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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
10
Jan24

ADAGIO PARA VELHOS SONETISTAS (e não só)- Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

orquestra.png

 

ADAGIO

Para Velhos Sonetistas
e
Não Só
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes
*
1.
*
Caminhamos curvados pelas ruas

Geladas e brilhantes como espelhos,

Nós desgastados, nós que estamos velhos,

Nós cujos ossos ferem como puas...
*


Cá vamos nós, trocando sóis e luas

Por veias que azularam nos artelhos

E se multiplicaram quais coelhos

Multiplicam no solo as tocas suas...
*


Tentamos proteger-nos do contágio,

Que este Janus* vai estando rigoroso

E nós chegámos ao mais alto estágio
*


Do Inverno da Vida, o mais penoso,

Que apenas nos concede um lento "Adagio"

Em vez de um "Presto" firme e vigoroso.
*

 

Mª João Brito de Sousa

08.01.2024 - 16.47h
***

2.
*
“ Em vez dum “Presto” firme e vigoroso"

Que trouxe a juventude ao começar

Que agora vai embora sobre o mar,

Deus do ocaso, um velho langoroso
*


No começo o jardim era formoso

Com papoilas e rosas ao luar

Sol nascente e cantigas pelo ar

Agora um astro breu, velho e moroso
*


E vemos primaveras a florir

Jovens belas que passam mesmo ao lado

Com força no andar e no sorrir
*


E num banco um idoso ali sentado

Sem réstias de sonho no porvir

Como sol a deixar o povoado
*


Custódio Montes
9.1.2024
***

3.
*
"Como sol a deixar o povoado"

Nos vamos, nós também, desvanecendo,

As mãos sobre os joelhos que, mordendo,

Nos trazem mais memórias do passado
*


E enquanto os nossos dedos no teclado

Ainda produtivos vão escrevendo,

Ao som do lento Adagio iremos tendo

Um Inverno mais suave e animado
*


Nenhum de nós conhece a hora exacta,

Só sabemos que aos poucos se aproxima

Sem que possamos adiar-lhe a data
*


Mas antes que essa data nos suprima

Vamos mostrar ao frio que nos maltrata

O tanto que este Adagio nos sublima!
*


Mª João Brito de Sousa

09.01.2024 - 11.00h
***

4.
*
“O tanto que este adágio nos sublima”

E também nos ajuda a ter cuidado

Na minha terra o tempo está gelado

Fico em Braga que há neve lá em cima
*


E para que esse frio não me oprima

Fico na minha “toca” resguardado

Agasalho-me bem agasalhado

Torneio deste modo tão mau clima
*


A vida que fazia não se faz

Temos que ter cuidado, tem que ser

Sair, andar na borga satisfaz
*


Mas cria-me problemas a valer

Gostava de aventuras em rapaz

Mas agora a aventura é o bom viver
*
Custódio Montes
9.1.2024
***

5.
*
"Mas agora a aventura é o bom viver"

E bem melhor cantar as nossas vidas

Que vão longas mas nada aborrecidas,

Embora muitos não o queiram crer
*


E ao ver-nos assim, a envelhecer,

Nos julguem pela vida já vencidos...

Mas sorrimos ainda! Os tempos idos

Passaram por nós dois sempre a correr
*


Deixando pouco mais do que as memórias

Que docemente agora recordamos

Entre tristezas e pequenas glórias...
*

Somos a soma do que conquistamos:

Se houve derrotas, houve mais vitórias,

E haverá futuro, se o sonhamos!
*


Mª João Brito de Sousa

09.01.2024 - 12.15h
***

6.
*
“E haverá futuro, se o sonhamos!”

Vida é isso mesmo: é arquitectar

Visitar jardins para os vislumbrar

E não os vendo, nós imaginamos
*

Sempre em frente, parados não ficamos

Ser-se poeta é ir até ao mar

Mas se não se for, basta imaginar

Um mundo novo e belo que criamos
*


Se nos cai o cabelo e nascem papos

O que nós escrevemos tem valor

Merecemos louvor e somos guapos
*


Que tão criativos, nós temos valor

Não somos velhos, velhos são os trapos

Ser-se poeta é ter vida e amor
*

Custódio Montes
91.2024
***

7.
*

"Ser-se poeta é ter vida e amor"

Tocando até ao fim o suave Adagio

E se é inevitável o naufrágio,

Naufraguemos com arte e com fulgor
*


Que há sempre quem acabe bem pior

E venha a ser banido por sufrágio:

Alguém que trema a cada mau presságio

Em cada pedra encontra o Adamastor...
*


Não me assusta a velhice. O que me assusta

É não poder escrever, nem poetar,

E naufragar da forma mais injusta
*

Que um bom poeta possa imaginar...

