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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
12
Jun23

DESOBEDIÊNCIA

Maria João Brito de Sousa

MORFEU.jpg

DESOBEDIÊNCIA
*


Se se me impõe escrever, mais do que respirar

e se o não consumar me faz adoecer

Sem chegar a saber se me posso curar

Da dor de me calar, do mal de não esquecer
*


Venha quanto vier, tudo irei registar

Nas noites de luar, se acaso me aprouver,

Ou, se escolher puder, sob o sol de rachar

Das ondas do meu mar quando a maré crescer
*


Mas se a lua nascer e o manto lunar

Vier aconchegar o meu adormecer,

Vou desobedecer só pra contrariar
*


Morfeu que vem espreitar meu sono de mulher...

Hoje, Morfeu, vou ser capaz de te ensinar,

Poder-me-ás calar, mas só quando eu quiser!
*

 

Maria João Brito de Sousa

08.06.2020- 12.26h
*


(Soneto em verso alexandrino)

07
Jun23

O HOMEM NÃO PENSA NO MEIO AMBIENTE - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

O Homem não pensa no meio ambiente.jpg

O HOMEM NÃO PENSA NO MEIO AMBIENTE
*

Coroa de Sonetos

Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*
O homem não pensa no meio ambiente

Anda tresloucado vive a vida a sós

Não faz como outrora, como seus avós

Que no seu conjunto era diferente
*


Cuidavam dos corgos da água corrente

Que corria calma depressa ou veloz

Sem poluição até chegar à foz

Clara e cristalina a brotar da nascente
*

No solo havia plantas a crescer

Nas suas entranhas lesmas, minerais

Lobos e doninhas cobras a correr
*

A ecologia flores animais

O homem vivia sem os ofender

Que os actos de agora sejam tais e quais
*


Custódio Montes

5.6.2023

***

2.
*

"Que os actos de agora sejam tais e quais"

Mas como se agora se apela ao consumo

E se é impossível mudarmos de rumo

Porque todos qu`remos ter mais, mais e mais?
*


Se nesta "aventura", sendo racionais,

Da Terra bebemos o sangue e o sumo

Esquecendo, o sistema, que vamos a prumo

Mordendo o anzol, porque somos mortais...
*


No fundo, no fundo, toda esta armadilha

Nos vai enredando de uma tal maneira

Que só vamos vendo uma estrela que brilha
*


E onde se acendeu uma imensa fogueira

Julgamos estar vendo uma tal maravilha

Que, cegos, marchamos pra morte certeira.
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.06.2023- 12.15h
***
3.
*

“Que, cegos, marchamos pra morte certeira”

Sem pensar na vida no bem, no futuro

A ficar o tempo muito mais escuro

Tudo ao desnorte sem eira nem beira
*


São maus os políticos pois usam viseira

Só pensam na massa sem fruto maduro

E com a ganância e o gesto impuro

Só nos seus boys pensam de toda a maneira
*


O mel, as abelhas e a apicultura

Precisam do monte da serra do ar

Eles no dinheiro e só na usura
*


Rebentam as serras, sem nunca pensar

No nosso futuro, sem ter água pura

Sossego, alegria e sem bem-estar
*

Custódio Montes

6.6.2023
***

4.
*

"Sossego, alegria e sem bem estar"

Iremos ficar, que já se adivinha,

Seremos tratados como erva daninha

Quando a nossa terra quisermos salvar
*


Unidos na causa e sem recuar

Um passo que seja dessa nossa linha

A serra, que é vida, não estará sozinha

Enfrentando os muitos que a querem esventrar
*


As mais perigosas, as grandes empresas

Que nunca mediram as consequências

Daquilo que fazem, fazem-se surpresas
*


Quando os bons serranos vendo inconsistências

Nos projectos feitos, se erguem quais represas

Diante da serra, gerando insurgências
*


Mª João Brito de Sousa

06.06.2023 - 16.50h
***

 

5.
*

“Diante da serra, gerando insurgências”

