DIAS TRISTES - Helena Fragoso e Mª João Brito de Sousa
DIAS TRISTES
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Coroa de Sonetos
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Helena Fragoso e Mª João Brito de Sousa
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1.
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Há dias e dias na vida da gente
Uns que nos sorriem, outros que até não…
Há os que nos fazem torturas à mente…
São aos quais eu chamo de " dias de cão".…
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Tem uns que são duros e que num repente
Emanam tristeza…nos deitam ao chão….
Até nos destroem a alma, a pureza
Só nos trazem mágoas, dor na contramão…
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Tem dias que tudo nos parece ausente
Em que nada vibra, nada se consente…
Dias em que o mundo é mera ilusão….
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Enfim, dias tristes em que consciente,
Nossa alma chora, sentindo latente
A saudade, as mágoas e a solidão…
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Helena Fragoso
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2
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"A saudade, as mágoas e a solidão"
Podem, minha querida, ser tão passageiras
Quanto o são as aves, se de arribação,
Ou as altas chamas de alguma fogueira
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Que ao fim de umas horas se consumirão
Pra deixar só cinzas brancas e poeira...
Sim, há dias tristes, há "dias de cão",
E há dias que são riso e brincadeira
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Nesta nossa estrada, em vez de alcatrão,
Há pedras bem duras a forrar o chão
E arbustos com espinhos mesmo à nossa beira
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Mas nós prosseguimos. Não, não foi em vão
Que continuamos nesta direcção,
Neste mundo (quase) carrossel de feira!
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Mª João Brito de Sousa
29.11.2022 - 15.15h
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3.
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Neste mundo (quase) carrossel de feira
Que descompensado corre sem noção
Com dias que roubam e de que maneira
Nossa paciência e concentração...
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Tem dias que a vida não se mostra inteira
E em que nossos passos se colam ao chão.
Dias em que os sonhos ardem na fogueira
Só restando as cinzas da desilusão…
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E neste caminho, nesta ribanceira
Os dias que passam seguem de maneira
Que haja riso, pranto, dor e solidão…
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Tem dias que a vida na sua cegueira
Nos deixa sem rumo, sem eira nem beira.
Perdidos nas sombras e na escuridão…
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Helena Fragoso
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4.
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"Perdidos nas sombras e na escuridão"
Sem ver mais que um palmo do nosso futuro
Tornámo-nos sombras tecidas no escuro,
Quase inexistência, quase assombração...
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Mas todas as sombras são a projecção
De algo consistente, volumoso e duro,
Que pode ser gente ou somente um muro
Cuja sombra é fruto... de iluminação
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Sem luz, minha amiga, por pouca que seja
Não haverá sombra, nem quem nela esteja
Tão desiludido quanto estás agora:
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Salta-me esse muro que, do outro lado,
Tudo está mais claro, mais iluminado
E verás que as sombras terão ido embora!
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Mª João Brito de Sousa
07.12.2022 - 11.50h
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5.
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"E verás que as sombras terão ido embora"
Levando com elas dor e solidão
Nasce um novo dia, uma nova aurora
É um dia triste? Diria que não…
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Um dia que corre nesse mundo afora
Formando um oásis mantendo a ilusão
Que há dias felizes e que a qualquer hora
Os dias mais tristes se transformarão
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Ao pular o muro vi sombras lá fora
Vi dias sorrindo numa ou outra hora
Vi sombras andando pela escuridão..
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Então ao ver tudo, voltei, vim embora,
Pensei nesses dias que vão mundo afora
Uns tristes, é certo... outros até não.
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Helena Fragoso
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6.
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"Uns tristes, é certo... outros até não"
Que se nuns chorei, nos outros me ri
E entre choro e riso muito eu aprendi
Ao subir o muro da contradição:
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Vi os que acumulam milhão a milhão
E os que moirejam não tendo pra si
Nem um pedacinho do que nalguns vi,
E vi os sem-terra junto dos sem-pão
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Sucumbindo às bestas do nazi-fascismo
Que, por todo o mundo, escava um sujo abismo
Em que os dias - todos! - são de escravidão!
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E pra que não seja mais do que um aviso,
Pra que sobrevivam os dias do riso,
Que nos não enganem as bestas que o são!
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Mª João Brito de Sousa
09.12.2022 - 11.35h
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7.
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"Que nos não enganem as bestas que o são"
Ferozes selvagens sempre assim os vi…
Negando aos mais pobres a casa e o pão
Com cruéis discursos como sempre li….
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Existe a esperança, não é ilusão…
E talvez por isso eu nunca a perdi
Tem dias sorrindo, sim, na contramão
Desses tristes dias que também vivi…
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Tem dias risonhos que bem os senti
Que enquanto duraram amei e sorri
Mesmo que só fossem total ilusão…
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Nos outros, nos tristes, até me perdi
Com tanta maldade como nunca vi
Fruto desta nossa civilização…
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Helena Fragoso
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8.
