme

E apostar vida ou morte no timão!
*

 

Assim sobreviveu a tempestades,

Sonhou durante a noite enluarada,

Navegou pelo Céu, cruzou o Hades,
*

 

Comeu sal e bebeu água salgada;

De todas as prisões dobrou as grades

Em setecentos anos de jornada!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 10.10.2020 - 17.30h

*

 

3


*

 

 

"Em setecentos anos de jornada"

Passou por grandes mestres por Camões

Também Florbela Espanca e lições

De Petrarca em vereda começada
*

 

Depois vieram outros de mão dada

Lançando no soneto opiniões

Com regras e mais regras, divisões

Mas sempre com a meta melhorada
*

 

E houve pensadores que lançaram

A sina aos quatro ventos e bem forte

Que estes catorze versos se findaram
*

 

E que poema assim não tinha a sorte

De ter continuidade. Auguraram,

Sem razão, ao soneto a sua morte
*

 

Custódio Montes

(10.10.2020)
*

 

4
*

 

"Sem razão, ao soneto a sua morte"

Anteciparam por senilidade,

Porém nunca o soneto teve idade

E faz-se ao mar tentando a sua sorte

*

 

Não haverá insulto que lhe importe,

Cada vez mostra mais vitalidade,

Sereno canta amor, chora saudade,

Comprova a solidez do seu recorte.

*

 

Da Lentini o sonhou, inda semente,

Mas já tão definido como hoje,

Cabendo nele um sonho... e tanta gente!
*

 

Valente que da luta nunca foge,

Fará por evitá-la e segue em frente,

Não deixa que a calúnia em si se espoje.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 11.10.2020 - 12.29 h

*

 

5
*

"Não deixa que a calúnia em si se espoje"

Segue bem altaneiro, bem garboso

Alheio a esse gesto invejoso

Sem que em si a dúvida se aloje
*

Além, no seu passado, e ainda hoje

O soneto é um nome glorioso

Que tem regras e é harmonioso

Espelhando o seu brilho para longe
*

Deixemos bem de lado a malvadez

Digam os detractores seja o que seja

Iremos caminhar com altivez
*

Não como essa gente que deseja

Infortúnio ao soneto outra vez

Porque o que eles têm é inveja!!!
*

Custódio Montes

(11.10.2020)
*

6
*

"Porque o que eles têm é inveja"

Do que faz não parando de cantar,

Pois canta inda que chore a bom chorar

E faz-se ouvir até quando troveja.

*

Não pingará como água que goteja;

Antes será torrente a transbordar

Da melodia que o poeta ousar

Sem usar uma rede que o proteja.
*

Anda o soneto sempre equilibrado

No fio de uma navalha bem cortante

De gume cada vez mais afiado.
*

Nada teme porém. Nunca hesitante,

O soneto não é desconfiado;

Quem assusta um poema militante?
*


Maria João Brito de Sousa - 11.10.2020 - 14.25h

*

7

"Quem assusta um poeta militante ?"

Militante de causas empolgantes

Sem rodeios, por vias elegantes

Numa argúcia de fino estudante
*

Vê um facto analisa num instante

Rodeia-o de flores cintilantes

Com cores e com cheiros odorantes

E com ritmo alegre e bem cantante
*

Escreve-se um poema a cada dia

E cria-se aventura ao redor

Inventa-se uma forma de alquimia
*

Que faz subir a alma em valor

E temos sempre à volta alegria

E vê-se em todo o lado só amor

Custódio Montes

(11.10.2020)
*

8

"E vê-se em todo o lado só amor"

Que é esse o fim maior dessa alquimia

E o mais belo dos frutos de quem cria

Vencendo a cada dia a própria dor.
*

Assim se tece a manta ou cobertor

De quem, antes do verso, só tecia

Restos de coisas que a maré trazia,

Pequenos nadas sem qualquer valor.
*

Bem sei que o que tecemos nada vale

Segundo as cotações dos (maus) mercados,

Mas para nós terá um valor tal
*

Que mesmo os ouros, pratas e brocados

Parecerão menores do que um dedal

Face a poemas tão multiplicados.
*

Maria João Brito de Sousa - 11.10.2020 - 16.04h
*

9
*

“Face a poemas tão multiplicados”

