ABRE OS BRAÇOS À VIDA - Reedição
ABRE OS BRAÇOS À VIDA
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Abre os braços à vida, besta louca,
Besta da forte chama que arde em mim,
Concede-me mais tempo antes do fim
Daquilo que sei ser: humana e pouca!
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Devolve-me a revolta em mar convulso,
Envolve-me em calor, em força ardente,
Firma na minha mão, neste meu pulso,
Glórias vindas dum doce antigamente!
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Hera, não mais serei, evoco Marte,
Irei buscar Neptuno às profundezas,
Já que a Terra ameaça em toda a parte,
Kafkiana de inocência e de certezas...
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Lacónico, este chão que piso e que amo,
Mede-me cada passo que não dei,
Nenhum tempo concede o que reclamo,
Oprime repetir-me o que já sei...
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Passado não me falta. Só futuro.
Qual futuro?, pergunta-me a razão
Rindo de mim no nada em que procuro
Sombras de mim na antiga dimensão...
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Tomba um entardecer como os demais,
Urdo, eu, um novo sonho amanhecendo,
Vibra ainda uma corda, um eco, uns ais
Wagnerianos, dóceis no crescendo,
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Xaroposos, venais, enjoativos...
Yolo!,* grita-me o mar ao descobrir-me,
Zero!, mostra-me a Terra, que é dos vivos.
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Maria João Brito de Sousa
04.03.2020 – 14.29h
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Yolo – sigla internacionalmente reconhecida que
significa “You only live once” – Só se vive uma vez
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Inspirado pelos poemas "Quadro Para a Vida", de Joaquim Sustelo, e no "Zelo Ansiosa Por Cada Olhar Teu", de MEA - Maria da Encarnação Alexandre.
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NOTA - Este acróstico ou abecedarius nasceu com um defeito que nem sequer vi e do qual só tomei conhecimento quando um amigo me chamou a atenção para ele : dois versos seguidos surgem iniciados pela letra D, erro que não poderá ser remediado a menos que eu apague o poema inteiro e escreva outro, coisa que optei por não fazer porque, apesar da indesejada repetição, considero que este é um bom poema no seu todo.