Maria João Brito de Sousa
DESOBEDIÊNCIA *
Se se me impõe escrever, mais do que respirar
e se o não consumar me faz adoecer
Sem chegar a saber se me posso curar
Da dor de me calar, do mal de não esquecer *
Venha quanto vier, tudo irei registar
Nas noites de luar, se acaso me aprouver,
Ou, se escolher puder, sob o sol de rachar
Das ondas do meu mar quando a maré crescer *
Mas se a lua nascer e o manto lunar
Vier aconchegar o meu adormecer,
Vou desobedecer só pra contrariar *
Morfeu que vem espreitar meu sono de mulher...
Hoje, Morfeu, vou ser capaz de te ensinar,
Poder-me-ás calar, mas só quando eu quiser! *
Maria João Brito de Sousa
08.06.2020- 12.26h *
(Soneto em verso alexandrino)
publicado às 11:59
Maria João Brito de Sousa
O HOMEM NÃO PENSA NO MEIO AMBIENTE *
Coroa de Sonetos
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa *
1. * O homem não pensa no meio ambiente
Anda tresloucado vive a vida a sós
Não faz como outrora, como seus avós
Que no seu conjunto era diferente *
Cuidavam dos corgos da água corrente
Que corria calma depressa ou veloz
Sem poluição até chegar à foz
Clara e cristalina a brotar da nascente *
No solo havia plantas a crescer
Nas suas entranhas lesmas, minerais
Lobos e doninhas cobras a correr *
A ecologia flores animais
O homem vivia sem os ofender
Que os actos de agora sejam tais e quais *
Custódio Montes
5.6.2023
***
2. *
"Que os actos de agora sejam tais e quais"
Mas como se agora se apela ao consumo
E se é impossível mudarmos de rumo
Porque todos qu`remos ter mais, mais e mais? *
Se nesta "aventura", sendo racionais,
Da Terra bebemos o sangue e o sumo
Esquecendo, o sistema, que vamos a prumo
Mordendo o anzol, porque somos mortais... *
No fundo, no fundo, toda esta armadilha
Nos vai enredando de uma tal maneira
Que só vamos vendo uma estrela que brilha *
E onde se acendeu uma imensa fogueira
Julgamos estar vendo uma tal maravilha
Que, cegos, marchamos pra morte certeira. *
Mª João Brito de Sousa 06.06.2023- 12.15h *** 3. *
“Que, cegos, marchamos pra morte certeira”
Sem pensar na vida no bem, no futuro
A ficar o tempo muito mais escuro
Tudo ao desnorte sem eira nem beira *
São maus os políticos pois usam viseira
Só pensam na massa sem fruto maduro
E com a ganância e o gesto impuro
Só nos seus boys pensam de toda a maneira *
O mel, as abelhas e a apicultura
Precisam do monte da serra do ar
Eles no dinheiro e só na usura *
Rebentam as serras, sem nunca pensar
No nosso futuro, sem ter água pura
Sossego, alegria e sem bem-estar *
Custódio Montes
6.6.2023 ***
4. *
"Sossego, alegria e sem bem estar"
Iremos ficar, que já se adivinha,
Seremos tratados como erva daninha
Quando a nossa terra quisermos salvar *
Unidos na causa e sem recuar
Um passo que seja dessa nossa linha
A serra, que é vida, não estará sozinha
Enfrentando os muitos que a querem esventrar *
As mais perigosas, as grandes empresas
Que nunca mediram as consequências
Daquilo que fazem, fazem-se surpresas *
Quando os bons serranos vendo inconsistências
Nos projectos feitos, se erguem quais represas
Diante da serra, gerando insurgências *
Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 16.50h ***
5. *
“Diante da serra, gerando insurgências”
Que a nossa revolta tem toda a razão
Contra o metediço que é como um ladrão
Bem acompanhado pelas “excelências” *
Que pensam no lucro e suas apetências
Maltratando o povo sem ter atenção
Toda esta ruína e poluição
E todos bem sabem as consequências *
Corja de políticos e associados
Só pensam no bolso não no ambiente
Permitem que os montes sejam esventrados *
Por aventureiros e gente indecente
E metem aos bolsos imensos trocados
Desprezam o povo e a vida da gente *
Custódio Montes
6.6.2023 ***
6. *
"Desprezam o povo e a vida da gente",
Só o lucro importa, não olham a meios