Que a nossa revolta tem toda a razão

Contra o metediço que é como um ladrão

Bem acompanhado pelas “excelências”
*


Que pensam no lucro e suas apetências

Maltratando o povo sem ter atenção

Toda esta ruína e poluição

E todos bem sabem as consequências
*


Corja de políticos e associados

Só pensam no bolso não no ambiente

Permitem que os montes sejam esventrados
*


Por aventureiros e gente indecente

E metem aos bolsos imensos trocados

Desprezam o povo e a vida da gente
*

Custódio Montes

6.6.2023
***

6.
*

"Desprezam o povo e a vida da gente",

Só o lucro importa, não olham a meios

Pr`atingir os fins e nem medem receios,

Fundados embora, de quem lhes faz frente
*


Para defender esse meio ambiente

Que vão destruindo por estarem alheios

À voz revoltada do povo em anseios,

Que tem voz, o povo, e não fica indif`rente!
*


E a serena serra coberta de vida,

Imensa, impassível, não sonha sequer

Que possa, a ganância, sonhá-la rendida
*


Esventrada, estuprada qual pobre mulher

Que ao ser atacada morresse esvaída

Num charco do lítio que dizem conter...
*


Mª João Brito de Sousa

06.06.2023 - 21.00h
***
7.
*

“Num charco do lítio que dizem conter…”

Charco esse que é feito na sua lavagem

A montanha enorme fica sem imagem

E o lítio é lavado na água a correr
*


Mina a céu aberto dinamite a arder

Tudo isso metido dentro da barragem

O monte e a água sempre em desvantagem

Água inquinada que é para beber
*

 

Património agrícola que a FAO distinguiu

Para que a defesa do ecossistema

Fosse preservado e nunca se viu
*


Haver responsáveis que tenham por lema

Destruir a serra e que o mundo sentiu

Que ao se fazer isso é um grande problema
*

Custódio Montes

6.6.2023
***
8.
*

"Que ao se fazer isso é um grande problema"

Para o ser humano e pra todo o planeta

É um erro crasso, uma asneira completa,

Destruir, da serra, o ecossistema
*


Se o lucro comanda, será esse o lema

De quem quer, da serra, fazer a colecta

E a gente da "massa", de forma incorrecta,

Irá pô-la em risco sem que a ninguém tema...
*


Vós sois os que tendes de lhe resistir,

Passando a mensagem, formando barreiras,

Que unidos fareis a ganância ruir
*


Livrando essa serra das bestas matreiras

Que tudo farão para, enfim, conseguir

Conspurcar as águas de aldeias inteiras.
*


Mª João Brito de Sousa

06.06.2023 - 23.00h
***

9.
*

“Conspurcar as águas de aldeias inteiras”

Mas não só de aldeias também de cidades

Esse é o problema. Muitas entidades

Sabem que as notícias são bem verdadeiras
*


E mesmo assim dizem ser brincadeiras

Escondem do povo as promiscuidades

Que têm à volta e as cumplicidades

Nesta corrupção de todas as maneiras
*


Diz-se cá na terra que lá de Lisboa

Se servem de nós e pró interior

Não mandam riqueza nem vem coisa boa
*


Levam a riqueza, o que há de melhor

Quando chega o barco levam tudo à proa

Depois de deixarem o que há de pior
*

Custódio Montes

6.6.2023

***
10.
*

"Depois de deixarem o que há de pior"?

Se cá por Lisboa de mau fica tanto

Já não sei se o levam lá pró vosso canto

Se o guardam por cá para pôr e dispor,
*

 

Sempre que der jeito, de seja quem for

Que pregue a maldade vestido de santo,

Pois passa o corrupto, coberto c`o manto,

A fazer figura de grande senhor...
*


Bem sei que é por cá que o poder tem assento,

Mas vós, os nortenhos, julgais-vos cordeiros?

