DE NOVO; FLORBELA E EU...
MARIA DAS QUIMERAS
Maria das Quimeras me chamou
Alguém... pelos castelos que eu ergui,
Plas flores de oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou...
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minha alma adormeci,
Mas quando despertei, nem uma vi,
Que da minh`alma Alguém tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores de oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados, que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?
Aonde estão os sonhos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?
Florbela Espanca
In "Livro de Soror Saudade"
MARIA SEM CAMISA
Maria sem Camisa, chamo-me eu,
Usando de ironia - ou talvez não... -
E espelhando, no nome, a condição
Do pouco, ou quase nada, que há de meu...
Desse ´baptismo` insólito nasceu
- não saberei dizer por que razão... -,
Da vossa parte, alguma confusão,
Da minha, a força hercúlea que me ergueu,
Pois, sem camisa, embora enregelada,
Sobrevivo há ´milénios`, produzindo,
E de oiro(s) me cobri, não tendo nada;
Das infindas carências vão surgindo
Os versos que, no metro bem escorada,
De oiro e de seda azul, me vão cobrindo...
Maria João Brito de Sousa - 30.10.2016- 17.00h
(Inédito, respondendo ao soneto "Maria das Quimeras", de Florbela Espanca)