Pr`atingir os fins e nem medem receios,
Fundados embora, de quem lhes faz frente *
Para defender esse meio ambiente
Que vão destruindo por estarem alheios
À voz revoltada do povo em anseios,
Que tem voz, o povo, e não fica indif`rente! *
E a serena serra coberta de vida,
Imensa, impassível, não sonha sequer
Que possa, a ganância, sonhá-la rendida *
Esventrada, estuprada qual pobre mulher
Que ao ser atacada morresse esvaída
Num charco do lítio que dizem conter... *
Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 21.00h *** 7. *
“Num charco do lítio que dizem conter…”
Charco esse que é feito na sua lavagem
A montanha enorme fica sem imagem
E o lítio é lavado na água a correr *
Mina a céu aberto dinamite a arder
Tudo isso metido dentro da barragem
O monte e a água sempre em desvantagem
Água inquinada que é para beber *
Património agrícola que a FAO distinguiu
Para que a defesa do ecossistema
Fosse preservado e nunca se viu *
Haver responsáveis que tenham por lema
Destruir a serra e que o mundo sentiu
Que ao se fazer isso é um grande problema *
Custódio Montes
6.6.2023 *** 8. *
"Que ao se fazer isso é um grande problema"
Para o ser humano e pra todo o planeta
É um erro crasso, uma asneira completa,
Destruir, da serra, o ecossistema *
Se o lucro comanda, será esse o lema
De quem quer, da serra, fazer a colecta
E a gente da "massa", de forma incorrecta,
Irá pô-la em risco sem que a ninguém tema... *
Vós sois os que tendes de lhe resistir,
Passando a mensagem, formando barreiras,
Que unidos fareis a ganância ruir *
Livrando essa serra das bestas matreiras
Que tudo farão para, enfim, conseguir
Conspurcar as águas de aldeias inteiras. *
Mª João Brito de Sousa
06.06.2023 - 23.00h ***
9. *
“Conspurcar as águas de aldeias inteiras”
Mas não só de aldeias também de cidades
Esse é o problema. Muitas entidades
Sabem que as notícias são bem verdadeiras *
E mesmo assim dizem ser brincadeiras
Escondem do povo as promiscuidades
Que têm à volta e as cumplicidades
Nesta corrupção de todas as maneiras *
Diz-se cá na terra que lá de Lisboa
Se servem de nós e pró interior
Não mandam riqueza nem vem coisa boa *
Levam a riqueza, o que há de melhor
Quando chega o barco levam tudo à proa
Depois de deixarem o que há de pior *
Custódio Montes
6.6.2023
*** 10. *
"Depois de deixarem o que há de pior"?
Se cá por Lisboa de mau fica tanto
Já não sei se o levam lá pró vosso canto
Se o guardam por cá para pôr e dispor, *
Sempre que der jeito, de seja quem for
Que pregue a maldade vestido de santo,
Pois passa o corrupto, coberto c`o manto,
A fazer figura de grande senhor... *
Bem sei que é por cá que o poder tem assento,
Mas vós, os nortenhos, julgais-vos cordeiros?
Eu tenho a certeza a cinquenta por cento *
De que entre vós há e haverá caloteiros
E sem citar nomes, que à sorte eu não tento,
De norte a sul brotam discursos matreiros... *
Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 11.40h ***
11. *
“De norte a sul brotam discursos matreiros…”
E quem é corrupto junta-se ao falar
No norte, no centro, no sul a bradar
Com os manda chuvas, com os caloteiros *
Mas lá por Lisboa, no mando os primeiros
São os reis da máfia e do seu altar
Olham para os montes que vão assaltar
E com os autóctones, seus companheiros *
Invadem baldios, esburacam montes
Poluem a água e com ar maldoso
Retiram do solo suas limpas fontes *
Tiram a beleza ao monte formoso
Que fica sem vida, tolhem horizontes
Vai-se o património, degradam Barroso *
Custódio Montes
7.6.2023 ***
12. *
" Vai-se o património, degradam Barroso"
Que, sim, tem razão em querer defender
Por ser essa a terra que viu ao nascer,
Seu berço primeiro, chão farto e viçoso *
Que ao ficar na mira do que é poderoso
Será, tarde ou cedo, deitado a perder...
