ARPÉU
ARPÉU
*
Por tudo, por nada e por coisa nenhuma,
A voz se me esfuma, dolente, abafada,
Morrendo arrastada na franja da espuma
Que uma onda costuma bordar, se espraiada
*
Na areia molhada em que a voz se presuma
O véu de uma bruma jamais desvendada,
Tão espessa e velada que nada ressuma
Da alvura que assuma quando desfraldada.
*
Mas do espesso véu que aqui vos descrevo
Se a tanto me atrevo, sou vítima e réu,
Pois não sendo meu, sempre a todos o levo
*
E dói-me o que escrevo, mas lanço o arpéu,
Pois não posso eu pagar quanto devo
Senão neste enlevo convulso de ilhéu.
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Maria João Brito de Sousa – 17.01.2019 - 11.33h
Soneto hendecassilábico com rima interior encadeada
Imagem retirada daqui