E cheios de euforia e de desejo

Em harmonia ao som de realejo

Ou mesmo em concertos musicados
*

Recordando momentos já passados

Em teias que ao longe ainda vejo

Amores encontrados e aos beijos

Ou num Éden em flor bem abraçados
*

Canta e ri o soneto à nossa beira

E ao longe a olhar e ver o mar

Envolto em lindo canto de sereia
*

Ou envolto num baile e a dançar

Com pérolas à volta que semeia

Em árias envolventes a cantar
*

Custódio Montes

(11.10.2020)
*

10

*

"Em árias envolventes a cantar"

Vai-se o fértil soneto alimentando

E mais versos produz, multiplicando

As fontes que o virão a alimentar
*

Quando algum dia o verbo lhe faltar

E os abraços lhe forem rareando;

É cigarra/formiga aproveitando

As últimas migalhas do jantar...
*

Mas não cuida o soneto de calar

O tanto que devia estar calando,

Que se um soneto nasce é pra sonhar
*

E assim que as migalhas vão bastando,

Nada mais colhe, quer é semear;

Quanto de si nascer, ir-vos-á dando.
*

Maria João Brito de Sousa - 11.10.2020 - 17.35h

*

11

*

“Quanto de si nascer, ir-vos-á dando”

Amor, muito carinho e vistas largas

Amparo e defesa com adargas

E um sonoro hino escutando
*

 

Torrentes acalmadas e virando

Lagos tépidos, plácidos, sem vagas

Cercados por extensas, lindas vargas

E aves em seus bandos adejando
*

 

Andamos por campinas aromadas

Dançando ao sabor de suave vento

E parando nas encostas nas quebradas
*

 

Erguendo bem ao alto o pensamento

Devagar a lembrar as namoradas

Que foram no amor nosso alimento
*

Custódio Montes

(11.10.2020)
*

12
*

 

"Que foram no amor nosso alimento"

Durante toda a nossa juventude;

O amor em jorros vence cada açude,

Enérgico, imparável, turbulento...
*

 

Assim jorra o soneto e sopra o vento

Que é tão veloz que a si mesmo se ilude

E crê ver mal onde há tão só virtude

Ou vê virtude em gesto truculento...
*

 

Cantemos, pois, o "ledo, ledo" engano

Que num tão doce sonho nos mergulha

E pra sempre o fará, ano após ano,
*

 

Se amor é pomba quando em nós arrulha

Talvez vista o soneto o mesmo pano

Que esse Amor costurou com fina agulha...
*

 


Maria João Brito de Sousa - 11.10.2020 - 20.06h

*
13

*

“Que esse amor costurou com fina agulha”

Com a malha apertada e bem cosida

E afagos que se fazem de seguida

Como pomba a voar e que arrulha
*

 

O soneto encandeia, é fagulha

Que arde ao vento e passeia na ermida

E transporta o amor que de vencida

O oásis conquista e aí mergulha
*

 

O soneto é poema encadeado

Uma flor bem cheirosa de jardim

Com limalhas de ouro emalhetado
*

 

Cacho de uvas comido até ao fim

Em banquete festivo e requintado

Asas brancas de sábio querubim
*

 

Custódio Montes

(11.10.2020)
*

14

*

 

"Asas brancas de sábio querubim"

Tem o soneto quando a mim se abraça

O dom de mergulhar-me em doce graça,

Tanta, que nunca dantes vira em mim...
*

 

Não sei, soneto, por que te amo assim

E tanto mais quanto mais tempo passa,

Só sei que não há nó que eu não desfaça

Pra te manter viçoso em meu jardim!
*

 

Agora que sei como cultivar-te

Pra ver-te forte e belo e criativo,

Assim, todo paixão, engenho e arte,
*

 

A quem disser da morte estares cativo

Imporei que não ouse difamar-te:

"- Não acho e penso até que está bem vivo"!
*

 


Maria João Brito de Sousa - 12.10.2020 -09.17h

 

 

 

 

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