Não sei, meu amigo, que mais lhe dizer,
Nem que mais pensar desse gesto odioso *
Mas cá por Oeiras, ou melhor, Cascais
Também está em risco um pequeno pinhal
Que irão derrubar para construir mais *
E do meu pequeno pulmão florestal
Nada sobrará senão restos mortais,
Quando vitimado pelo mesmo mal... *
Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 14.30h ***
13. *
“Quando vitimado pelo mesmo mal…”
Temos que lutar todos irmãmente
Para defendermos o meio ambiente
Conservar o monte a floresta o pinhal *
Se o não fizermos temos a final
A terra queimada tudo à volta quente
Morrem as abelhas as aves a gente
E em todo o lado perigo mortal *
Vivamos à moda dos nossos avós
Mantendo as fontes e toda a beleza
Com graça aprazível à volta de nós *
Conservando o campo e a nossa devesa
Para que não fujam de modo veloz
E demos os braços pela natureza *
Custódio Montes
7.7.2023 ***
14. *
"E demos os braços pela natureza"
Que há-de ser possível salvá-la conquanto
Parar o progresso condene o meu canto
Que eu não viveria sem el`, de certeza! *
E agora lhe digo, com toda a franqueza,
Não ser o progresso que mata o encanto
Mas sim a vileza de quem pode tanto
Que só pensa em si e na sua riqueza! *
Bem certo é que o rico1) bem pouco se importa
C`o mal que provoca. Não pensa na gente,
Destrói quanto entende e só nos suporta *
Porque inda precisa do "pobre contente"
Que por quase nada lhe cuida da horta:
"O homem não pensa no meio ambiente"! *
Mª João Brito de Sousa
07.06.2023 - 17.11h ***
1) Falo, como julgo ser óbvio, do homem obscenamente rico e das grandes empresas internacionais
publicado às 22:04
Maria João Brito de Sousa
SONETO DA ASSUMPÇÃO DA MUSA
ou
PEQUENA ARTE DE CONTRADIZER FAMOSOS
ou
APOLOGIA DE UM ATREVIMENTO *
(Em genuíno verso alexandrino) *
Minha Musa rebelde embora talentosa,
Pedir-te que jamais te afastes de quem sou
É qu`rer guardar na mão uma manhã ventosa
Ou qu`rer roubar ao mar o sal que o mar salgou *
Mas se és mera invenção - segundo o Abrunhosa... -
E se só eu te sinto em mim se só não estou
Terei que te negar embora estando ansiosa
Por procurar em ti quanto de mim restou *
Ah, sim, sei que o trabalho é mais do que importante
E que sem trabalhar nada de bom se faz
Mas sem sentir-te em mim de mim fico ignorante *
E escrevo à martelada ou quedo-me incapaz
De escrever tanto quanto o fez o grande Dante
Que nunca me deu mais do que o que tu me dás! *
Mª João Brito de Sousa *
Sorrindo muito, às quinze horas do vigésimo terceiro dia do ano da graça de dois mil e vinte e três.
publicado às 11:50
Maria João Brito de Sousa
GARANTO QUE CRESCI! *
Perdidamente amei, perdidamente cri
Naquilo que perdi do tanto que encontrei
E evoco o que não sei se vi ou se não vi
Até que encontre aqui quanto aqui procurei. *
Tentando honrar a lei que não reconheci,
Jamais lhe resisti, jamais a confrontei,
Mas se pouco lhe dei, bem menos lhe pedi
E se acaso menti, a mim me castiguei. *
Amo o chão que pisei, a terra em que nasci,
A chama em que aqueci os sonhos que engendrei
E as cerdas que entrancei nas cordas que teci. *
Dos versos que escandi às telas que pintei,
Do quanto gargalhei às mágoas que engoli,
Garanto que cresci... e juro que gostei! *
Maria João Brito de Sousa
13.06.2020 – 17.39h ***
Soneto em verso alexandrino
publicado às 21:36
Maria João Brito de Sousa
Inscreva-se aqui e venha correr connosco!
publicado às 10:44
Maria João Brito de Sousa
Tela de minha autoria
A VISTA - Coroa de Sonetos * Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
1. *
A vista contempla de olhos abertos
Prossegue o caminho sem se deslocar
Ao ver bem ao longe e tudo divisar
Até adivinha amores encobertos *
Os voos das aves pelo céu libertos
A vista os alcança e ao vê-las voar
Sente a liberdade e passeia no ar
E fica contente com sonhos despertos *
Mas não vê o cego, adivinha o caminho
Sem vista indaga, sente-se sozinho
Não se vê sem ela, sem vista há cegueira *
Olhando em frente vê-se a paisagem
O amor, a beleza e tanta imagem…
Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira *
Custódio Montes
31.10.2021
***
2 *
"Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira"
Pois nem a canseira que surja ou que exista
Lhe dirá, - Desista destoutra carreira!
