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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
20
Mar22

AOS POETAS - Laurinda Rodrigues e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

no baloiço, com a mãe.jpg

AOS POETAS - Laurinda Rodrigues e Mª João Brito de Sousa
*

Coroa de Sonetos
*

 

1.
*

Estás parado porquê? A vida chama.

Ainda podes ser aquilo que és.

Nos teus dedos, a escrita te reclama

e a doce inspiração está aos teus pés.
*

O poeta é um esteta quando ama

expandindo o coração de lés-a-lés...

E, se embarca nesse barco em chama,

ainda tem palavras no convés.
*

Criar poemas é como criar seres

feitos de corpo e alma, se puderes

reconhecer nos versos tua pista.
*

Não se impõe alcançar protagonismo:

reinventa-te apenas e, no abismo,

dá um salto mortal de trapezista.
*

Laurinda Rodrigues
*


2.
*
"Dá um salto mortal de trapezista"

Faz ecoar, no ar, a tua voz,

Transforma o nada em verso que persista,

Desembaraça, enfim, todos os nós
*


Pra que não haja "contra" que resista

Aos teus infindos, decididos "prós",

Desenrola o novelo e faz-te à pista,

Que nem sempre os solistas cantam sós...
*


E mesmo que as alturas te amedrontem,

Serão dif`rentes das que enfrentaste ontem,

Cada dia é, pra ti, uma surpresa
*


Que irás compor conforme a melodia...

Faz a vénia no fim, que a cortesia

Serve-se fria, como a sobremesa
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 10.15h
***

3.
*

"Serve-se fria, como a sobremesa",

mas a doçura dá-lhe o seu aroma

que, para incautos surge com surpresa

a adicionar açucares ao que coma.
*


Acautela-te, pois, se fores obesa

ao devorares poesia nesse idioma

porque a doçura pode ficar presa

a alguma outra rima, que te doma.
*


Aceita o trocadilho, por favor,

mesmo que ele te incomode no odor

que tombou ao meu lado sem prever...
*


Perdi, a pouco e pouco, o meu rancor

e, estando lado a lado, com o amor,

não sei se dar abraços ou bater.
*

Laurinda Rodrigues
***


4.
*

"Não sei se dar abraços ou bater"

Em retirada deste palco imenso

Ficando este soneto por escrever,

Deixando por dizer tudo o que penso...
*


Mas vou ficar, nada tenho a perder

Senão umas ideias sem consenso

E antes quero abraçar-te sem ceder,

Do que ceder perdendo o meu bom-senso
*


Aceito trocadilhos, brincadeiras,

Saltos mortais... até aceito asneiras

Que podem ser pequenos palavrões,
*


Mas se um abraço for, melhor aceito!

Não há poeta que seja perfeito

E eu nunca sei quando meter travões...
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 15.30h
***

5.
*

E eu nunca sei quando meter travões

na louca correria onde me arrisco

a ter comedimento e não paixões

que aceito que me ofereças em petisco.
*


Porque isto de alimento às emoções

seja em que escala for esse teu isco

só entendo como provocações

pois nem te mordo, bato, nem belisco.
*


O jogo é entre corpo são e mente

feitas de uma audácia, de repente,

em gestos já fatais de tal sequência...
*


Passas-me a bola? Muito lentamente?

Porque, ao jogar tal jogo, a gente sente

que é melhor acordadas que em dormência.
*


Laurinda Rodrigues
***

6.
*

"Que é melhor acordadas que em dormência"

Jogar-se à bola, ao "mata" ou ao peão

E até xadrez que é jogo de paciência

Posso jogar, se não disseres que não...
*


Porém, se um verso faz interferência,

Esquece o xadrez; não há concentração

Que, em mim, resista ao verso e, numa urgência,

É pró verso que corro e estendo a mão
*


Mas, sim, passo-te a bola lentamente

E a bola passará mesmo à tangente

De um verso solto, perdido no ar
*


Depois? Depois será a tua vez...

Só não te esqueças do velho - UM, DOIS TRÊS,

A brincadeira vai recomeçar!
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 17.15h
***

7.
*

"A brincadeira vai recomeçar"

"Um, dois , três", ouviste ou não?

Andas teimosamente a versejar

num jogo que só é contradição.
*


Paras um pouco? Não queres descansar?

Se for preciso, dou-te um empurrão

até que a cama possas alcançar
*

mesmo que seja fora do colchão.

