DIA DE PORTUGAL DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
Luiz Vaz de Camões
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OLHOS FERMOSOS EM QUEM QUIS NATURA
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Olhos fermosos, em quem quis Natura
mostrar do seu poder altos sinais,
se quiserdes saber quanto possais,
vede-me a mim, que sou vossa feitura.
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Pintada em mim se vê vossa figura;
no que eu padeço retratada estais;
que, se eu passo tormentos desiguais,
muito mais pode vossa fermosura.
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De mim não quero mais que o meu desejo:
ser vosso; e só de ser vosso me arreio,
por que o vosso penhor em mim se assele.
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Não me lembro de mim, quando vos vejo,
nem do mundo; e não erro, porque creio
que, em lembrar-me de vós, cumpro com ele.
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Luís de Camões
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Eu no meu melhor ângulo, fotografada por Carlos Ricardo
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I
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Tal quis Natura por um breve instante
Que está Natura sempre em movimento
E nunca hesita em nos privar de alento
Se algum de nós se mostra algo ofegante
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Ao vate juvenil, forte e pujante
Que cria versos ao sabor do vento
E que, sorrindo, a tudo esteja atento
Dá-lhe Natura o dom de ser galante
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Porém ao que envelhece e que hesitante
Mal pode garantir o seu sustento
Rouba Natura a graça e só garante
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Que a Morte em breve finde o seu tormento
E que o guarde consigo, enfim distante
Dos mais a quem legou esforço e talento
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II
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Nunca nos dá, Natura, um dom constante,
Que para tal não tem consentimento
E o maior esplendor não fica isento
De transformar-se em cinza fumegante
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Que o Tempo é, de Natura, eterno amante
E ao moldar-nos o corpo é violento:
Jamais vereis as rugas que ora ostento,
Nem o meu passo já cambaleante...
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Estais muito longe e disso me contento
Porquanto não sabeis quão humilhante
Fora poder mostrar-me um só momento:
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Tão gasta estou e tão deselegante
Que implorarieis pl`o distanciamento
Desta que credes bela e fascinante.
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Mª João Brito de Sousa
10.06.2024 - 00.00h
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O soneto de Camões foi retirado do blog Sociedade Perfeita