Já não há maneira de o parar. Se a vista *
Permite que invista, siga à dianteira,
Vá de feira em feira, resista, resista,
Que eu sigo-lhe a pista, fico à sua beira,
Não passo rasteira, só peço que assista, *
Sou quase uma artista do tempo que avança
E alcança, se alcança, uma meta qualquer
Nas coisas do ser e nas voltas da dança *
Veja à confiança pois, haja o que houver,
Filho de mulher nunca nega uma esp`rança
E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder! *
Maria João Brito de Sousa
31.10.2021 - 12.00h *** 3. *
“E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!”
Eu vejo aqui poema encadeado
Mas nisso lhe digo não sou afamado
Tal como o primeiro lhe vou responder *
Tenho a esperança de a não ofender
Não pague fiança que estou descansado
Não me deve nada meu muito obrigado
E dê a resposta como lhe aprouver *
No soneto é livre, a João é que sabe
Eu mantenho a forma que a mim não me cabe
Mandar-lhe palpites como o moldar *
Também desse modo se vê a grandeza
A forma e a graça e à volta a beleza
Ficando a coroa com outro brilhar *
Custódio Montes *
31.10.2021 ***
4. *
"Ficando a coroa com outro brilhar"
Capaz de encantar e ficando tão boa
Que quase atordoa quem venha a passar
Se acaso a olhar e ouvir como soa *
E ao vê-la a pessoa terá de parar
Pois é singular e nada em si destoa;
Do Minho a Lisboa, num vaivém sem par,
Vamos conversar até que a voz nos doa! *
Se o verso ressoa e nos corre nas veias
Em suaves colcheias mas sempre a correr,
Quem o vai deter? Estas vagas vão cheias, *
Moldem-se as areias como se entender!
Já consegui VER as antigas sereias
E então convoquei-as pra virem cá ter *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 14.00h *** 5. *
“E então convoquei-as pra virem cá ter”
Sereias poetas? Nunca tinha visto
Mas vejo agora e então não resisto
De vir ao poema para as poder ver *
A vista de facto está a prometer
Ter esta visão é bonito, insisto
Outro patamar a olhar eu conquisto
Que ao redor a vista já dança a correr *
Somos dançarinos num belo salão
Menina uma dança ? Vai ver que verão
Um par campeão com todos a olhar *
A prega da saia e os cabelos ao vento
E nós dançarinos com todo o alento
Todos com inveja deste lindo par *
Custódio Montes
31.10.2021 ***
6. *
"Todos com inveja deste lindo par"
Tentam melhorar um nadinha que seja
Que se assim se almeja, tudo irá mudar;
Dança-se a voar no canto que nos reja! *
Roda e rumoreja quem queria dançar
E fica a olhar aquele que se proteja
Da dança vareja que zumbe no ar...
Depois de acabar, chega o que a corteja; *
Chegou tarde, veja, mas não chore, não,
Que outras mais virão e, se não for embora,
Pode entrar agora que não entra em vão! *
Não tem dimensão e nasce a qualquer hora
A dança/cantora. Eis a sedução
Que desta canção se fez compositora... *
Mª João Brito de Sousa -
31.10.2021 - 16.00h ***
7. *
“Que desta canção se fez compositora…”
Compôs muito bem cada vez com mais brilho
Mas eu não componho que arranjo sarilho
Mas vou aprumar a minha voz cantora *
Treino um minuto depois meia hora
E volto à mesma sigo o mesmo trilho
Eu cantar adoro cantar é rastilho
Engrandece a alma fá-la sedutora *
Formamos um grupo, grupo de primeira
Compõe a João e eu à sua beira
Afino a voz e dou tom à canção *
Corremos as feiras e os campos em flor
Com muita alegria e cheios de amor
Que faz bem à alma e gosta o coração *
Custódio Montes
31.10.2021 *
8. *
"Que faz bem à alma e gosta o coração"
De quanta paixão possa levar-lhe a palma
Enquanto o acalma e equilibra a tensão,
Como a actuação sobre um palco de Talma *
Não me falta a alma, mas tenho a impressão
De faltar-me o chão se não rimo com calma
E aqui se me espalma o talento. A razão
É a reacção à palavra que acalma, *
E volta-se à alma que já desgatada
Pouco dança ou nada pois não se conforma
Com a fuga à norma. Retoma agastada *
A roda e... coitada, pensa na reforma...
