CANTA-ME UM FADO - Reedição
"O Parto da Viola" - Amadeu de Souza-Cardoso
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CANTA-ME UM FADO
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I
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Canta-me um fado louco e rouco e tosco
Ao som de uma guitarra há muito gasta,
Num beco antigo e sob o brilho fosco
De uma gambiarra à porta de uma tasca
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Canta-me um fado enquanto em ti me enrosco
Pra me esquecer do pouco que me basta,
Um que venha depois viver connosco
E seja um genuíno fado rasca
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Canta-me um só de quantos nunca ouvi
Que mostre o que ganhei, o que perdi
E me faça sorrir enquanto choro
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Um que dê voz aos meus sonhos traídos
E devasse os sentidos proíbidos
De quanto não vivi e que hoje ignoro
*
II
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Não peço que me seja dedicado,
Baste que chegue até ao meus ouvidos
Em tom boémio ou triste e tão magoado
Que os acordes me soem a gemidos...
*
Vá lá! Canta-me um fado sussurrado
Que seduza os meus versos mal medidos,
Que me desminta os sonhos tresloucados
E me traga de volta os já perdidos
*
Um fado nado numa velha rua
Que uma viola parisse à luz da lua
Sem pressas nem cuidados nem parteira
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Nascido para amar ou pra morrer
Que me dedilhe a alma até doer
E até que dentro dele eu caiba inteira
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Mª João Brito de Sousa
11.04.2023 - 23.40h
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