DIALOGANDO COM JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS
SONETO PRESENTE
Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.
Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como um poeta ou um cavalo
de pé como quem deve estar quem é.
Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu.
Aqui ninguém me põe a pata em cima
porque é de baixo que me vem acima
a força do lugar que fôr o meu
José Carlos Ary dos Santos, in "Resumo"
SONETO DE "ANTES QUEBRAR QUE TORCER"
E que posso dizer-te que não saibas
Melhor dizer do que eu jamais direi?
Poeta, não há sonho em que não caibas,
Nos sonhos infindáveis que eu sonhei,
Nem há garra maior, mais ternas raivas,
Nem palavras, das tantas que engendrei,
Nem unhas com que as laive como as laivas,
Nem dedos, nem paixão, nem regra, ou lei,
Mas, vender-me? Isso não, nunca o faria!
Como tu, mais depressa quebraria
Do que me vergaria à adulação
E pata que me pise é pata morta,
Que eu mesmo sendo fraca, sei ser "torta"
E sei, tal como tu, dizer que não!
Maria João Brito de Sousa - 24.11.2016 - 18.29h