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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
29
Mai23

DINAMENE - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

camoes e dinamene.jpg

Imagem retirada daqui

*

DINAMENE
*
Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*

Dinamene, onde estás que não te vejo

As ondas ocultaram-me o olhar

Porque o barca não pára de oscilar

Já desde que saí do rio Tejo
*


Vou em frente à procura dum desejo

Sê amiga a ajudar-me a encontrar

Esse cais para eu desembarcar

E assim realizar o meu ensejo
*

Uma amiga indicou-me um velho cais

Num jardim onde andou a minha idade

Vou em frente, haja mesmo vendavais
*

Para voltar a ter felicidade

Oh Dinamene, afasta os temporais

Que não aguento mais esta saudade
*

Custódio Montes

28.5.2023
***

2.
*

"Que não aguento mais esta saudade"

Mas foi vossa essa escolha meu senhor,

Que bem maior foi esse estranho amor

Ao que escrevestes, do que ao que me invade...
*


Forte amor foi o meu que na verdade

Por vós perdi a vida e o esplendor

E ao vosso mar, senhor, sei-o de cor

Que me afundei na sua imensidade...
*


Cuidai que o vosso Tejo me não esqueça

Que, às tempestades, tentarei detê-las

Contanto que Poseidon não me impeça
*

E que Éolo, ao soprar nas vossas velas,

Do que lhe peço nunca desmereça,

Senhor das minhas horas mais singelas.
*

Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

18.05.2023 - 13.50h
***

3.
*
“Senhor das minhas horas mais singelas”

Cuida deste meu barco que à deriva

Não mais me leva ao pé da minha diva

Vencendo as altas vagas e procelas
*


Olimpo, endireita-me estas velas

Que o regresso à saudade me cativa

Na alma que se anima e se activa

Para alcançar as margens ledas, belas
*


Neste imenso ruído à minha volta

Quero encontrar a paz e dar-lhe a palma

E não andar num mar revolto à solta
*

Éolo, pára os ventos dá-lhes calma

Ajuda este meu barco, faz-lhe escolta

Para encontrar o amor desta minha alma
*

Custódio Montes

28.5.2013
***


4.
*
"Para encontrar o amor desta minha alma"

À vida eu voltaria, se pudesse,

Mas já não escuta Deus a minha prece

Nem vós, senhor, ao mar bateis a palma
*


Por isso jazo imersa nesta calma

Das profundezas que ninguém conhece

E esta que vos amou calma parece

No abismo negro e frio, sem ver vivalma...
*


Ah, pudesse eu voltar, por um momento,

Aos vossos braços, respirar enfim,

Para vos dar um pouco mais de alento
*


Mas quase nada sobra já de mim

Enquanto a vós vos sobra um tal talento

Que humano algum jamais o teve assim!
*

Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

28.05.2023 - 15.10h
***

5.
*

“Que humano algum jamais o teve assim”

Só Deus o pode ter não um humano

E quem não pensa assim é puro engano

Porque o homem não tem poder sem fim
*


Mas deixemos de lado esse latim

Senão o Poseidon dá um abano

Cobre-nos o veleiro com um pano

E lá vai água abaixo este festim
*


Sigamos, pois, avante na viagem

Para ver se encontramos, na verdade,

O que queremos ver lá junto à margem
*


Regressando talvez à nossa idade

Com a beleza e graça de ser pajem

E afastar por momentos a saudade
*

Custódio Montes

28.5.2023
***


6.
*

"E afastar por momentos a saudade"

É tudo o que mais posso ambicionar,

Mas fui vencida pelo grande mar

E morri quando em plena mocidade
*


Se assim, senhor, me fui na flor da idade,

Que sempre vos lembreis de me lembrar:

Como eu amei ninguém vos há-de amar,

Mas se outra vos trouxer felicidade
*


Ide, senhor!, gozai essa ventura

Que, a mim, tão cruamente me roubaram

Quando era tão menina e bela e pura...
*


Amainai, vagas, que os ventos mudaram!

A vossa barca está livre e segura,

Mesmo morta os meus braços vos amparam!
*

Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

28.05. 2023 - 17.30h
***

7.
*

“Mesmo morta os meus braços vos amparam”

