CONVERSANDO COM JOAQUIM SUSTELO - TEMPO
MURMÚRIOS DO TEMPO
Às vezes há murmúrios pelo tempo…
O vento geme em portas e janelas
As nuvens dissimulam as estrelas
O sol fica sem brilho, pardacento
O céu muda de azul para cinzento
A chuva traz-nos novas aguarelas;
Mudando a Natureza as suas telas
Talvez ela até faça algum lamento
Porém o tempo chora e há beleza
No cinza de que veste a Natureza
Embora haja uma bruma no seu rosto
Serão choros do tempo, de tristeza?
Há tratos que lhe damos com rudeza
Talvez haja no choro algum desgosto...
Joaquim Sustelo
(editado em MURMÚRIOS NO TEMPO)
...* ...
SILÊNCIOS DO TEMPO
Outras vezes o Tempo silencia
As vozes murmuradas dos poetas,
Guardando-as em caixas tão secretas
Que nem um adivinho as acharia
E ninguém sabe por que as guardaria,
Por que razão as cala se, directas,
Essas vozes se erguiam muito erectas
No tempo em que o poema resistia.
Lamentos, ou sorrisos, ficam mudos
Nas gavetas dos linhos, dos veludos
E das sedas que o Tempo resguardou
Dos humanos ouvidos, quais riquezas
Que se tornassem bem guardadas presas
Do silêncio a que o Tempo as condenou.
Maria João Brito de Sousa – 17.06.2018 – 14.47h
Imagem - O Poeta Pobre - Carl Spitzweg