A QUEM SOUBER OUVIR O (EN)CANTO DOS PARDAIS
A QUEM SOUBER OUVIR
O (EN)CANTO DOS PARDAIS
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Aos mortos nos covais e aos que estão por vir,
Aos que estão a dormir, aos que nem dormem mais,
Aos troncos verticais dos cravos a florir
E a quem souber ouvir o (en)canto dos pardais,
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Aos rios nos seus caudais, aos montes por subir,
Às pedras por esculpir, aos mestres geniais,
Às infracções verbais, aos versos por escandir
E à morte que há-de vir porque somos mortais:
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O poema é uma aventura incerta e fascinante
Que ninguém nos garante, infinda descoberta,
Quase uma fresta aberta ao gesto vacilante
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Do que ainda hesitante ousar o que o liberta
Porque a fresta desperta o que o levara avante
Naquele exacto instante em que ele a dá por certa.
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Maria João Brito de Sousa
17.06.2020 - 12.31h
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Em verso alexandrino com rima duplamente encadeada