Eu tenho a certeza a cinquenta por cento
*


De que entre vós há e haverá caloteiros

E sem citar nomes, que à sorte eu não tento,

De norte a sul brotam discursos matreiros...
*


Mª João Brito de Sousa

07.06.2023 - 11.40h
***

11.
*

“De norte a sul brotam discursos matreiros…”

E quem é corrupto junta-se ao falar

No norte, no centro, no sul a bradar

Com os manda chuvas, com os caloteiros
*


Mas lá por Lisboa, no mando os primeiros

São os reis da máfia e do seu altar

Olham para os montes que vão assaltar

E com os autóctones, seus companheiros
*


Invadem baldios, esburacam montes

Poluem a água e com ar maldoso

Retiram do solo suas limpas fontes
*


Tiram a beleza ao monte formoso

Que fica sem vida, tolhem horizontes

Vai-se o património, degradam Barroso
*

Custódio Montes

7.6.2023
***

12.
*

" Vai-se o património, degradam Barroso"

Que, sim, tem razão em querer defender

Por ser essa a terra que viu ao nascer,

Seu berço primeiro, chão farto e viçoso
*

 

Que ao ficar na mira do que é poderoso

Será, tarde ou cedo, deitado a perder...

Não sei, meu amigo, que mais lhe dizer,

Nem que mais pensar desse gesto odioso
*

 

Mas cá por Oeiras, ou melhor, Cascais

Também está em risco um pequeno pinhal

Que irão derrubar para construir mais
*

 

E do meu pequeno pulmão florestal

Nada sobrará senão restos mortais,

Quando vitimado pelo mesmo mal...
*

 

Mª João Brito de Sousa

07.06.2023 - 14.30h
***

13.
*

“Quando vitimado pelo mesmo mal…”

Temos que lutar todos irmãmente

Para defendermos o meio ambiente

Conservar o monte a floresta o pinhal
*


Se o não fizermos temos a final

A terra queimada tudo à volta quente

Morrem as abelhas as aves a gente

E em todo o lado perigo mortal
*


Vivamos à moda dos nossos avós

Mantendo as fontes e toda a beleza

Com graça aprazível à volta de nós
*


Conservando o campo e a nossa devesa

Para que não fujam de modo veloz

E demos os braços pela natureza
*


Custódio Montes

7.7.2023
***

14.
*

"E demos os braços pela natureza"

Que há-de ser possível salvá-la conquanto

Parar o progresso condene o meu canto

Que eu não viveria sem el`, de certeza!
*


E agora lhe digo, com toda a franqueza,

Não ser o progresso que mata o encanto

Mas sim a vileza de quem pode tanto

Que só pensa em si e na sua riqueza!
*


Bem certo é que o rico1) bem pouco se importa

C`o mal que provoca. Não pensa na gente,

Destrói quanto entende e só nos suporta
*


Porque inda precisa do "pobre contente"

Que por quase nada lhe cuida da horta:

"O homem não pensa no meio ambiente"!
*

 

Mª João Brito de Sousa

07.06.2023 - 17.11h
***

 


1) Falo, como julgo ser óbvio, do homem obscenamente rico e das grandes empresas internacionais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

07
Jun23

SONETO DA ASSUMPÇÃO DA MUSA- Reedição

Maria João Brito de Sousa

A TIA - 1999 (3).jpeg

SONETO DA ASSUMPÇÃO DA MUSA

ou

PEQUENA ARTE DE CONTRADIZER FAMOSOS

ou

APOLOGIA DE UM ATREVIMENTO
*

(Em genuíno verso alexandrino)
*


Minha Musa rebelde embora talentosa,

Pedir-te que jamais te afastes de quem sou

É qu`rer guardar na mão uma manhã ventosa

Ou qu`rer roubar ao mar o sal que o mar salgou
*


Mas se és mera invenção - segundo o Abrunhosa... -

E se só eu te sinto em mim se só não estou

Terei que te negar embora estando ansiosa

Por procurar em ti quanto de mim restou
*


Ah, sim, sei que o trabalho é mais do que importante

E que sem trabalhar nada de bom se faz

Mas sem sentir-te em mim de mim fico ignorante
*

 

E escrevo à martelada ou quedo-me incapaz

De escrever tanto quanto o fez o grande Dante

Que nunca me deu mais do que o que tu me dás!
*

 

Mª João Brito de Sousa
*

Sorrindo muito, às quinze horas do vigésimo terceiro dia do ano da graça de dois mil e vinte e três.

