MUNDO, PEQUENO MUNDO... (I e II)
I
... e que me importa a mim perder-me em vida
Se à morte irei legar meu estranho encanto?
Já nada mais me importa e, no entanto,
Vou adiando a hora da partida...
... e que me importa a mim morrer agora
Se, depois, tanto fez muito viver?
Pouco ou nada me importa! Eu quero é SER
Enquanto não chegar a minha hora...
Patéticos, alguns, `inda acreditam
Que tempo é quantidade e não hesitam
Em procurar na carne o imortal...
Não sabem que de nós só fica o traço
Porque o mundo é pequeno e não tem espaço
Para, de nós, guardar quanto é real...
II
Ó mundo, o que te impede de chorar?
Que estranha submissão te cala o pranto
E te condena, assim, ao desencanto
Desse grito que tentas silenciar?
Ó mundo, se amanhã eu acordar
E não estiver quebrado o mudo encanto,
Hei-de gritar por ti! Gritarei tanto
Que medo algum me há-de fazer calar!
Ó meu pequeno mundo maltratado
No silêncio a que foste condenado
Por alguma razão que desconheço!
Ó meu pequeno mundo estrangulado,
O teu imenso grito sufocado
É tudo quanto, à vida, agora peço...
Imagem retirada da Internet