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"Fruto desta nossa civilização"
Que ao capitalismo tanto idolatrou,
Renasce o nazismo do que del` sobrou,
Mais letal que um vírus, mais sem compaixão
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Mas se há esp`rança ainda de lhe pôr travão,
Esses dias tristes em que a dor cravou
Punhais de aço puro nos que dizimou,
Em dias felizes se transformarão!
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Planta a tua esp`rança companheira amiga
Para que ela em breve se transforme em espiga
E pra que da espiga nasça essoutro pão
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Que consola a alma e conforta a barriga,
Que ora trigo loiro, ora uma cantiga,
Tanto é poesia quanto é refeição!
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Mª João Brito de Sousa
13.12.2022 - 17.20h
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9.
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"Tanto é poesia quanto refeição,"
Que alimenta a alma, que dá cor à vida
Nesses dias tristes que sem compaixão
Tudo vai embora sem ter despedida…
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Mas tem um momento de consolação
Em que os dias chegam sorrindo pra vida
Dias de alegria de amor de paixão
De uma liberdade por nós conseguida…
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Aí companheira de luta de vida,
Sorriem os dias na paz que é vivida
Em nossos momentos de satisfação…
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E os dias tristes estarão de partida
Levando tristezas retalhos de vida…
Deixando alegrias, paz no coração.
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Helena Fragoso
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10.
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"Deixando alegrias, paz no coração"
Como a que hoje sinto por de novo ler-te:
Não há mais angústia que me desconcerte
Nem que a voz me tolha pra prender-me ao chão!
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Virão alegrias, amiga, virão,
Embora eu não possa, certeira, dizer-te
Quando exactamente sorrirão ao ver-te,
Só posso afirmar-te que te sorrirão
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E estes tristes dias que a tantos oprimem,
Serão apagados pelos que redimem
Todas as angústias e todos os prantos
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Virão dias claros que os prantos suprimem
E enquanto aguardamos, nossos versos exprimem,
Nos sonhos de agora, a esp`rança de tantos!
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Mª João Brito de Sousa
18.12.2022 - 15.05h
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11.
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Nos sonhos de agora a esprança de tantos…
Que com fé desejam a paz neste mundo…
Dias de tristeza e outros de encantos…
Faz parte da vida, verdade no fundo…
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Nesses dias tristes, nem sabemos quantos,
Dias do fascismo, um momento imundo…
Sofreram na carne, e Deus…foram tantos…
Outros que sumiram nesse submundo…
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Mas vamos em frente construindo a fundo
Um novo universo a bem deste mundo
Uns dias, sim, tristes, outros serão santos …
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E mesmo algum ódio, talvez iracundo
Se transforme em sonhos em sonhos que a fundo
Serão mesmo a esprança, a esprança de tantos…
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Helena Fragoso
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12.
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"Serão mesmo a esprança, a esprança de tantos"
Que de novo vêem erguer-se o nazismo
Conquanto o julgassem morto em cada abismo
Que o próprio cavara por todos os cantos
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Foi enorme o pasmo, grandes os espantos
Que nos abalaram como um brutal sismo,
Mas de novo calmos, quebrou-se o mutismo
E entre os que resistem não cabem mais prantos
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Não sei dizer como, nem sei dizer quando,
Mas vejo o nazismo de novo afundando
No profundo abismo que pra nós cavou
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Não será com balas, mas será lutando
Que os que quer esmagados o irão esmagando
Até que digamos: - O monstro acabou!
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Mª João Brito de Sousa
18.12.2022 - 19.15h
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13.
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"Até que digamos o monstro acabou"…
Até que tenhamos paz e liberdade…
Até derrotarmos quem nos torturou
Com ódios, com guerras, matanças, maldade….
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Até que vejamos que o mundo mudou
Que haja novos dias de luz, claridade…
Que os dias renasçam do bem que os criou
Os dias felizes a bem da verdade…
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Há dias e dias que a vida mudou
Com tudo o que a gente viveu e lutou
Até houve dias deixando saudade…
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Os tais dias tristes que o vento levou
Os dias risonhos que o sol nos doou
Tristes ou risonhos … dias de verdade…
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Helena Fragoso
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14.
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"Tristes ou risonhos... dias de verdade",
Dias que nos encham de amor e de paz,
Dias que nos mostrem que há gente capaz
De remir os erros desta sociedade,
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De implantar, no mundo, a solidariedade
Com fundas raízes, não breve e fugaz,
Dando um passo em frente e, a seguir, dois atrás,
No que vai tocando à nossa liberdade...
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Que a guerra entre os povos termine de vez!
Se aquilo que vejo é também o que vês,
Que quem sofre e paga é quem está inocente,
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Então, companheira, que pague quem fez
De cada alegria, dor e morbidez:
"Há dias e dias na vida da gente"!
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Mª João Brito de Sousa
21.12.2022 - 13.50h
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