05
Jun23

GARANTO QUE CRESCI!- Reedição

Maria João Brito de Sousa

EU e O MEU PAI - Jardim Botânico.jpg

GARANTO QUE CRESCI!
*

 

Perdidamente amei, perdidamente cri

Naquilo que perdi do tanto que encontrei

E evoco o que não sei se vi ou se não vi

Até que encontre aqui quanto aqui procurei.
*

 

Tentando honrar a lei que não reconheci,

Jamais lhe resisti, jamais a confrontei,

Mas se pouco lhe dei, bem menos lhe pedi

E se acaso menti, a mim me castiguei.
*


Amo o chão que pisei, a terra em que nasci,

A chama em que aqueci os sonhos que engendrei

E as cerdas que entrancei nas cordas que teci.
*


Dos versos que escandi às telas que pintei,

Do quanto gargalhei às mágoas que engoli,

Garanto que cresci... e juro que gostei!
*

 

Maria João Brito de Sousa

13.06.2020 – 17.39h
***

 

Soneto em verso alexandrino

03
Nov21

A VISTA - Coroa de Sonetos - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

MENINA SOL - 1999.jpeg

Tela de minha autoria

 

A VISTA - Coroa de Sonetos
*
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa


1.
*

A vista contempla de olhos abertos

Prossegue o caminho sem se deslocar

Ao ver bem ao longe e tudo divisar

Até adivinha amores encobertos
*


Os voos das aves pelo céu libertos

A vista os alcança e ao vê-las voar

Sente a liberdade e passeia no ar

E fica contente com sonhos despertos
*


Mas não vê o cego, adivinha o caminho

Sem vista indaga, sente-se sozinho

Não se vê sem ela, sem vista há cegueira
*


Olhando em frente vê-se a paisagem

O amor, a beleza e tanta imagem…

Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira
*


Custódio Montes

31.10.2021

***

2
*

"Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira"

Pois nem a canseira que surja ou que exista

Lhe dirá, - Desista destoutra carreira!

Já não há maneira de o parar. Se a vista
*


Permite que invista, siga à dianteira,

Vá de feira em feira, resista, resista,

Que eu sigo-lhe a pista, fico à sua beira,

Não passo rasteira, só peço que assista,
*


Sou quase uma artista do tempo que avança

E alcança, se alcança, uma meta qualquer

Nas coisas do ser e nas voltas da dança
*


Veja à confiança pois, haja o que houver,

Filho de mulher nunca nega uma esp`rança

E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!
*


Maria João Brito de Sousa

31.10.2021 - 12.00h
***
3.
*

“E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!”

Eu vejo aqui poema encadeado

Mas nisso lhe digo não sou afamado

Tal como o primeiro lhe vou responder
*


Tenho a esperança de a não ofender

Não pague fiança que estou descansado

Não me deve nada meu muito obrigado

E dê a resposta como lhe aprouver
*


No soneto é livre, a João é que sabe

Eu mantenho a forma que a mim não me cabe

Mandar-lhe palpites como o moldar
*


Também desse modo se vê a grandeza

A forma e a graça e à volta a beleza

Ficando a coroa com outro brilhar
*

Custódio Montes
*

31.10.2021
***


4.
*

"Ficando a coroa com outro brilhar"

Capaz de encantar e ficando tão boa

Que quase atordoa quem venha a passar

Se acaso a olhar e ouvir como soa
*


E ao vê-la a pessoa terá de parar

Pois é singular e nada em si destoa;

Do Minho a Lisboa, num vaivém sem par,

Vamos conversar até que a voz nos doa!
*


Se o verso ressoa e nos corre nas veias

Em suaves colcheias mas sempre a correr,

Quem o vai deter? Estas vagas vão cheias,
*


Moldem-se as areias como se entender!