Mas a dança amorna e já mais consolada
Esquece a falta dada, não mais se transtorna. *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 17.15h ***
9. *
“Esquece a falta dada, não mais se transtorna”
Corre sempre em frente, corre rodopia
A dançar esbelta com muita alegria
Quer no passo dado quer como se adorna *
Anda pela pista de volta a contorna
E cresce em grandeza, cresce em fantasia
O povo a olhar toda aquela magia
Num passo de dança com que ela retorna *
Se a vista parasse não podia olhar
Este rodopio dum doce bailar
Quem vê não é cego vê bem e não mal *
Vê as maravilhas duma bela dança
Olha sempre em frente, olha e não se cansa
Vê a dançarina vai ao arraial *
Custódio Montes
31.10.2021 ***
10. *
"Vê a dançarina vai ao arraial"
E nem leva a mal quando ela desafina;
Se ela desatina, porém, é normal
Tornar-se formal e esquivar-se à ladina. *
Dança ou não, menina? Quem dança afinal,
Neste virtual? A sentir não se ensina,
Mas a bailarina surge tão real
No palco ideal que esta dança domina... *
Já desce a cortina mas é cedo ainda
E a dança não finda enquanto um de nós
Tiver garra ou voz e se a voz for bem vinda *
Estamos na berlinda mas não estamos sós;
Seremos avós da canção que se alinda
Ao tornar-se infinda, suave e tão veloz? *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 19.20h ***
11. *
“Ao tornar-se infinda e suave e tão veloz?”
E a fugir tanto parece uma ave
A voar os céus ao longe sem entrave
Os sons se ouvindo em canto de alta voz *
E nessa orquestra cantando só nós
Destoando o canto como é suave
Baixamos o tom e mudamos a clave
E ninguém nos ouve cantamos a sós *
Estamos malucos com esta vaidade
Mas o sonho avança por qualquer idade
Que poeta e louco qualquer pode ser *
Tendo disso um pouco vamos avançar
Cada dança nova deve-se dançar
Andemos na roda sem nos esconder *
Custódio Montes
31.10.2921 ***
12. *
"Andemos na roda sem nos esconder"
Da chuva a bater e do vento e da poda
Que é cáustica soda que nos faz arder...
Andemos a ver, pois, se esta festa toda *
Deixa de ser moda pra quem entender
Que um` outra qualquer bem melhor se acomoda
Pra dar azo à boda sem surpreender
Quem nela estiver e quem ainda a açoda. *
Se alguém se incomoda porque as notas soam
Altas que atordoam, paciência! Amanhã
Volta o nosso afã das canções que atroam *
E estas notas voam numa dança sã
Como uma romã. E se hoje se me escoam,
Sei que me perdoam; não sou um titã... *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 21.00h ***
13. *
“Sei que me perdoam; não sou um titã...”
Nem tenho que o ser, dançarei ao meu jeito
Na rua em casa ou quando me deito
Vou dormir agora mas volta amanhã *
Vejo a dançarina como uma irmã
Discuto com ela muito me deleito
Porque é minha amiga, amiga do peito
E dança comigo com todo o afã *
Com olhos a vejo e assim me regalo
Vou calar me agora e amanhã lhe falo
Também fecho os olhos mas quero-a ver *
A dançar no baile toda enfeitada
É bom que a veja que é engraçada
Melhor tê-la à vista que ela se esconder
*
Custódio Montes
31.10.2921
***
14. *
"Melhor tê-la à vista que ela se esconder"
Sem deixar-se ver e por muito que insista,
Perdê-la na pista pra me não perder...
