DA GRALHA - A Bainha Descosida
DA GRALHA
(A Bainha Descosida)
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Das gralhas que passam vestindo sorrisos,
Dos gestos precisos que, acaso, as refaçam,
Das névoas que embaçam contornos concisos
Dos passos nos pisos que nos ameaçam
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Se súbito passam a lisos, tão lisos
Que aos próprios sorrisos ali despedaçam
Sem que outros renasçam. Sisuda e sem siso,
Compõe longo friso, a gralha, se a caçam.
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Letrinha a letrinha me força a escrever,
Só para a não ver a tornar-se rainha
Da escrita que é minha, enquanto eu puder.
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Mas se eu a esquecer e escrever mais asinha,
A maldosa gralhinha vai sem se deter
Esgaçar, descoser, do vestido, a bainha.
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Maria João Brito de Sousa – 28.01.2019 – 11.05h