Já consegui VER as antigas sereias

E então convoquei-as pra virem cá ter
*


Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 - 14.00h
***
5.
*

“E então convoquei-as pra virem cá ter”

Sereias poetas? Nunca tinha visto

Mas vejo agora e então não resisto

De vir ao poema para as poder ver
*

A vista de facto está a prometer

Ter esta visão é bonito, insisto

Outro patamar a olhar eu conquisto

Que ao redor a vista já dança a correr
*


Somos dançarinos num belo salão

Menina uma dança ? Vai ver que verão

Um par campeão com todos a olhar
*


A prega da saia e os cabelos ao vento

E nós dançarinos com todo o alento

Todos com inveja deste lindo par
*

Custódio Montes

31.10.2021
***

6.
*

"Todos com inveja deste lindo par"

Tentam melhorar um nadinha que seja

Que se assim se almeja, tudo irá mudar;

Dança-se a voar no canto que nos reja!
*


Roda e rumoreja quem queria dançar

E fica a olhar aquele que se proteja

Da dança vareja que zumbe no ar...

Depois de acabar, chega o que a corteja;
*


Chegou tarde, veja, mas não chore, não,

Que outras mais virão e, se não for embora,

Pode entrar agora que não entra em vão!
*


Não tem dimensão e nasce a qualquer hora

A dança/cantora. Eis a sedução

Que desta canção se fez compositora...
*


Mª João Brito de Sousa -

31.10.2021 - 16.00h
***

7.
*

“Que desta canção se fez compositora…”

Compôs muito bem cada vez com mais brilho

Mas eu não componho que arranjo sarilho

Mas vou aprumar a minha voz cantora
*


Treino um minuto depois meia hora

E volto à mesma sigo o mesmo trilho

Eu cantar adoro cantar é rastilho

Engrandece a alma fá-la sedutora
*


Formamos um grupo, grupo de primeira

Compõe a João e eu à sua beira

Afino a voz e dou tom à canção
*


Corremos as feiras e os campos em flor

Com muita alegria e cheios de amor

Que faz bem à alma e gosta o coração
*

Custódio Montes

31.10.2021
*

8.
*

"Que faz bem à alma e gosta o coração"

De quanta paixão possa levar-lhe a palma

Enquanto o acalma e equilibra a tensão,

Como a actuação sobre um palco de Talma
*


Não me falta a alma, mas tenho a impressão

De faltar-me o chão se não rimo com calma

E aqui se me espalma o talento. A razão

É a reacção à palavra que acalma,
*


E volta-se à alma que já desgatada

Pouco dança ou nada pois não se conforma

Com a fuga à norma. Retoma agastada
*


A roda e... coitada, pensa na reforma...

Mas a dança amorna e já mais consolada

Esquece a falta dada, não mais se transtorna.
*


Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 - 17.15h
***

9.
*

“Esquece a falta dada, não mais se transtorna”

Corre sempre em frente, corre rodopia

A dançar esbelta com muita alegria

Quer no passo dado quer como se adorna
*


Anda pela pista de volta a contorna

E cresce em grandeza, cresce em fantasia

O povo a olhar toda aquela magia

Num passo de dança com que ela retorna
*


Se a vista parasse não podia olhar

Este rodopio dum doce bailar

Quem vê não é cego vê bem e não mal
*


Vê as maravilhas duma bela dança

Olha sempre em frente, olha e não se cansa

Vê a dançarina vai ao arraial
*

Custódio Montes

31.10.2021
***

10.
*

"Vê a dançarina vai ao arraial"

E nem leva a mal quando ela desafina;

Se ela desatina, porém, é normal

Tornar-se formal e esquivar-se à ladina.
*


Dança ou não, menina? Quem dança afinal,

Neste virtual? A sentir não se ensina,

Mas a bailarina surge tão real

No palco ideal que esta dança domina...
*


Já desce a cortina mas é cedo ainda

E a dança não finda enquanto um de nós

Tiver garra ou voz e se a voz for bem vinda
*


Estamos na berlinda mas não estamos sós;

Seremos avós da canção que se alinda

Ao tornar-se infinda, suave e tão veloz?
*


Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 - 19.20h
***

11.
*

“Ao tornar-se infinda e suave e tão veloz?”