É isso que me dói, que mais me custa:

Ser só vetusta não me irá calar!
*


Mª João Brito de Sousa

09.01.2024 - 15.35h
***

8.
*
“Ser só vetusta não me irá calar”

Que quem cala o que sabe é infiel

À sua natureza e ao seu papel

De dizer o que sente e de ensinar
*

Um mestre não fraqueja que parar

É pôr de lado a pena e o pincel

É não mostrar aos outros o cinzel

Com que se adorna a obra a poetar
*


O que interessa é ter o pensamento

E a mente em seu lugar e organizada

Que a obra se verá e o seu talento
*

Com enfeites e forma emalhetada

Que a arte quando existe é um portento

E a artista fica eterna e afamada
*

Custódio Montes
9.1.2024
***

9.
*

"E a artista fica eterna e afamada"

Mas não será a fama que a fascina,

E sim poder voltar a ser menina

Por um instante e por coisa de nada
*


Que às vezes basta um verso de uma quadra

Pra transportá-la, envolta em seda fina,

Aos tempos da criança cuja sina

A levaria a ir por esta estrada...
*


Mas voltemos de novo ao andamento

Do suave Adagio que nos guia os passos,

Suavíssimo e melódico, mas lento
*


A criar entre nós profundos laços,

Que toda a poesia é sentimento

E quase sempre acaba em dois abraços.
*

 

Mª João Brito de Sousa

09.01.2024 - 20.45h
***

10.
*
“E quase sempre acaba em dois abraços”

Que o poema é alegria e amizade

Estimula o carinho e a vontade

Para juntos criarem fortes laços
*


O poema preenche e ocupa espaços

Enfeita com fulgor, luz, claridade

Ornamenta os dizeres na cidade

E liga dois amores entre braços
*


O idoso imagina-se menino

As agruras transformam-se em poesia

E, com gáudio, encontra o seu destino
*

A tristeza é um mal que, por magia,

Nem sempre dura, ri, entoa um hino

E, como o adágio diz, vira alegria
*

Custódio Montes
10.1.2024
***

11.
*

"E, como o adágio diz, vira alegria"

Que estoutro Adagio tenta acompanhar,

Correndo, mas correndo devagar,

Mostrando o que lhe resta de energia...
*

Ao Presto não chegou, mas a harmonia

É tanta que parece suscitar

Um Allegro Vivace a culminar

A nossa inacabada sinfonia...
*


Seja o soneto o piano em que compomos

Este Adagio pra cordas. O violino

Virá depois contar tudo o que fomos
*


E ambos falarão sobre o destino...

Talvez nos caibam fadas, elfos, gnomos,

Ou mesmo o génio que coube a Aladino...
*


Mª João Brito de Sousa

10.01.2024 - 12.20h
***

12.
*
“Ou mesmo o génio que coube a Aladino…”

Na lâmpada e no estro musical

Em andamento era genial

Com toque em dó menor de violino
*


Suave, em andamento muito fino

Trinava o seu acorde em arraial

Dançava todo o mundo e o maioral

E também badalava ao alto o sino
*


Nessa intensa harmonia e fulgor

Ficava alegre o povo com a gesta

E dava à sinfonia mais valor
*


Ficava a gente idosa bem mais lesta

Havia muitos beijos, muito amor

E toda a aldeia andava sempre em festa
*

Custódio Montes
10.1.2024
***

13
*

"E toda a aldeia andava sempre em festa"

Sendo que nós não fomos excepção

E embora sem violino ou violão

Cantámos- e bem alto! - a nossa gesta
*


Alguns tocavam música mais lesta,

Houve até quem trouxesse acordeão:

Toda esta sinfonia era emoção

Porque este Adagio à comoção se presta
*


Soam agora as notas musicais

Das harpas melancólicas, chorosas,

Logo seguidas plo som dos metais
*


Que sopram notas tão melodiosas

Que nos fascinam e até os pardais,

Enfeitiçados, pousam sobre as rosas.
*

 

Mª João Brito de Sousa

10.01.2024 - 15.45h
***
14.
*
“Enfeitiçados, pousam sobre as rosas”

Que nós bem os ouvimos chilrear

Andamos nos jardins a passear

E vemos coisas lindas, valorosas
*


Que mesmo com passadas vagarosas

Com vista nós bem vemos ao olhar

Toda a beleza à volta a espelhar

Além de moças lindas e formosas
*


Idoso, mas ainda a espairecer

Avança, vai em frente, não construas

Altos muros ao nosso envelhecer
*


Verdade que se foram sóis e luas

Mas cantemos alegres sem dizer:

“Caminhamos curvados pelas ruas”
*


Custódio Montes
10.1.2024
***

 

 

 

 

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