CESSE TUDO O QUE A ANTIGA MUSA CANTA!
Outro valor mais alto se levanta...
Lamento muito, mas não poderei proceder hoje à reformulação da estrofe final da minha coroa de sonetos. O "valor" que podem ver no topo do post tem prioridade em relação a uma coroa de sonetos...
mesmo que eu partisse do princípio que seria a minha "coroa de glória".
Chama-se Spirit, tem cerca de 5 ou 6 meses e pertence ao sexo masculino da família dos felinos urbanos.
- O que está o Spirit a fazer em casa da Poeta?Perguntarão vocês, muito pertinentemente.
Pois nem eu mesma sei explicar o que está um jovem felino amarelo a fazer, fechado na minha casa de banho... posso fazer-vos a narrativa do estranhíssimo evento, mas vocês, mais uma vez, não me acreditarão... fá-la-ei, de qualquer modo.
Fui, esta tarde, à farmácia Buscar (a crédito, claro...)
Bactrim para a Lupa que começou agora a apresentar melhorias no seu estado e à vinda, sentei-me um pouco com as minhas duas amigas na esplanada do café.
Desta vez não houve muitas gargalhadas. Uma delas vai ter um casamento na família e as conversas acabaram por centrar-se nas "toilettes", o que para mim é uma tremenda chatice (desculpem-me o português vernáculo...).
Quando, já noite, nos preparávamos para recolher aos respectivos lares e já estavam feitas as continhas dos "garotos" (com muuuuitas moedinhas pretas...), eis que esta vossa humilde amiga sente, subitamente, uma coisa fofa, ronronante e peluda a saltar-lhe para o colo. A vossa amiga poeta é forte, mas ficou sem pinga de sangue.
Primeiro fiquei desconcertada, alheei-me da dura realidade, imaginei que estava a ter uma alucinação a 3D. Depois o ronron começou a fazer-se acompanhar por turras e outras evidentes manifestações de carinho. Estava (mesmo) um gato ao meu colo!
Olhei implorativamente para cada uma das minhas amigas e deparei-me com duas estranhas boquiabertas. Olhei para o céu. Garanto que me zanguei com Deus. Pronunciei em voz bem alta:
- Ó Deus, isto é demais! Isto não se faz a uma poeta doente e mais pobre do que nunca!
Depois caí em mim. Elas continuavam de boca aberta e os outros clientes da esplanada imitavam-nas, provavelmente devido à estranha invocação que lancei para o céu estrelado.
O facto de estar um gato sentado no meu colo tornava-se mais real a cada momento que passava.
Tanta gente naquela esplanada e o bicho viera direitinho ter comigo! Comigo, que partilho um T1 com dois cães, cinco gatos e seis pombos e que acabo de deixar os meus últimos 55 cêntimos do mês
em cima da mesa do café.
Volto a olhar as minhas duas amigas que se levantam ainda boquiabertas. Uma fica muda. A outra ainda aventa:
- Leve-o para casa e depois solte-o lá para as duas ou três da manhã. A essa hora já não há cães nas ruas...
Eriço-me por ele. Protesto. Garanto que nesta rua sempre houve cães a qualquer hora (eu que o diga por experiência das madrugadas em que vou passear a Lupa...).
Compreendo que nenhuma delas irá acolher aquele gato que escolheu o meu colo. Por razões que bem conheço e não me interessa aqui ventilar.
Levanto-me e tomo lentamente o caminho de casa. Spirit segue-me como um cão. Entro no elevador. Spirit entra também. Isto não é normal!Lidei com dezenas de gatos e nunca encontrei nenhum que entrasse confiantemente num elevador. É tudo completamente surreal. Tudo... até abrir a porta e o Kico e a Lupa virem a correr ter comigo. Aí é que o Spirit mostrou ser um gato de carne e osso! Houve rugidos, sopradelas e unhadas. Até a E.T. apanhou por tabela ... é por isso que eu tenho, neste momento, um gato amarelo e muito jovem chamado Spirit na minha casa de banho. E é por isso que a coroa de sonetos vai ter de esperar. O Spirit não pode ficar indefinidamente na minha casa de banho e precisa de uma casa para viver.
Se algum de vocês conhecer alguém que queira partilhar o seu espaço com um gato amarelo, macho, meigo, de cerca de seis meses de idade e que tem a "carinha chapada" do Lion King, enviem-me, por favor, um email para m.joao-bsousa@sapo.pt ou, se a internet for cortada e não receberem resposta, podem telefonar para o número de telemóvel do perfil. O nome nasceu deste estranhíssimo encontro que acabo de vos descrever. E podem acreditar que tudo isto é a mais pura verdade. Antes não fosse, meus amigos. Antes não fosse.