E a fugir tanto parece uma ave

A voar os céus ao longe sem entrave

Os sons se ouvindo em canto de alta voz
*


E nessa orquestra cantando só nós

Destoando o canto como é suave

Baixamos o tom e mudamos a clave

E ninguém nos ouve cantamos a sós
*


Estamos malucos com esta vaidade

Mas o sonho avança por qualquer idade

Que poeta e louco qualquer pode ser
*


Tendo disso um pouco vamos avançar

Cada dança nova deve-se dançar

Andemos na roda sem nos esconder
*

Custódio Montes

31.10.2921
***

12.
*

"Andemos na roda sem nos esconder"

Da chuva a bater e do vento e da poda

Que é cáustica soda que nos faz arder...

Andemos a ver, pois, se esta festa toda
*


Deixa de ser moda pra quem entender

Que um` outra qualquer bem melhor se acomoda

Pra dar azo à boda sem surpreender

Quem nela estiver e quem ainda a açoda.
*


Se alguém se incomoda porque as notas soam

Altas que atordoam, paciência! Amanhã

Volta o nosso afã das canções que atroam
*


E estas notas voam numa dança sã

Como uma romã. E se hoje se me escoam,

Sei que me perdoam; não sou um titã...
*


Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 - 21.00h
***

13.
*

“Sei que me perdoam; não sou um titã...”

Nem tenho que o ser, dançarei ao meu jeito

Na rua em casa ou quando me deito

Vou dormir agora mas volta amanhã
*

Vejo a dançarina como uma irmã

Discuto com ela muito me deleito

Porque é minha amiga, amiga do peito

E dança comigo com todo o afã
*

Com olhos a vejo e assim me regalo

Vou calar me agora e amanhã lhe falo

Também fecho os olhos mas quero-a ver
*

A dançar no baile toda enfeitada

É bom que a veja que é engraçada

Melhor tê-la à vista que ela se esconder

*

Custódio Montes

31.10.2921

***

14.
*

"Melhor tê-la à vista que ela se esconder"

Sem deixar-se ver e por muito que insista,

Perdê-la na pista pra me não perder...

- Eu pude escolher. Que uma Musa me assista
*

 

Na rota imprevista em que lanço o meu ser

De olhos inda a arder. Sendo a protagonista,

Sinto-me optimista, não me vou render;

Se Morfeu me quer, que espere ou que desista!
*


Cantemos a vista qu`inda bem despertos

Estão meus olhos certos de irem num repente

Até mais à frente fazer uns acertos
*


E vão, entre apertos, até onde a mente

Concede ou consente; bosques ou desertos

"A vista contempla de olhos abertos".
*

 

Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 -23.00h
***

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

02
Nov21

SONETO DA INTEMPORALIDADE

Maria João Brito de Sousa

IA 2.jpeg

"Sem Título" - Tela de minha autoria

SONETO

DA

INTEMPORALIDADE
*

 

Aqui não há passado nem futuro;

O presente é fieira que não finda

E não tem de passar por nenhum furo

Embora a agulha disso não prescinda
*


E disto estou seguro, tão seguro

Quanto de não haver ninguém que cinda

A ponta que se afasta e que conjuro

Como se o tarde cedo fosse ainda...
*


Onde não há princípio nem há fim

Sou tudo e não sou nada. Este ínterim

É somente ilusão. Paradoxal?
*


Talvez sim, talvez não, talvez talvez,

Já não quero saber de outros porquês;

Quem mede esta meada intemporal?
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.11.2021 - 10.30h
***

Sonetos da Matrix

 

01
Nov21

SONETO FANTASMA

Maria João Brito de Sousa

soneto fantasma.jpg

SONETO FANTASMA
*


Da memória do signo renascido

Venho agora por trilhas de mistério

Espalhar este meu sal de deus perdido

Que em tempos sonhou ser um deus a sério.
*


Se te fizer sentido, faz sentido,

Se te não faz sentido eu ser etéreo

Serei um deus em cacos destruído,

Caído, como cai qualquer império.
*


Não sei bem se estou morto ou se estou vivo,

Se sou, ou não, impulso criativo

Que recusou a morte e que prossegue.
*


Vigio-vos ainda, inda vos prendo

A tudo o que analiso e compreendo;