Isto é maldade pura, não te zangues

porque em mim os poemas estão exangues

e apostei em dizer só disparates.
*


Mas estranho! As letras saem langues

voando como peças, bumerangues

e os laços, que as ataram, não desates.
*

Laurinda Rodrigues
***

8.
*
"E os laços que as ataram não desates"

Para que continue a brincadeira

E embora eu seja pródiga em dislates,

Tentarei não fazer nenhuma asneira
*


Em todo o caso, nunca me maltrates,

Nem me tentes pregar uma rasteira...

Se caio, choro mais que o próprio Eufrates

E acabas afogada em choradeira
*


Mas, na verdade, não te ouvi chegar

E nem um mail chegou pra me avisar

Da existência de uma outra mensagem...
*


Alguém aqui meteu o pé na poça,

Ou, vendo-nos brincar, quis fazer troça

Da nossa estranha - mas feliz! - imagem...
*

 

Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 19.10h

***

9.
*

"Da nossa estranha - mas feliz! - imagem"

nasceram as pégadas sorrateiras

que fizeram um esboço de paisagem

onde eramos as grandes forasteiras.
*


Tenho medo! Socorro! É a linguagem

que fingimos sentir, bem companheiras,

gozando loucamente a vadiagem

das horas sem retorno mas certeiras.
*


Aqui me vês agora? escutas? sentes?

Parecemos ser p'ros outros as dementes

que, a cantar, enganam multidões?
*


A hora já é tarde e nunca mentes

quando dizes que são os meus repentes

que transformam em verso os corações.
*

Laurinda Rodrigues

***

10.
*

"Que transformam em verso os corações"

E vice-versa pois, frequentemente,

Tomam os corações as dimensões

De um poema que criamos irmãmente
*


E correm-nos nas veias furacões

Quando o verso nos nasce, assim, a quente,

Tão quente como a lava dos vulcões

Se como a lava brota, incandescente...
*

 

Também sinto que a hora é já tardia,

Que já esmorece a minha rebeldia

E que o vulcão, aos poucos, já se extingue
*

 

O ciclo circadiano impõe cumprir-se,

As letras deste ecrã estão a sumir-se

E a minha vista já mal te distingue...
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 20.30h

***

11.
*
"E a minha vista já mal te distingue"

por tanto olhar o meu famoso ecran.

Mas não faz mal porque não se extingue

a criação dos versos e o elan.
*


Quem não entende desejo que se mingue

porque - posso dizer - não é meu fã

e fazer Coroas é como andar no ringue

ao som maravilhoso do tantan.
*


Brincar, desafiar, próprio da gente

que ousa na desgraça estar contente

sem ficar atascado em frustração...
*


Mas se, mesmo assim, não é diferente

e, dando tanto, ainda estás carente

já não tenho maior consolação.
*

Laurinda Rodrigues

***

12.
*

"Já não tenho maior consolação"

Nem penso de outra forma vir a tê-la

A menos que me falte inspiração

E vá olhar o Sahara da janela
*


Ou veja, no ecrã da tel`visão,

A guerra na versão "telenovela"

(e disto não te falo sem razão,

nem brinco com tensões que surjam dela!)
*


"Bora" brincar às c`roas companheira?!

Correrão musas para a nossa beira

E, sendo duas, passamos a quatro;
*


Se quisermos brincar às escondidas,

Sempre acharemos almas convertidas

Ao verso "coroado" ao desbarato...
*


Mª joão Brito de Sousa

19.03.2022 - 10.15h

***

13.
*

"Ao verso "coroado" ao desbarato"

mas sempre caro na sua prontidão

fazemos elegia, sem estar farto

esse mágico empenho da razão.
*


Mas não se entenda a razão sem tato

porque tatear faz bem à emoção.

Até, se for preciso, tiro o fato

e mostro como é o meu cordão
*


umbilical, cordão do nascimento,

mesmo que não nasça de um portento

que é reconhecido pelo nome.
*


É preferível esconder-me no cimento

de uma casa onde não entra o vento

e onde não há medo nem há fome.
*

Laurinda Rodrigues
***

14.
*

"E onde não há medo nem há fome",

Há sempre espaço prá Felicidade,

Prá Poesia - que também se come -

E para tudo quanto nos agrade
*


Só não haverá espaço pra quem some

Milhões à custa da fatalidade,

Nem pra quem a Razão nos aprisione

Em nome duma imensa falsidade
*


Sigamos pois a rota dos sem-medo,

Mesmo que embata a Barca num rochedo

Ou se perca no crude da derrama
*


Nada nos chegará de mão-beijada!

Pergunta a quem, olhando, não vir nada;

"Estás parado porquê? A Vida chama"!
***

Mª João Brito de Sousa

10.03.2022 - 12.00h
***

 

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