CONVERSANDO COM ALDA PEREIRA PINTO
SONATINA XII (do livro "Treva Branca")
É bom que eu viva ao léu, pois me acostumo
à solidão que assusta a quem não crê,
pois se de algum receio eu sou mercê,
passeio, canto e ando, rio e fumo.
Num certo dia que virá, presumo,
não tendo amigos nem sequer você,
talvez que eu me lamente, só porque
a sorte não nos pôs no mesmo rumo.
E, se ao chegar a hora em que se apaga
a luz da vida, uma saudade vaga
quiser velar na minha soledade,
ouvidos não darei ao seu alento,
porque saudade é sempre sofrimento
por mais que seja alegre uma saudade.
Alda Pereira Pinto
Brasil
Soneto recolhido no blogue “O Secular Soneto”
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ENCONTRO CASUAL DE DUAS SOLISTAS
Não passeio, nem canto. Escrevo e fumo
enquanto grafo um verso... talvez dois...
outros doze, a jorrar, virão depois
completar-me o soneto em que me assumo
Reflexo de um poema – ou seu resumo... -
nos estilhaços em que o desconstróis,
honesto, firme, não sonhando heróis,
de ti colhendo o fruto. A polpa. O sumo.
Vi-te por mero acaso. Este soneto
foi o ponto de encontro, o mar secreto
onde já de partida eu navegava
Quando te vi passar rebelde, agreste...
Olhei-te fixamente, mas nem deste
por mim, que estranhamente em ti me olhava.
Maria João Brito de Sousa – 14.12.2017 – 09.00h
Portugal