Vivo de ir assombrando o que me negue!
*

 

Mª João Brito de Sousa - 01.11.2021 -09.30h

***

 

Sonetos da Matrix

 

 

 

31
Out21

SONETO DO TODO-PODEROSO MERCADO

Maria João Brito de Sousa

SONETO DO GRANDE MERCADO.jpg

SONETO

DO

TODO-PODEROSO MERCADO
*


Venho roubar-te, ó Arte, a eternidade!

Tudo o que ousaste ser te cobro agora,

Excepto, talvez, o que de ti se evade

E depressa se evola e se evapora...
*


Deixo-te uma ilusão de liberdade,

Que só essa ilusão por cá vigora;

Levo-te o leito, a casa e a cidade

E até o tempo roubo, hora por hora.
*


Vesti a tua pele inacabada,

Qual terrorista, não te deixo nada

Senão o que do nada fores criando
*


Na condição de te fazer saber

Que tudo o que concebas vai morrer

Às mãos do Tempo que o vai devorando.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 30.10.2021 - 11.00h
***
Sonetos da Matrix

28
Mar14

SONETO A UMA LONGA, FRIA, FEIA E ESCURA TARDE DE CHUVA - Alegoria... e não só.

Maria João Brito de Sousa

 

 

(Em decassílabo heróico)

 

 

 

 

 

Pr`a quê cantar a jovem Primavera

 

Que nos não traga, acesa, a claridade

 

Que emite, lá no alto, a rubra esfera

 

Assim que se ergue e brilha em liberdade?

 

 

 

De que terá servido a longa espera

 

Se a chuva nos roubar, pela metade,

 

Um céu que esconde um sol que mal tempera

 

Um dia que nasceu sem qualidade?

 

 

 

E, sob intensa chuva, a tarde fria

 

De que hoje vou falar, nem sei porquê,

 

Faz crer que o próprio verso se arrepia

 

 

 

Se, na estrofe final, disser que crê

 

Que mais depressa brilha um novo dia

 

Pr`a quem, no que se vai, tanto mal vê…

 

 

 

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 27.03.2014 – 17.37h

18
Mar13

GESTO PONTUAL

Maria João Brito de Sousa

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

Garante-me o dorido, insone dia,

Um momento qualquer de insurreição,

Um vislumbre de clara epifania,

Um grito de revolta ou de paixão,

 

Mas sei que tanto faz! Tanto daria

Dizer ou desdizer… contradição

Seria querer extrair desta agonia

Labor que merecesse a criação.

 

Buscando, no mais fundo de quem sou,

Razão pr`a me lembrar do que restou

Dos mil versos vibrantes que criava,

 

Redescubro, na força que os gerou,

Um gesto pontual que se lembrou

De eclodir sob a forma de palavra.

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 06.03.2013 - 18h

 

 

 

IMAGEM – “The Weeping Woman”, Pablo Picasso, 1937

 

21
Nov12

MAIS UM PROTESTO - Soneto de nove sílabas métricas

Maria João Brito de Sousa

Mil protestos `spontâneos, mas sábios,

Vêm desde o mais fundo de mim

Sem que os vá “recortar” de alfarrábios,

Sem sonhar se os lerão mesmo assim…

 

Meus protestos são feridas gritadas

Sobre a crosta arrancada dos dias,

A correr, por aí, de mãos dadas

C`o prenúncio do fel de agonias!

 

Sabereis quanta gente aqui morre

Sem ter leito onde encoste a cabeça?

Cuidareis, todos vós, dos “sem nome”?

 

Qual de vós, “milionários”, discorre,

Sem que uma autocensura o impeça,

Sobre o mal desta impúdica fome?

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 21.11.2012 – 18.22h

 

 

 

Imagem retirada da net, via Google, sem registo de autor

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