Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
Obrigada, Poeta! A iniciativa e o trabalho de montagem do vídeo foram da amiga Maria de Lourdes M. Henriques, do Horizontes da Poesia. Também foi uma surpresa para mim!
Que essa vossa caminhada Traga o sabor do pão quente E, apenas, parte da estrada Que percorre toda a gente;
Se a Vida não está parada, Se sempre caminha em frente E cresce e é renovada, Cada passada é semente
Que a cada passo é lançada Mais certa, ou erradamente, Na terra seca, ou molhada,
Mesmo que o sol esteja ausente E ás vezes, por tudo e nada, Pareça menos contente...
Maria João
Aqui vai, Poeta, o que me ocorreu, assim, de repente... Um pouco pior (eu), desde ontem à tarde, tem-me sido mesmo absolutamente necessário passar a maior parte do tempo deitada. Veremos como cumpro, ou não, a minha caminhada de hoje.
Peço desculpa por não termos tido a oportunidade de ler alguns sonetos, eu e o Joaquim Sustelo, conforrme estava programado, mas as pessoas começaram a sair e já não foi possível terminar a palestra segundo o que quereríamos.
Ah... loucura não filtra nada, Bem muito pelo contrário Porque, abrindo a porta errada, Faz, dum gato, um dromedário
Dando, à coisa visionada, Um bizarro corolário Que a pobre gente, enganada, Julga ver nesse cenário...
Gente há que nada sabendo - gente, ignorante, imatura... - Julga mal, logo dizendo
Que toda e qualquer procura Passa a ser, quando não sendo, Fruto de humana loucura...
Maria João
Estava a ver que não conseguia... mas consegui responder a mais este seu sonetilho, Poeta. Tenho estado a piorar e cada passo dado, cada frase lida e processada me estão a custar muito, por enquanto... e sei lá até quando... Quanto ao "alegado filtro da loucura"... Poeta, já lidei com demasiadas pessoas dementes para poder falar disso com ligeireza. A demência não filtra coisa nenhuma, é tremenda e provoca um sofrimento atroz. O nosso conceito de loucura é que muito pobre e demasiado complacente; facilmente chamamos loucura àquilo que vai um pouco além dos padrões da mais sofrível das normalidades... fazêmo-lo por pura ignorância do que é, efectivamente, uma demência.
Talvez haja um lado errado E talvez pelo bueiro Se saia desse tal lado, Quem sabe, de corpo inteiro..
Talvez coisa reactiva, Talvez coisa funcional, Coisa degenerativa, Dessas a que chamam "mal"...
Passível de tratamento? Com certeza! Sê-lo-á, Com ou sem internamento,
Mais controlada estará... Só não sei se esse tormento Algum dia acabará...
Maria João
Poeta, penso que me descreveu um quadro clínico de um qualquer distúrbio mental que não posso identificar... mais uma vez, respondo um pouco "às cegas". Desta vez também no sentido literal da expressão, pois mal vejo o que escrevo...
Será sempre desejável Ter bom-senso, lucidez E, à noção do que é provável Juntar, sempre, a do "talvez",
Ir mendindo o mensurável, Ir descobrindo os porquês E analisando o palpável Dia a dia, mês a mês...
Porque somos ser`s pensantes, Faz-nos falta assim pensar... Nada volta ao que era dantes,
Tudo está sempre a mudar E as mudanças são constantes; Tudo muda sem parar...
Maria João
Poeta, a tosse voltou e, ontem à noite, estava de novo febril. Infelizmente nem tudo muda para melhor, assim, tão literalmente quanto o desejaríamos, tanto ao nível do pessoal, quanto do colectivo... estarei por aqui enquanto conseguir, mas bem menos regularmente do que costumava estar, porque cada vez me vai sendo mais difícil ver, manter a concentração e "processar" o que vou lendo. Esperemos que seja uma situação pontual e que dentro das tais seis semanas - agora já são cinco - a situação possa ter melhorado um pouco. Um GRANDE e grato abraço!
Poeta, estou mesmo,mesmo de saída para mais do que uma consulta e posterior entrega de "papeladas" burocráticas, mas... vou ver o que me sai, assim, de repente...
Tem o cérebro entupido? Poeta, tem a certeza? Digo-lhe já que duvido, Vendo a sua ligeireza...
Nunca o vendo adormecido E a rimar com tal destreza, Apesar desse ruído Tem alguma chama acesa
É, por vezes, divertido E manda embora a tristeza Quando não faça sentido
Vê-la somar-se em grandeza A verso que, comedido, Mostre tal delicadeza...
Bicharocos complicados, Somos, com toda a certeza; Alguns muito equilibrados, Outros não... mas, com franqueza!
São tais - e tão mal estudados... - Os dons desta natureza Que me parecem escusados Se olhados sem subtileza
Pois, antes de tudo o mais, Convém tudo ir aferindo, Não vão passar a "normais"
Os que, nunca reagindo; São "burros" convencionais Que , açoitados, vão sorrindo...
Maria João
Cá vai mais um bocadinho de "presunção da matéria", embora, conforme lhe disse, eu não costume gostar de tratar com esta ligeireza as situações de psicoses e demências que considero gravíssimas e que em tudo diferem das situações de desadaptação ditas reactivas.
O meu amigo Vitorino é o dono da última retrosaria de Grândola Vila-morena.
Conheci-o em pequenino, com 12 ou 13 anos quando lá era moço de recados.
A ÚLTIMA RETROSARIA
Passei por Vila Morena E numa praça pequena, Naquela retrosaria, Tanta coisa que lá havia! Ele eram agulhas e linhas, Nastros para as bainhas, Eram dedais, eram fitas, Eram flanelas e chitas, Alfinetes e botões, Eram sedas e algodões, Gregas e atoalhados, Eram rendas e bordados, Eram galões e canelas, Eram cordões e fivelas, Eram novelos, meadas, Eram lençóis, almofadas… De tudo ali havia Naquela retrosaria! E havia, atrás do balcão, O empregado e patrão Para atender as freguesas, Distribuir gentilezas E para contar histórias, Fruto das suas memórias. Ele era amola-tesouras, Ele ensinava as Senhoras A talhar suas farpelas Ele cosia entretelas… Um poço de sabedoria Naquela retrosaria Onde está desde menino. Ele é o sábio Vitorino