- Eu pude escolher. Que uma Musa me assista *
Na rota imprevista em que lanço o meu ser
De olhos inda a arder. Sendo a protagonista,
Sinto-me optimista, não me vou render;
Se Morfeu me quer, que espere ou que desista! *
Cantemos a vista qu`inda bem despertos
Estão meus olhos certos de irem num repente
Até mais à frente fazer uns acertos *
E vão, entre apertos, até onde a mente
Concede ou consente; bosques ou desertos
"A vista contempla de olhos abertos". *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 -23.00h ***
publicado às 09:07
Maria João Brito de Sousa
"Sem Título" - Tela de minha autoria
SONETO
DA
INTEMPORALIDADE *
Aqui não há passado nem futuro;
O presente é fieira que não finda
E não tem de passar por nenhum furo
Embora a agulha disso não prescinda *
E disto estou seguro, tão seguro
Quanto de não haver ninguém que cinda
A ponta que se afasta e que conjuro
Como se o tarde cedo fosse ainda... *
Onde não há princípio nem há fim
Sou tudo e não sou nada. Este ínterim
É somente ilusão. Paradoxal? *
Talvez sim, talvez não, talvez talvez,
Já não quero saber de outros porquês;
Quem mede esta meada intemporal? *
Mª João Brito de Sousa
01.11.2021 - 10.30h ***
Sonetos da Matrix
publicado às 10:12
Maria João Brito de Sousa
SONETO FANTASMA *
Da memória do signo renascido
Venho agora por trilhas de mistério
Espalhar este meu sal de deus perdido
Que em tempos sonhou ser um deus a sério. *
Se te fizer sentido, faz sentido,
Se te não faz sentido eu ser etéreo
Serei um deus em cacos destruído,
Caído, como cai qualquer império. *
Não sei bem se estou morto ou se estou vivo,
Se sou, ou não, impulso criativo
Que recusou a morte e que prossegue. *
Vigio-vos ainda, inda vos prendo
A tudo o que analiso e compreendo;
Vivo de ir assombrando o que me negue! *
Mª João Brito de Sousa - 01.11.2021 -09.30h
***
Sonetos da Matrix
publicado às 09:30
Maria João Brito de Sousa
SONETO
DO
TODO-PODEROSO MERCADO *
Venho roubar-te, ó Arte, a eternidade!
Tudo o que ousaste ser te cobro agora,
Excepto, talvez, o que de ti se evade
E depressa se evola e se evapora... *
Deixo-te uma ilusão de liberdade,
Que só essa ilusão por cá vigora;
Levo-te o leito, a casa e a cidade
E até o tempo roubo, hora por hora. *
Vesti a tua pele inacabada,
Qual terrorista, não te deixo nada
Senão o que do nada fores criando *
Na condição de te fazer saber
Que tudo o que concebas vai morrer
Às mãos do Tempo que o vai devorando. *
Maria João Brito de Sousa - 30.10.2021 - 11.00h *** Sonetos da Matrix
publicado às 09:38
Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Pr`a quê cantar a jovem Primavera
Que nos não traga, acesa, a claridade
Que emite, lá no alto, a rubra esfera
Assim que se ergue e brilha em liberdade?
De que terá servido a longa espera
Se a chuva nos roubar, pela metade,
Um céu que esconde um sol que mal tempera
Um dia que nasceu sem qualidade?
E, sob intensa chuva, a tarde fria
De que hoje vou falar, nem sei porquê,
Faz crer que o próprio verso se arrepia
Se, na estrofe final, disser que crê
Que mais depressa brilha um novo dia
Pr`a quem, no que se vai, tanto mal vê…
Maria João Brito de Sousa – 27.03.2014 – 17.37h
publicado às 19:21
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Garante-me o dorido, insone dia,
Um momento qualquer de insurreição,
Um vislumbre de clara epifania,
Um grito de revolta ou de paixão,
Mas sei que tanto faz! Tanto daria
Dizer ou desdizer… contradição
Seria querer extrair desta agonia
Labor que merecesse a criação.
Buscando, no mais fundo de quem sou,
Razão pr`a me lembrar do que restou
Dos mil versos vibrantes que criava,
Redescubro, na força que os gerou,
Um gesto pontual que se lembrou
De eclodir sob a forma de palavra.
Maria João Brito de Sousa – 06.03.2013 - 18h
IMAGEM – “The Weeping Woman”, Pablo Picasso, 1937
publicado às 17:00
Maria João Brito de Sousa
Mil protestos `spontâneos, mas sábios,
Vêm desde o mais fundo de mim
Sem que os vá “recortar” de alfarrábios,
Sem sonhar se os lerão mesmo assim…
Meus protestos são feridas gritadas
Sobre a crosta arrancada dos dias,
A correr, por aí, de mãos dadas
C`o prenúncio do fel de agonias!
Sabereis quanta gente aqui morre
Sem ter leito onde encoste a cabeça?
Cuidareis, todos vós, dos “sem nome”?
Qual de vós, “milionários”, discorre,
Sem que uma autocensura o impeça,
Sobre o mal desta impúdica fome?
Maria João Brito de Sousa – 21.11.2012 – 18.22h
Imagem retirada da net, via Google, sem registo de autor
publicado às 18:35