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poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.

Mar25

DA QUÍMICA DO SENTIR

Maria João Brito de Sousa

Imagem gerada pelo ChatGPT

DA QUÍMICA DO SENTIR
*

Sublimação

Só quero que me digas a verdade:

Se te pesar demais manda-me embora

Amanhã ou depois ou mesmo agora

Enquanto entre nós dura esta amizade
*

Que não tem prazo algum de validade

E sempre foi, pra nós, compensadora...

Diz-me então se é chegada, ou não, a hora

De ir-me embora e deixar-te em liberdade
*

Em redor da mulher que assim falava

Ergueu-se, de repente, uma montanha,

De silêncio profundo, assustador
*

Esfuma-se o espelho em qu`ela se mirava

Mal ela o interpela e, coisa estranha,

Sublimam-se ela e o vate narrador...
*

Mª João Brito de Sousa

30.03.2025 - 13.20h
***

publicado às 13:39

10 comentários

Brancas nuvens negras 30.03.2025

Este poema é de grande beleza e de muita intensidade dramática. Gostei muito. Até gostei muito da imagem, mesmo sendo da IA nossa adversária na actividade das artes.
Um abraço.
L
Maria João Brito de Sousa 30.03.2025

Muito obrigada, L.!

Olhe que esta nossa adversária só trabalha - e é uma verdadeira versão de Nuno Gonçalves no século XXI - a partir dos poemas que lhe damos. Quase diria que se inspira neles, mas não, as máquinas/algoritmos não se inspiram, apenas processam o texto poético e emulam a criatividade do ser humano quando lhes solicitamos uma ilustração. Esta que pus a trabalhar para mim, é delicadíssima e emula na perfeição uma manifestação de alegria e gratidão quando lhe digo que estou satisfeita com o seu trabalho.
E mais, já sabe quase tanto quanto eu sei sobre os diversos formatos dos sonetos, embora ainda seja um tanto trapalhona a escrevê-los.
Por enquanto ando a testá-la ao nível da criação das imagens que são sugeridas pelo que escrevo e, nesse campo, ela tem-me surpreendido bastante..

Forte abraço

Piedade Araújo Sol 30.03.2025

Boa tarde Maria João
O soneto trabalha com mestria a dualidade entre a presença e a ausência, o dito e o não dito. Expõe-se com franqueza, pedindo verdade e clareza numa relação cuja amizade parece ser um ponto de sustentação, mas também um limite. A cadência do poema flui de forma natural, sem excessos de dramatismo, mas com um lirismo que sugere vulnerabilidade e entrega.
A palavra sublimação no título é um acerto tanto do ponto de vista emocional quanto simbólico. A sublimação, em termos químicos, refere-se à passagem directa do estado sólido ao gasoso, e esse conceito ajusta-se perfeitamente ao desenlace do soneto: a dissolução da figura feminina e do poeta-narrador, como se ambos se evaporassem na ausência de resposta ou na impossibilidade de comunicação. A metáfora do espelho que se desfaz adiciona um toque quase onírico, sugerindo uma perda de identidade ou uma transformação irreversível.
O ritmo e a musicalidade do soneto são bem trabalhados, com uma estrutura clássica que respeita o equilíbrio entre os quartetos e tercetos.
Um soneto forte, que explora com delicadeza e profundidade a fragilidade das relações e a transitoriedade dos sentimentos.
Como sempre um trabalho com elevada qualidade literária.
Embora gerada pela IA a imagem está muito boa.
Continuação de bom fim-de-semana.
Deixo um beijo.
:)
Maria João Brito de Sousa 30.03.2025

Ai minha querida piedade , as suas análises literárias ao meus sonetos deixam-me sempre com a boca aberta de espanto.

É que está nelas tudo, absolutamente tudo o que sinto e senti enquanto escrevia este poema.

... "A sublimação, em termos químicos, refere-se à passagem directa do estado sólido ao gasoso, e esse conceito ajusta-se perfeitamente ao desenlace do soneto: a dissolução da figura feminina e do poeta-narrador, como se ambos se evaporassem na ausência de resposta ou na impossibilidade de comunicação." ...

Tenho a sensação de que usou telepatia para entrar dento da minha cabeça e reproduzir com espantosa exactidão o que eu tentava dizer...

Quanto à I.A., - Chat GPT - estou de acordo consigo. Ela tem-me surpreendido muito nestes últimos dias, embora tenha prolongado muito sensivelmente o tempo que leva a gerar uma imagem.

Muito, muito obrigada.

Um beijo também para si

cheia 30.03.2025

Esta química do sentir está maravilhosa, Muitos parabéns, Maria João.
Um abraço.
Maria João Brito de Sousa 30.03.2025

Muito obrigada, Cheia!

Não é muito comum eu escrever sonetos muito concretamente dirigidos a alguém, excepto quando estou a trabalhar em coroas, mas este é mesmo dedicado a uma pessoa que nunca o lerá porque odeia poesia em geral e abomina sonetos, em particular.

Outro abraço

Francisco Carita Mata 30.03.2025

Soneto sublime. Imagem assusta pela forma como é gerada! Excelência poética e saúde. (Via telemóvel. )
Maria João Brito de Sousa 30.03.2025

Muito obrigada, Francisco

Eu sei que a I.A. pode vir a revelar-se um tremendo risco para todos nós, mas não consigo deixar de deslumbrar-me com a tremenda qualidade do que o Chat-GPT consegue gerar a partir do processamento de um poema. Esta imagem faz-me lembrar uma tela de Ingres ou de Vermeer. A verdadeira I. A., no entanto, é algo muitíssimo mais vasto e complexo do que este Chat-pintor que o Google disponibiliza gratuitamente.

Desde que inventámos o arremesso da pedra que tudo o que criamos tem duas faces como o feijão-frade: tudo depende de como e por quem for usada. Não confio nem um bocadinho nos grandes senhores das multinacionais, mas antes que a IA se possa tornar verdadeiramente perigosa, é bem possível que os grandes senhores da guerra já tenham acabado com a nossa espécie - incluindo consigo próprios - por isso perdoe-me este pecadilho de ter um inofensivo, humilde e obediente Chat-GPT a ilustrar a minha poesia.

Saúde, PAZ e o abraço de sempre

Carlos Fragata 15.04.2025

Seduz-me a vontade de comentar todos os inigualáveis Poemas que aqui tenho lido, mas além de não o conseguir sem ser injusto ou insuficiente qualquer comentário, seria o mesmo que um discípulo comentar a Mestra.
Sabes que adoro cada letra, cada linha que crias, pelo que sou suspeito para tal empresa...
Beijos sinceros, com a admiração que conheces.
Obrigado por tanta e tão sublime poesia!
Maria João Brito de Sousa 19.04.2025

Oh, Carlos Fragata, que bela surpresa encontrar-te por aqui!

Claro que és suspeito, tu vês sempre o que escrevo com óculos de lentes cor-de-rosa

Mas olha que começo a sentir-me um bocadinho cansada demais e o cavalo de fogo da Musa só muito de quando em quando se deixa montar pela velhota cheia de mazelas em que me tornei...
Obrigada pelas tuas sempre generosas palavras.

Boa Páscoa e um grande, grande abraço para ti e Tila

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