Coitada, mesmo morta, ainda pensa

Que recebe do amor a recompensa

No meio dessas ondas que a levaram
*


Dinamene, as lembranças que ficaram

Voaram pelo mundo sem licença

E lembram tua imagem, tua crença

E como património nos honraram
*


Se te livrares da morte, dos grilhões

Que te levaram nova e imatura

Regressa para os nossos corações
*

Amar-te-emos mais - que és tão pura -

Como te amou o épico Camões

Sem voltar a morrer nessa aventura
*

Custódio Montes

28.5.2023
***

8.
*

"Sem voltar a morrer nessa aventura",

Pudesse eu renascer como imortal

Pr` amar o meu senhor de modo tal

Que me estimasse mais que à literatura...
*


Estou, porém, morta. Resta-me a candura

De me saber tão pura e tão leal

Que lanço a minha voz feita de sal

Até vós, meu senhor, minha ventura!
*


Vós, vivos, que escutais os meus lamentos

Nada fareis por mim. Talvez lembrar

A escrava que passou por mil tormentos
*


E a jovem que acabou por se afogar

Mas que ao falar-vos vence os elementos

E, por amor, seduz o próprio mar!
*


Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

28.05.2023 - 19.20h
***
9.
*

“E, por amor, seduz o próprio mar”

Que a tragou no seu ventre tão profundo

Que abarca muito mais que meio mundo

Mas que a mantém imersa num altar
*


Amante que salvou sem se salvar

Tão bela com seu ar fresco e jucundo

Levada pelo mar fero, iracundo

Que depois a prendeu para a amar
*


Agora com o mar ela é poder

E continua amante interessada

Ajuda quem lhe pede para ver
*


Se lhe pode encontrar a sua amada

Atenuando a dor e o sofrer

Como quem sonha ali ter uma fada
*


Custódio Montes

28.5.2023
***

10.
*

"Como quem sonha ali ter uma fada"

Me quis o mar prender... e me prendeu

E foi o meu senhor quem me perdeu,

Esse que amei como ama uma encantada
*


Bem me viu, meu senhor, quase afogada,

Mas nem essa aflição o comoveu,

Que foi ao manuscrito que escolheu

E não a mim que me julgava amada...
*


Agora foi o mar que me tornou

Sua escrava leal. Eternamente

Serei escrava que a escrava retornou
*


Neste meu trono de algas, não sou gente,

Que em gente nunca o mar me transformou,

Nem Poseidon me deu o seu tridente!
*


Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

28.05.2023 - 20.50h
***


11.
*

“Nem Poseidon me deu o seu tridente”

Mas és muito importante na magia

Que entregas e que dás à poesia

Por salvar Portugal e sua gente
*


Perante a destruição quase eminente

Do livro que nos dá tanta alegria

Salvou-o o escritor que se afligia

Com a mão livre e um olho somente …
*


Tinha uma mão ao alto e a outra mão

Afastava a procela ao seu redor

E nessa grande e enorme confusão
*


Não sabia qual era o bem maior

Que tinha ali bem junto ao coração….

Perdendo um, salvou o outro amor
*

Custódio Montes

28.5.2023
***

12.
*

"Perdendo um, salvou o outro amor"

E crerás tu que o deva perdoar

Por conseguir um outro amor salvar

Entregando-me à minha eterna dor?
*


Talvez tenhas razão e, se assim for,

De que me vale agora lamentar?

Amor de escrava só o quer o mar

Que nela descarrega o seu furor...
*


Tu, que estás entre os vivos, desconheces

O que é ser-se uma eterna prisioneira

Das profundezas em que permaneces
*


Dia após dia, a eternidade inteira,

Sem que ninguém atenda às tuas preces

Nem entenda se és falsa ou verdadeira!
*

Dinamene

por

Mª João Brito de Sousa

28.05.2023 - 22.45h
***
13.
*

“Nem entenda se és falsa ou verdadeira”

Mas que queres que diga? Na verdade

Eu sou ninfa e por toda a eternidade

Mesmo que me aflija e o não queira
*


Camões logo soube isso e à primeira

Quis namorar comigo e à vontade

Andou à minha volta em liberdade

E correu o mar todo à minha beira
*


Mas com a tempestade veio a onda

Que nos forçou a andar dentro e fora

Agora não há sítio onde me esconda
*

Vagueio pelo mar a toda a hora

E só me encontrarão andando à ronda

Sem pressa, devagar e com demora
*

Custódio Montes

28.5.2023
***

14.
*

"Sem pressa, devagar e com demora"

Eu hei-de procurar-te, Dinamene,

Ainda que sem vela e que sem leme

Me perca mar adentro, ou mar afora...
*


Seja eu eterno só por uma hora!

Não haverá ninguém que me condene

Nem um segundo, só, em que não reme

Para encontrar-te onde uma vaga aflora!
*

Não cessarei, amor, de procurar-te

Nesse mar que, por ter-te, agora invejo,

E do qual, meu amor, hei-de arrancar-te
*


Pra devolver-te à vida num só beijo,

Que amar-te assim, amor, também é arte:

"Dinamene, onde estás que te não vejo"?
*


Lviz Vaz de Camões

por


Mª João Brito de Sousa

29.05. 2023 - 00.00h
***

 

DINAMENE (1).jpg

 

 

 

 

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